A reunião prevista para quinta-feira (1º/8) entre o presidente Jair Bolsonaro e o comandante nacional do PSL, Luciano Bivar, na qual se discutirá a possibilidade de troca do nome e da marca do partido, pegou de surpresa integrantes da legenda. A Gazeta do Povo conversou com três deputados federais do PSL – dois deles presidentes de diretórios regionais do partido – e todos relataram terem sabido do assunto apenas pela imprensa.
"O diretório do PSL no Distrito Federal não está participando deste debate", declarou a deputada federal Bia Kicis, presidente do partido em Brasília. Dirigente do PSL catarinense, o também deputado federal Fábio Schiochet disse que não foi "comunicado de nada". Parlamentar por São Paulo, a deputada Carla Zambelli relatou que soube da discussão com base em reportagens publicadas sobre o tema.
Apesar de não participarem dos debates, os deputados afirmaram ver com bons olhos uma discussão sobre a reformulação da identidade do PSL, o Partido Social Liberal.
O encontro entre Bolsonaro e Bivar foi divulgado pelo jornal "O Globo" na segunda-feira (29). A alteração no nome do PSL pode ser implantada com base em uma votação na internet, segundo a reportagem.
Além de discussões sobre a identidade do partido, a reunião deve ainda enfocar a criação de uma espécie de "código de conduta" na legenda e também meios para coibir as constantes trocas de farpas entre membros do próprio partido e entre a bancada no Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.
"S" em foco
Caso o PSL realmente mude seu nome, a deputada Bia Kicis tem uma sugestão de alteração: a remoção do "S" da sigla. A letra, hoje, significa "social" – termo que, para a parlamentar, remete à esquerda, corrente ideológica distante da adotada pelo partido do presidente da República. "O 'S' não é a nossa cara. Somos um partido conservador-liberal", disse Kicis.
Schiochet endossa a análise. "O 'S' lembra social, socialista, lembra a esquerda. E a nossa vertente é a extrema-direita", afirmou. O deputado, entretanto, é contrário à inclusão da palavra "conservador" no novo nome do partido. "Para isso, deveríamos partir de um consenso sobre o que é ser conservador, algo que não existe hoje em dia", declarou.
Carla Zambelli, por sua vez, é contra a remoção do "S". "Não acho que a expressão 'social' remeta ao socialismo. E independentemente de sermos conservadores, nós temos a preocupação de cuidar das pessoas. Excluir o 'social' pode dar a impressão oposta", apontou.
A deputada, embora não se posicione contrária à alteração no nome do PSL, minimiza os impactos positivos da medida. "Não há problemas em discutirmos o nome do PSL, mas não é o nome que faz um partido. Há outras preocupações para considerarmos", declarou.
Crise de identidade
A discussão atual sobre o nome do PSL é mais um episódio da verdadeira revolução em sua identidade que o partido vive desde o ano passado.
O PSL era mais um entre os diversos partidos nanicos do Brasil quando, em março de 2018, recebeu como filiado o então deputado federal Jair Bolsonaro, que chegou à sigla para lançar a sua candidatura presidencial. Desde então, recebeu um número expressivo de filiados e, na eleição de 2018, conquistou mais de 50 vagas na Câmara, quatro no Senado e três governos estaduais, além da Presidência da República.
Ainda antes da chegada de Bolsonaro, o partido quase viveu outra transformação por completo, quando por pouco não se tornou o braço institucional do movimento político Livres. O grupo havia conquistado diretórios estaduais do PSL e planejava o comando nacional da sigla, mas acabou deixando o partido após a chegada do Bolsonaro. O Livres alegou que a entrada do então deputado no PSL era "inteiramente incompatível com o projeto de construir no Brasil uma força partidária moderna, transparente e limpa".
Já com o governo Bolsonaro em curso, outras discussões sobre a identidade do PSL ocorreram ao longo dos últimos meses. Um dos debates foi iniciado em abril, quando o partido também falou em modificar estatuto e nome – a denominação "Partido Conservador Liberal" chegou a ser apresentada como alternativa. À época, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) criticou a ideia, e afirmou que a letra "C" que a sigla teria, no Brasil, está mais relacionada aos partidos comunistas.
E além dos debates sobre a mudança de nome, o PSL viu ainda ameaças de debandadas do presidente Bolsonaro e seu grupo de apoiadores mais próximos. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, foi citado em fevereiro como um dos integrantes da União Democrática Nacional (UDN), partido que seria recriado com a meta de retomar o legado da sigla de direita da década de 1950. A especulação não se consolidou.
Outro rumor que tampouco se efetivou foi o da criação de um novo partido que seria capitaneado por Eduardo e criado sob inspiração do norte-americano Steve Bannon, ideólogo de direita que atuou na vitória de Donald Trump em 2016.
Mudança de nome virou tendência entre as siglas
Caso a mudança se efetive, o PSL seguirá uma tendência recente, que é a de alteração de nome dos partidos nacionais. Nos últimos meses, sete partidos trocaram seus nomes. O PMDB excluiu o "P" do nome e voltou a se chamar MDB, como na época de sua fundação. O PSDC, do presidenciável e ex-deputado José Maria Eymael, também retirou o "P" e passou a se chamar DC, ou Democracia Cristã.
Outra legenda que reativou o nome antigo foi o PR, que abandonou a denominação adotada em 2006 e voltou a ser PL. Podemos e Avante passaram a ser as novas identidades de PTN e PTdoB, e o Patriota deixou de ser Partido Ecológico Nacional (PEN) quando esperava ter Bolsonaro quando seu candidato a presidente.
A mudança mais recente foi a do PPS, que passou a se chamar Cidadania. Foi a segunda alteração na história da legenda, que até 1992 era o Partido Comunista Brasileiro.