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O PSDB anunciou nesta quarta (2) que não vai fazer parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se for convidado em meio às discussões por mais apoio na Câmara dos deputados. Segundo o partido, não vai aceitar “cargo nenhum e sob nenhum pretexto”.
O posicionamento do partido que já teve como expoentes o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador paulista Mário Covas ocorre num momento delicado para o Palácio do Planalto, que sofreu pressão ao longo do primeiro semestre para aprovar projetos de interesse do governo pela frágil base no Congresso.
Lula vem reafirmando que está em conversações com todos os partidos que não fizeram parte da “frente ampla” durante a campanha para diminuir o sufoco nas votações, e já contou com a adesão recente do PP e do Republicanos. O presidente deve se reunir com mais líderes partidários na próxima semana.
No entanto, o PSDB já se adiantou em afirmar que não vai fazer parte do “atual governo comandado pelo PT”, embora afirme que respeite Lula e que tem o “dever de ter com o atual governo uma relação institucional em defesa da população brasileira e do Brasil” (veja na íntegra).
O partido afirma que fará uma “oposição consequente” e que “reconhece que não era mais possível continuar como estávamos”. No entanto, diz o PSDB, Lula ainda não indicou “um caminho claro, seguro e sereno de futuro”.
“O atual governo do PT não tem promovido ações consistentes de reconciliação nacional, talvez porque, em sua essência, não queira, não saiba ou não consiga fazê-lo. Esta é uma das muitas divergências que temos com o PT e o que ele representa. Somos diferentes, inclusive, no jeito de fazer oposição”, diz a legenda mencionado votações que o PT foi contra no passado, como a Constituição de 1988, o Plano Real e a Lei de Responsabilidade fiscal.
Apesar das críticas, o PSDB afirma que Lula “poderá contar com o PSDB quando o melhor para o país estiver em jogo”.
“O PSDB entende o desejo de um governo querer ter nossos quadros. Realmente temos políticos e gestores públicos altamente reconhecidos por sua eficiência. Mas este desejo não irá se realizar. Somos oposição. E continuaremos sendo”, completa o partido.
Propostas para 2026
Ainda na nota em que informou o posicionamento oposicionista ao governo Lula 3, o PSDB afirmou que vai apresentar “propostas em 2026 para que a população brasileira tenha alternativa, para que os brasileiros não tenham de escolher entre o pior e o menos pior”.
O PSDB saiu menor nas eleições de 2022 na comparação com pleitos passados e registrou o pior desempenho em resultados eleitorais em 34 anos de história. Não elegeu nenhum senador ou governador em primeiro turno e viu as bancadas federais e estaduais diminuírem.
O baixo desempenho na eleição do ano passado fez o PSDB se tornar mais dependente da federação que formou com o Cidadania para cumprir a cláusula de barreira a partir do pleito de 2026, que será mais rígida. Os partidos elegeram juntos 18 deputados federais, sendo 13 tucanos – uma diminuição de 19 parlamentares na comparação com 2018.
Sem novos senadores eleitos, a bancada tucana no Senado Federal também registrou queda, de seis para quatro senadores. Nem mesmo figuras históricas do PSDB, como o ex-governador de São Paulo José Serra, o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, conseguiram se eleger em 2022.
Diminuição nos estados
Nomes como o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves e o ex-governador do Paraná Beto Richa foram eleitos deputados federais, mas com votações reduzidas em seus respectivos estados.
Em Minas, os cinco deputados federais mais votados fizeram de 185 mil a 1,4 milhão de votos, enquanto Aécio ficou em 34º lugar, com 85.341 votos, tendo sido eleito graças ao coeficiente eleitoral. No Paraná, os cinco deputados federais mais votados fizeram de 168 mil a 344 mil votos, enquanto Richa ficou em 28º lugar, com 64.868 votos, e entrou raspando graças à impugnação de outra candidatura tucana que havia obtido mais votos.
Nas disputas estaduais, o desempenho do PSDB também foi aquém do histórico. O partido elegeu 54 deputados estaduais em 2022 contra 73 parlamentares em 2018, queda de 26%.
Além disso, os tucanos não venceram nenhuma disputa de primeiro turno para governador, incluindo o estado de São Paulo, em que a legenda havia conquistado o cargo por sete pleitos consecutivos, desde 1994.
Oposição a Lula 3
Veja o que diz a nota completa do PSDB:
O PSDB não fará parte do atual governo federal comandado pelo PT, em cargo nenhum e sob nenhum pretexto. Respeitamos o presidente Lula. Ele é o presidente do Brasil, foi eleito pelos brasileiros, e temos —a executiva nacional, nossos governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores— o dever de ter com o atual governo uma relação institucional em defesa da população brasileira e do Brasil. Assim continuaremos. Sempre.
Queremos um Brasil melhor, sim. E atuaremos para isso como oposição consequente, que reconhece que não era mais possível continuar como estávamos, mas que também sabe que o país ainda não tem um caminho claro, seguro e sereno de futuro. O atual governo do PT não tem promovido ações consistentes de reconciliação nacional, talvez porque, em sua essência, não queira, não saiba ou não consiga fazê-lo. Esta é uma das muitas divergências que temos com o PT e o que ele representa.
Somos diferentes, inclusive, no jeito de fazer oposição. O PT votou contra a Constituição de 1988. O PT foi contra o Plano Real. Atacaram ferozmente a lei de responsabilidade fiscal. Fizeram campanha irresponsável pelo impeachment de Fernando Henrique por mera disputa política e eleitoral.
Nossa oposição, hoje, não é ao Brasil, e o presidente Lula poderá contar com o PSDB quando o melhor para o país estiver em jogo. Mas faremos isso do lugar que o povo brasileiro nos colocou na eleição passada: na oposição.
E vamos apresentar propostas em 2026 para que a população brasileira tenha alternativa, para que os brasileiros não tenham de escolher entre o o pior e o menos pior.
Trabalharemos para corrigir e aperfeiçoar os projetos que o governo apresentar, como foi o caso da Reforma Tributária, que só parou em pé após a atuação firme dos governadores. E não deixaremos de denunciar com afinco este governo quando for preciso, como nas estapafúrdias tentativas de se aliar a ditadores e relativizar a democracia.
O PSDB entende o desejo de um governo querer ter nossos quadros. Realmente temos políticos e gestores públicos altamente reconhecidos por sua eficiência. Mas este desejo não irá se realizar. Somos oposição. E continuaremos sendo.