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Estratégias do Centrão

PSD aposta em apoio ao governo e União Brasil em distanciamento de Lula por protagonismo em 2026

Gilberto Kassab
Presidente do PSD, Gilberto Kassab, prepara legenda para servir ao projeto de reeleição de Lula em 2026 ou garantir governabilidade a qualquer presidente eleito. (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

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Partidos do Centrão que integram a base parlamentar de Luiz Inácio Lula da Silva, União Brasil e PSD se movimentam para ganhar musculatura em 2026, estando ou não juntos com o atual governo. Enquanto o União Brasil cria as condições para se afastar do presidente e seguir caminho próprio na eleição presidencial e impulsiona a estratégia para conquistar o comando das duas Casas do Congresso em 2025, o PSD segue rumo paralelo, se cacifando para se tornar a principal linha auxiliar do petista numa eventual reeleição dele.

Sob nova direção, o União Brasil destituiu Luciano Bivar para implementar um plano que pode culminar no lançamento da candidatura do governador goiano Ronaldo Caiado à Presidência. Para ampliar a sua independência do Planalto, a legenda que tem nominalmente dois ministros na Esplanada e agora está sob a batuta de Antônio Rueda, busca uma fatia maior dos fundos partidário e eleitoral por meio da criação eventual de uma federação com 149 deputados, a surgir com o PP e o Republicanos.

Fundado e guiado por Gilberto Kassab, o PSD, por sua vez, investe pesado na conquista de novas prefeituras e engatilha candidatos às presidências da Câmara e do Senado, para o caso de eventual fracasso de acordos para eleger indicados dos atuais presidentes.

A corrida para eleger os sucessores dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no começo de fevereiro de 2025, já mobiliza os líderes partidários, dedicados à costura de alianças estratégicas. Na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), apoiado por Lira, emerge como favorito. Mas ele enfrenta resistência do PT, devido à rivalidade com o seu partido na Bahia. Além da questão regional, há a preocupação dos petistas sobre a concentração de poder nas mãos do União Brasil. Por isso, há a chance de Antônio Brito (PSD-BA) obter apoio, pois seu diretório estadual mantém parceria com o PT baiano. Na Câmara, o PSD integra o segundo maior bloco em número de votos (143).

No Senado, Eliziane Gama (PSD-MA) reiterou mês passado sua intenção de concorrer à sucessão do correligionário Rodrigo Pacheco. Detentor da maior bancada de senadores (15), o PSD precisaria, primeiramente, acolher unido o seu nome. Os que já endossam a candidatura de Eliziane buscam legitimá-la com o respaldo de Lula, mostrando alinhamento em diversas frentes, tal qual evidenciado na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, na qual Eliziane desempenhou o papel de relatora. Um gesto curioso neste contexto ocorreu em 20 de fevereiro, quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) confrontou duramente em plenário o pedido de Pacheco por um pedido de desculpas por ter associado a operação militar israelense em Gaza ao Holocausto.

Pacheco, aliado do judeu Davi Alcolumbre e próximo ao presidente da República, está consolidando a parceria estratégica do PT com o PSD mineiro para as eleições de 2024 e de 2026. Essa aliança prevê o apoio à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, no pleito deste ano, e a preparação do terreno para a candidatura do presidente do Senado ao governo de Minas Gerais nas próximas eleições gerais, armando o palanque para Lula no Estado.

No Rio, Lula também já deu provas de que está empenhado na reeleição de Eduardo Paes (PSD), que poderá ter um vice do PT. Outra estrela do PSD, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, poderá deixar o partido para embarcar na plataforma presidencial com o Republicanos, acompanhando a rejeição de Bolsonaro a alianças do PL com “o PSD de Gilberto Kassab”, em razão da proximidade dele com Lula.

No dia seguinte ao ato político do domingo, 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Kassab (PSD), que é secretário de Governo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ouviu um apelo do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), no Palácio do Planalto, para que o PSD apoie Lula em possível campanha para a reeleição. O cacique partidário preferiu não se posicionar. O político veterano afirmou no fim do ano passado que Lula só não será reeleito se “errar muito”, o que considera “muito difícil” se considerar a longa experiência do petista no jogo eleitoral. Em 2022, Kassab chegou a ensaiar uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto de Rodrigo Pacheco, a quem trouxe do União Brasil com esse propósito, mas o plano não vingou diante da forte polarização política e o partido acabou ficando neutro no primeiro turno.

Superação de racha interno dá novo impulso ao União Brasil

A última vez que um partido dominou ambas as Casas foi entre 2017 e 2019, quando o DEM estava no comando, partido que deu origem a tanto PSD quanto União Brasil, à época representado por Alcolumbre e Rodrigo Maia (RJ). Além do DEM, que se fundiu ao PSL para dar origem ao União Brasil, só o MDB e o PT conseguiram tal feito antes. A briga pelo comando do União expôs o racha na legenda criada há apenas dois anos, levando à derrubada de Bivar numa tumultuada convenção nacional, no último dia 29. Rueda tem apoio de Caiado e do ex-prefeito de Salvador ACM Neto.

