Embalado pela eleição do presidente Jair Bolsonaro, o PSL conseguiu formar bancadas expressivas nas Assembleias Legislativas dos estados, além de conseguir eleger a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados. Dos três maiores colégios eleitorais no país – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – o partido só não formou a maior bancada em Minas Gerais, onde ficou em terceiro lugar.
Mas, mesmo com o bom desempenho nas urnas, a legenda ainda encontra dificuldades para se articular. Não conseguiu comandar nenhuma dessas Assembleias e oficialmente nem mesmo faz parte das bases de apoio dos três governadores.
Nesses estados, os governadores se elegeram apoiando a candidatura de Bolsonaro à Presidência. Em São Paulo, João Doria (PSDB) declarou apoio ao presidente publicamente no segundo turno das eleições. Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que estava em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, decolou depois de dizer que apoiava Bolsonaro. Isso apesar de seu partido, o Novo, ter um candidato próprio à Presidência, João Amoêdo. Já no Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) declarou apoio a Bolsonaro ainda no primeiro turno das eleições.
Apesar da expectativa de que o partido do presidente formaria as bases de governo nos três estados, isso não aconteceu até agora.
São Paulo
Em São Paulo, o PSL elegeu a maior bancada para a Assembleia, com 15 deputados estaduais. Entre os quadros eleitos pelo partido está a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Janaína foi a deputada mais votada da história do país, com mais de 2 milhões de votos.
Ela tentou disputar a presidência da Assembleia, mas só recebeu 16 votos dos 94 deputados estaduais. Além da bancada do PSL, Janaína recebeu apenas um voto de fora do partido, do deputado Arthur do Val (DEM).
O eleito para o cargo foi o deputado Cauê Macris (PSDB), que recebeu votos até de deputados do PT. O PSL, além de não ter nenhum cargo na Mesa Diretora, também não faz parte da base do governo de João Doria (PSDB) no Legislativo paulista.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o PSL tem a maior bancada da Assembleia, com 13 deputados. É mais que o dobro de parlamentares do DEM, que tem a segunda maior bancada, com seis deputados. O PSL ensaiou lançar um candidato à presidência da Assembleia, mas a ideia não prosperou por falta de articulação e rachas internos dentro da legenda.
Quem foi eleito para o cargo, através de uma chapa única, foi o deputado André Ceciliano (PT), que teve, inclusive, o apoio de aliados ao governador Wilson Witzel. Dos integrantes do PSL, apenas cinco votaram contra Ceciliano – os demais se abstiveram.
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC) criticou os deputados estaduais que se abstiveram. “Eu não sou do PSL, mas me pergunto: O que leva um deputado estadual do PSL que se elegeu graças a Jair Bolsonaro a se abster na votação da presidência da Alerj [Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro] tendo uma eleição de chapa única do PT? Qualquer um que tenha bom senso sabe a resposta. Sem novidades!”, escreveu, no Twitter, o filho do presidente.
Além disso, em um movimento para se descolar de Bolsonaro, o governador trocou a articulação entre governo e Assembleia, que estava nas mãos do secretário de Governo, Gutemberg de Paula Fonseca, que é próximo do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Quem assumiu a função foi Cleiton Rodrigues, chefe de gabinete de Witzel, que coordenou as últimas campanhas do ex-governador Anthony Garotinho (PRP).
Oficialmente, o PSL não faz nem mesmo parte da base aliada de Witzel, que é do mesmo partido.
Minas Gerais
Em Minas Gerais, o PSL conseguiu eleger seis deputados estaduais – a terceira maior bancada da Assembleia Legislativa, atrás apenas do PT (10) e do MDB e PSDB (sete cada). Durante o governo de transição, o governador Romeu Zema (Novo) chegou a contar com a legenda para sua base governista na Casa, mas isso ainda não se concretizou.
A presidência da Assembleia ficou com o deputado Agostinho Patrus (PV), em votação unânime. O PSL não tem nenhum cargo na Mesa Diretora da Casa.
Crescimento rápido e demonização da política atrapalham, dizem especialistas
Para o cientista político Leonardo Barbosa e Silva, a falta de articulação do partido já era prevista, pois a legenda cresceu muito rápido. “O PSL era um partido ainda em construção, com muita dificuldade. E eleição do Bolsonaro fez com que ele crescesse. Ele cresce rápido. Todo crescimento partidário muito rápido vai carecer de organização programática, de uma fidelidade entre seus membros, de uma capacidade de agir em bloco que o PSL não tem”, diz. “Os partidos mais tradicionais, como MDB, DEM, PT, também têm dificuldade de agir em bloco, que dirá um partido como o PSL.”
Uma explicação para outro fenômeno – o de não conseguir presidir nenhuma das principais casas legislativas nos estados – é a demonização da política, segundo o cientista político Mario Sergio Lepre. Para ele, grande parte dos eleitos na onda Bolsonaro acredita pertencer a uma “nova política” e se recusa a negociar com outros partidos.
“Ao bater na nova política, você se isola, vai ficar falando sozinho”, explica. “Uma das características essenciais de um homem público é dialogar com todo mundo”, alerta Lepre.
“Eles estão se deparando com essa realidade”, explica o cientista político. Para Lepre, é preciso assimilar que a política é a arte de sentar e negociar, de compor. “Acho que é isso que está faltando para eles. Não caiu a ficha ainda de que é fundamental fazer política, é saudável fazer política. Tem que fazer política, tem que trazer para a mesa, tem que conversar, tem que compor, tem que ceder para poder ganhar”, afirma.
Câmara dos Deputados
Na Câmara dos Deputados, a situação não é muito diferente. O partido do presidente tem sido um dos principais obstáculos ao trabalho de articulação política do governo. Os deputados não tem uma unidade de pensamento e o partido não tem uma hierarquia clara nem orientação definida.
Somente na semana passada o PSL fechou questão a favor da reforma da Previdência proposta por Bolsonaro em fevereiro. Isso depois de uma divisão interna, já que uma ala do partido defende interesses de classes militares, por exemplo. Dos 54 deputados do PSL na Câmara, só 32 compareceram a reunião da bancada para fechar questão sobre a reforma. Com a decisão, quem votar contra a proposta pode ser punido com a expulsão do partido e, com isso, com a perda do mandato.