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Opositores do governo vão às ruas neste domingo (12) para protestar contra o presidente Jair Bolsonaro e pedir seu impeachment. As manifestações estão sendo convocadas para várias capitais por organizações da direita não alinhada com Bolsonaro, tais como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Livres. Também haverá a participação de lideranças do centro e da esquerda, além de personalidades de fora da política. Segundo os organizadores das manifestações, o recuo de Bolsonaro na crise entre os poderes não vai esfriar os atos tampouco mudar a agenda dos protestos.
“Todos os espectros políticos estão sendo convidados a participar”, diz à Gazeta do Povo o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), integrante e uma das principais lideranças do MBL. Segundo Kataguiri, já está confirmada a presença, por exemplo, dos presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), da senadora Simone Tebet (MDB-MS), do deputado federal Orlando Silva (PCdoB), do cantor Tico Santa Cruz, entre outros.
Para reunir políticos de diferentes ideologias, os organizadores apostam em uma pauta única: o afastamento de Bolsonaro da Presidência. Outras questões, principalmente as que envolvam as eleições de 2022, serão deixadas para outro momento.
“Nosso objetivo é formar uma frente ampla para nos posicionarmos contra as falas antidemocráticas do presidente. A pauta de 2022 a gente vê depois, não é o momento”, afirma o diretor-executivo do Livres, Magno Karl. “Precisamos agir antes, para garantirmos a continuidade democrática até 2022.”
Declarações de Bolsonaro contribuíram para aumentar a adesão
As declarações do presidente Jair Bolsonaro a seus apoiadores nas manifestações de 7 de setembro – especialmente a de que ele não obedeceria decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) – contribuíram para que políticos de centro e de esquerda aderissem às manifestações organizadas pela direita que faz oposição ao governo.
Na quarta-feira (8), o PSDB de São Paulo informou que passaria a apoiar os protestos do dia 12. O presidente estadual do partido, Marco Vinholi, disse que "as falas de Bolsonaro romperam a última barreira da paciência de todos nós". No mesmo dia, a executiva nacional do partido anunciou que formalmente passsará a ser uma sigla de oposição ao governo Bolsonaro.
O PDT, por sua vez, declarou apoio aos atos do dia 12, dizendo ser "uma reação do campo democrático à escalada golpista do bolsonarismo". Seguindo a mesma retórica dos organizadores dos atos, o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi, afirmou que "a disputa eleitoral de 2022 fica para depois".
O presidenciável Ciro Gomes, do PDT, confirmou presença na manifestação deste domingo em São Paulo. "Irei à manifestação do dia 12 na Avenida Paulista e sempre tentarei ir a outras manifestações que forem convocadas contra Bolsonaro. Seja qual for o sacrifício e risco que isso represente, há algo maior que tudo: o futuro do Brasil e da nossa democracia", tuitou na quinta-feira (9).
4 centrais sindicais confirmam que vão aos protestos contra Bolsonaro; PT e CUT não
Presidentes de quatro centrais sindicais – Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Nova Central Sindical de Trabalhadores – confirmaram, por meio de uma carta, apoio aos protestos de 12 de setembro. A Central de Trabalhadores Brasileiros (CTB) disse ao site Poder 360 que também vai convocar para as manifestações pelo impeachment de Bolsonaro.
Contudo, alguns movimentos sociais que organizaram os protestos contra Bolsonaro no dia 7 sinalizaram que não estarão presentes, já que os atos foram convocados há bastante tempo e com o mote “nem Lula, nem Bolsonaro”. “Não estamos dispostos a assumir um papel de coadjuvante”, disse à Gazeta do Povo Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Sociais e integrante da Campanha Fora Bolsonaro – ligados ao PT.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), também ligada ao PT, não participará. Em uma nota no seu site, a CUT esclareceu que não convocará seus seguidores para os atos por considerar que os movimentos de direita que estão organizando as manifestações "contribuíram para o golpe de 2016" – referência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O PT, embora tenha dito que incentiva todos os atos em defesa do impeachment, não convocará seus simpatizantes e filiados para os protestos. A presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, disse nesta quarta-feira (8) que o objetivo do partido será “construir um grande ato nacional unificado com os que defendem a democracia”, mas não mencionou o protesto do dia 12.
