Apesar das mágoas profundas entre deputados e senadores do PSL, um eventual retorno de Jair Bolsonaro ao partido é visto como absolutamente plausível tanto por deputados bolsonaristas quanto por congressistas que romperam com o grupo político do presidente.
A anulação do divórcio litigioso, porém, não depende apenas da boa vontade do presidente do partido, Luciano Bivar (PE), ou do próprio Bolsonaro. Outros itens entram nas negociações: o perdão aos deputados que romperam com Bivar, a retirada da futura candidatura da deputada federal Joice Hasselmann à prefeitura de São Paulo, o controle do fundo partidário e o apoio incondicional a um candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara em 2021.
Bivar já admitiu a aliados que teme uma retração do partido em 2022 se o PSL não tiver um candidato forte à Presidência da República. Além disso, deputados que romperam com Bolsonaro têm reclamado nos bastidores que perderam trânsito na Esplanada dos Ministérios e isso comprometeu acesso a recursos a serem destinados para suas bases eleitorais.
Do outro lado, o presidente da sigla quer ter garantias de que o PSL não será usado como uma espécie de backup político do presidente, caso o Aliança pelo Brasil não saia do papel a tempo de disputar as próximas eleições gerais.
Bolsonaro deixou o PSL em novembro do ano passado. Depois disso, o partido viveu um racha poucas vezes visto na história política nacional. Houve acusações mútuas de espionagem, troca de farpas nas redes sociais, vazamento de dossiês e disputas judiciais entre as duas alas do partido: a dos apoiadores de Bivar e dos apoiadores do presidente da República.
O partido suspendeu 12 dos 41 deputados da sigla e os afastou de suas atividades parlamentares na Câmara – dentre os quais, o filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PSL-SL). Além disso, o conselho de ética da sigla instaurou procedimento disciplinar para expulsar 19 parlamentares. Além disso, Eduardo Bolsonaro foi acusado pela cúpula do partido de desmontar o diretório estadual em São Paulo.
Os termos para o fim do divórcio de Bolsonaro com o PSL
Na semana passada, Bolsonaro disse em uma live que recebeu convite para integrar três partidos e que houve conversas com o PSL. “O PSL sinalizou com reconciliação", declarou o presidente.
Essa reconciliação está sendo articulada pelo vice-presidente do PSL, Antonio Rueda, e conta com apoio de alguns parlamentares, entre eles o líder do partido na Câmara, deputado Felipe Francischini (PR) e senadora Soraya Thronicke (MS), conforme apurou Gazeta do Povo com quatro pessoas envolvidas diretamente nas negociações.
Bolsonaro e Bivar já deram um aval para um acordo. Porém, outras lideranças são contra. O presidente do diretório estadual de São Paulo e 2.º vice-presidente nacional da sigla, deputado Júnior Bozzella (SP), e o senador Major Olímpio (SP) são os maiores opositores da ideia. “Nós temos um posicionamento muito claro em relação a algumas pautas que foram abandonadas pelo presidente, como a defesa da Lava Jato e a economia liberal. Agora, a volta dele, ou não, depende de outros fatores. São Paulo é contra”, afirma Bozzella.
A retirada dos processos de suspensão e expulsão dos deputados bolsonaristas é vista pelas duas alas do partido como uma clara sinalização de que Bivar aceitaria um armistício com o presidente da República. Dessa forma, esses deputados poderiam voltar a exercer funções como integrar comissões temáticas. Um exemplo é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CMPI) das Fake News que investiga notícias falsas nas redes sociais. Mas, neste aspecto, o retorno de Bolsonaro também dependeria de um pedido de desculpas tanto dos deputados bolsonaristas quanto do próprio Bolsonaro após a briga pública ocorrida no ano passado. “Há um ressentimento mútuo que precisa ser dirimido”, admite uma liderança do PSL em caráter reservado.
Um outro item que pode ajudar nas negociações é o apoio do PSL a uma eventual candidatura do deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança à prefeitura de São Paulo. Esta condicionante, porém, tem capacidade de minar de vez um possível acordo entre Bivar e Bolsonaro. A deputada Joice Hasselmann é pré-candidata à prefeitura de São Paulo e aliada de Bozzella. Hasselmann trabalha desde o ano passado para ser indicada do partido ao cargo. Tanto que chamou a presidente do Instituto Ayrton Senna Viviane Senna e o ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra para auxiliar na elaboração de seu plano de governo. Depois de romper com o presidente, Joice tornou-se uma das críticas mais ferrenhas a Bolsonaro nas redes sociais.
Prefeitura de São Paulo entra no jogo
Os aliados do presidente afirmam nos bastidores que pesquisas internas dão conta de que o deputado Luiz Philippe tem um potencial maior para ser eleito ao Palácio do Anhangabaú que Joice. Os aliados de Bivar falam justamente o contrário: que é Joice, não o Luiz Philippe, a pessoa com maior potencial eleitoral em São Paulo.
O próprio deputado já admitiu a amigos que aceitaria uma indicação para disputar a prefeitura de São Paulo. “Um primeiro aceno do Bivar [em direção a Bolsonaro] seria a concessão da legenda em São Paulo para Luiz Philippe”, admite a deputada Carla Zambelli (SP), uma das mais fiéis apoiadores do presidente.
Mais recentemente, uma terceira alternativa foi colocada à mesa para a disputa da prefeitura de São Paulo: a deputada estadual Janaina Paschoal. O nome dela estaria sendo defendido pela ala de Luciano Bivar no PSL; seria um nome intermediário entre Luiz Philippe e Joice.
Comando da Câmara e fundo partidário na negociação da volta ao PSL
Outros itens que entram na fórmula são a eleição para a presidência da Câmara e o acesso ao fundo partidário. Assessores do presidente sabem que é importante angariar o maior número de aliados para tentar anular o poder de influência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para fazer seu sucessor na disputa pela presidência da Casa. Após a divisão no PSL, deputados mais alinhados a Bivar se aproximaram de Maia. Um retorno de Bolsonaro ao PSL pode ajudar o presidente a compor uma base parlamentar suficiente para que o Planalto determine quem será o sucessor de Maia.
O acesso ao fundo partidário, que foi o fator primordial na briga entre Bolsonaro e Bivar, também é citado como eventual ponto de acordo, embora tenha importância menor no cálculo político. Os bolsonaristas têm consciência de que um reforço no caixa eleitoral para 2022 será importante para a manutenção do mandato, principalmente para aqueles com menor expressão nas redes sociais.
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