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Eleições 2020

Plebiscito e carta aos tucanos: o plano do PSDB para sair de cima “do muro”

José Serra, João Doria e Bruno Araújo em convenção nacional do PSDB, em Brasília. Foto: Orlando Brito/PSDB
Senador José Serra, governador de SP, João Doria, e o presidente Bruno Araújo na convenção nacional do PSDB, em Brasília. (Foto: Orlando Brito/PSDB)

O PSDB foi, sem dúvida, um dos maiores derrotados das eleições de 2018. O partido, com Geraldo Alckmin, tinha o candidato presidencial com o maior tempo de TV, a maior coligação e o respaldo de ter vencido três eleições para o governo de São Paulo. Mas a candidatura naufragou, ficando abaixo dos 5% dos votos válidos. Houve ainda diminuição no número de deputados federais eleitos e menos governos estaduais conquistados.

O começo de 2019 também não foi promissor para a legenda: apesar de algum destaque no Congresso com as relatorias da reforma da Previdência na Câmara e no Senado, o PSDB viu seu maior expoente, o governador João Doria (SP), escancarar uma espécie de "crise de identidade" por conta da incerta relação dos tucanos com o governo de Jair Bolsonaro (PSL).

O diagnóstico de analistas políticos e de grande parte dos membros do PSDB é que a falta de clareza das posições do partido – como no caso atual em relação à gestão Bolsonaro – está entre os fatores responsáveis pelo recente fracasso eleitoral. O PSDB sempre conviveu com o estereótipo de ser o partido "do muro", o que se acentuou nos últimos anos.

Para tentar reverter o quadro, o novo presidente do PSDB, Bruno Araújo, que assumiu o cargo em maio, resolveu lançar uma "Carta ao Partido" em que defende que os tucanos tomem posição em questões de cunho prático, como a cobrança de mensalidades em universidades públicas, a implantação de cotas raciais e sociais, a descriminalização de drogas leves, a redução da maioridade penal, entre outros pontos.

Araújo quer que o PSDB faça uma espécie de plebiscito entre todos os seus filiados em torno dos temas. A ideia é concluir as discussões em março do ano que vem, quando, pouco mais de seis meses antes das eleições municipais, os tucanos planejam fazer uma convenção nacional. "Queremos definir uma cara do PSDB. Formalizar qual a nossa cara e não a impressão do presidente nacional do partido, ou a impressão de uma importante ou tradicional liderança do PSDB, ou a impressão de um deputado estadual", declarou Araújo.

O presidente do PSDB disse que Doria – que informalmente já se posiciona como pré-candidato a presidente em 2022 – foi consultado a respeito da iniciativa. Mas o líder tucano evita personalizar o projeto: "falei com o conjunto de governadores, e agora a ideia vai ser posta formalmente na próxima reunião da Executiva, que é de fato quem autoriza ou não a realização do congresso". Além de Doria, o PSDB tem outros dois governadores: Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Reinaldo Azambuja, do Mato Grosso do Sul.

Muro, um "karma" reconhecido

Araújo reconhece que o PSDB falhou ao deixar de se posicionar em torno de diferentes temas. "Nós éramos um partido que tinha um certo grau de hesitação e dificuldade de posicionamentos. E nesse momento em que o país inicia um novo governo, muitos dos temas nacionais que precisam ser postos para a população precisam de uma posição clara do PSDB", declarou.

O presidente tucano faz também um diagnóstico de que o PSDB precisa "rejuvenescer" suas propostas. O partido vive uma espécie de "conflito psicológico" histórico em torno do período de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República, entre 1995 e 2002, única vez em que a legenda esteve no cargo máximo do país. Se por um lado algumas realizações do período, como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, são citadas com orgulho, por outro lado a impopularidade que FHC registrou ao fim de seu segundo mandato espantou muitos tucanos.

"Queremos fazer o PSDB levantar da carreira e ir pra rua discutir temas. A maior saída para o PSDB é voltar a ter envolvimento no debate político. E você só se envolve no debate político quando você vai discutir ideias", apontou Araújo.

Outras "consultas às bases" do PSDB ficaram no papel

A ideia de Bruno Araújo pode esbarrar em implicações práticas. O PSDB tem cerca de 1,4 milhão de filiados. É o terceiro maior partido do país em número de filiados, atrás apenas de MDB e PT. Em anos anteriores, o PSDB fez processos de recadastramento para reorganizar suas bases de filiados, mas os processos não foram bem-sucedidos.

Para tentar minimizar as dificuldades em torno do grande contingente, a ideia de Araújo é "usar a tecnologia" e também atribuir pesos diferentes aos filiados na hora das votações dos temas em debate – membros da Executiva nacional e dos diretórios terão os votos com os valores maiores do que os filiados gerais.

Além dos problemas burocráticos, o PSDB tem também um histórico de dificuldades na "consulta às bases" na hora de definir suas candidaturas presidenciais. Desde a época da corrida presidencial de 2010, quando o partido estava entre os nomes de José Serra e Aécio Neves, a ideia de realização de eleições prévias é apresentada e elogiada pela maior parte das lideranças da legenda, mas sem se efetivar.

Para 2018, o partido chegou a marcar um calendário para a disputa interna entre Alckmin e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, mas o amazonense retirou sua candidatura por entender que a concorrência não estava justa.

Quem é Bruno Araújo?

O novo presidente do PSDB é ex-deputado federal por Pernambuco e atualmente está sem mandato. Em 2018, foi candidato ao Senado, mas acabou apenas na quarta colocação. Ele foi também ministro das Cidades durante a gestão de Michel Temer. A passagem pelo ministério, inclusive, gerou um aspecto inusitado para a sua candidatura como senador – se por um lado Araújo queria mostrar seus atos como ministro, por outro não queria se relacionar com a gestão Temer, impopular em Pernambuco.

Araújo é próximo de Doria e foi escolhido como nome de consenso para a presidência do PSDB. Seus antecessores foram os dois últimos presidenciáveis do partido, Aécio Neves e Geraldo Alckmin.

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