Na sexta-feira (10), o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), disse que vai aderir aos protestos e pediu que o PT também se junte à mobilização pelo impeachment. "Já fui atacado pelo MBL e estarei na Paulista dia 12. Para defender o direito deles de me atacarem democraticamente. Apelo aos partidos de esquerda, em especial ao PT, que unifique o ato. Democracia, vacina, emprego e comida não é da esquerda nem da direita, é da humanidade", tuitou Ramos.
O Psol é outro partido de esquerda que não participará da mobilização deste domingo. Segundo a revista Carta Capital, o presidente nacional da sigla, Juliano Medeiros, justificou a ausência dizendo que as manifestações não "foram construídas em conjunto".
Recuo não esfria protestos contra Bolsonaro, dizem organizadores
Após a repercussão negativa em Brasília e no mercado financeiro sobre as falas de Bolsonaro durante os atos de 7 de setembro, o presidente acenou com uma trégua para diminuir as tensões com o STF. Em uma nota divulgada na tarde de quinta-feira (9), Bolsonaro disse não ter tido a intenção de agredir os poderes.
Para os organizadores dos protestos do dia 12, a sinalização de moderação expressada no comunicado é uma "ilusão". Citando outras ocasiões em que tréguas foram propostas, Magno Karl, do movimento Livres, disse que Bolsonaro "não consegue trair sua natureza" de confronto.
À Gazeta do Povo, ele afirmou que o recuo do presidente não enfraquece o pedido pelo impeachment do presidente. Segundo Karl, "Bolsonaro não tem credibilidade como voz de moderação" e "deverá retornar aos ataques às instituições e à democracia em breve". "Esperamos que [o recuo de Bolsonaro] nos traga ainda mais apoio, com essa demonstração de fraqueza, de falta de convicção e de que Bolsonaro é capaz de fazer tudo para se livrar de um pouco de pressão, inclusive rifar seus apoiadores mais fiéis."
Na avaliação do deputado Kim Kataguiri, o presidente está acuado e quer uma trégua momentânea pra se reorganizar. "Ele sabe que corre risco de ser preso junto com seus filhos. Ele pode até tentar maquiar as intenções antidemocráticas com esse recuo tático, mas a manifestação seguirá firme em defesa da democracia e pelo impeachment de Bolsonaro. Não vamos nos deixar enganar por essa cortina de fumaça", diz Kataguiri.
A expectativa dos organizadores é de que uma grande mobilização popular pressione os deputados para que seja aberto um pedido um processo de impeachment contra o presidente.
Onde vão ocorrer os protestos contra Bolsonaro
Os principais protestos contra Bolsonaro ocorrerão no Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana, às 10h; em Brasília, em frente ao Congresso, às 14h; e em São Paulo, na Avenida Paulista, às 14h.
Segundo o MBL, também estão marcados atos em pelo menos outras 12 capitais:
- Belo Horizonte - MG | 10h - Praça da Liberdade
- Curitiba - PR | 15h - Boca Maldita
- Fortaleza - CE | 15h - Praça Portugal
- Florianópolis-SC | 14h - Praça XV de Novembro
- Goiânia - GO | 15h - Em frente à Polícia Federal
- Porto Alegre - RS | 15h - Passarela da Avenida Goethe
- Vitória - ES | 9h30 - Praça do Papa
- Belém - PA | 16h - Avenida Visconde de Souza Franco (Doca)
- Goiânia - GO | 15h Em frente à Polícia Federal
- Teresina - PI | 16h - Complexo da Ponte Estaiada
- João Pessoa - PB | 15h - Largo da Gameleira
- Recife - PE | 13h - Marco Zero