O deputado federal Antônio Carlos Nicoletti (União -RR) afirmou ao programa Assunto Capital, da Gazeta do Povo, na noite de terça-feira (5) que 80% dos integrantes do União Brasil são de direita e conservadores. Mas Lula tem usado a estratégia de cortejar grandes partidos, como o União Brasil, o PSD e o Republicanos com cargos e verbas para conseguir apoio ao governo e muitos cedem à política de "toma lá, dá cá", apoiando Lula em suas pautas. Veja a íntegra do programa aqui.

Superada essa fase, avançam as articulações que envolvem lideranças de PP, União Brasil e do Republicanos para criar nas próximas semanas uma federação de direita, que pode ser a principal força eleitoral em 2026. Se fechado, o acordo prevê a união das legendas pelos próximos quatro anos. Ao contrário da coligação, a federação obriga os partidos ficarem juntos por ao menos duas eleições.

PP, União Brasil e Republicanos têm 17 senadores e seus direitos no fundo eleitoral passam da casa de R$ 1 bilhão. Com a federação também somariam o maior tempo de propaganda no rádio e na TV. Essa é a plataforma visada para servir à candidatura presidencial de Caiado, caso ele consiga levar seu intento adiante. A aliança partidária ganhou força após o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), mostrar engajamento nesse projeto que vem sendo especulado desde o fim de 2022.

Não por acaso, ele esteve presente à convenção que consagrou Rueda no comando do União Brasil e se reuniu na semana passada com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), que tem dúvidas sobre o lançamento da federação em 2024. O PP também indicou ao União Brasil que poderá apoiar a candidatura de Alcolumbre à presidência do Senado como parte da orquestração da aliança, diminuindo a resistência do senador à federação. Cada vez mais consolidada, a candidatura de Alcolumbre recebeu o apoio de Lula nesta semana.

PSD quer usar predomínio em prefeituras como ativo político

Presidente do partido com mais prefeituras do Brasil (968), Gilberto Kassab usa o peso da máquina partidária do PSD para expandir influência sem se atar a nenhuma das duas figuras mais importantes do cenário polarizado da política nacional, Lula e Bolsonaro. Só em São Paulo, o PSD comanda 329 prefeituras, mais da metade do total geral e 263 a mais do que conquistou na eleição de 2020, graças ao processo agressivo de filiação de prefeitos, vindos sobretudo do PSDB. Em recentes entrevistas, o cacique partidário deixou claro que está focado em ampliar em mais 750 o total de cidades administradas pelo PSD, sobretudo no Sudeste.

Com três ministros na Esplanada e líder da articulação política de Tarcísio, Kassab é visto com desconfiança tanto pela esquerda quanto pela direita. Na capital paulista, o dirigente chegou a acenar ao pré-candidato do PSol, Guilherme Boulos, mas declarou apoio à recondução de Ricardo Nunes (MDB) à prefeitura. Em entrevista recente ao site Brazil Journal, ele sinalizou que Tarcísio e Lula devem garantir o diálogo entre direita e esquerda, vendo como natural a reeleição do governador, apoiado por Bolsonaro.

A venda de governabilidade, tida como um negócio típico do Centrão na Câmara, tem no PSD um exemplo de organização que leva esse esforço quase ao nível estatutário. Para o consultor e cientista político Paulo Kramer, o PSD exerce plenamente a sua “Doutrina Kassab”, que o coloca sempre como linha auxiliar de qualquer governo, dando a sustentação no caso de São Paulo e no Planalto, simultaneamente.

Para especialista, União Brasil e PSD terão peso especial em 2026

Segundo Daniel Contreira, cientista político da BMJ Consultoria, o União Brasil emergiu mais coeso após uma semana tumultuada em razão da troca de seu comando. Ele observa que, embora tenha havido especulações sobre um racha interno, o novo presidente eleito, Antônio Rueda, representa uma ala historicamente ligada ao antigo Democratas, que, em sua visão, sempre foi mais robusta do que o PSL de Bivar. Contreira enfatiza que este momento é crucial para o partido definir sua trajetória futura. Ele ressalta que as negociações de uma possível candidatura de Caiado à Presidência podem depender da formação de uma federação com PP e Republicanos, além do desempenho nas urnas nos pleitos municipais de 2024.

Quanto ao PSD, Contreira destaca que a continuidade do plano de Gilberto Kassab para consolidar o partido como o mais relevante em termos de prefeituras no país está evidente. Ele ressalta que Kassab está bem posicionado para alcançar os resultados desejados nas eleições municipais de outubro, transformando a legenda em um ativo valioso no cenário nacional. Essa ascensão, segundo o analista, poderá conferir ao PSD uma influência ativa nas eleições para as Mesas Diretoras do Congresso em 2025 e na disputa pela Presidência da República no ano seguinte. Essa perspectiva, segundo Contreira, solidifica a importância estratégica do partido e seu papel influente nos destinos políticos do país.

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