Ouça este conteúdo
Bolsonaristas que se afastaram do PSL para acompanhar o presidente Jair Bolsonaro na criação do Aliança Pelo Brasil tentam se reaproximar da legenda comandada pelo deputado Luciano Bivar (PE). O movimento acontece diante da possibilidade cada vez menor de que o novo partido saia do papel.
A expectativa de dirigentes do PSL é de uma reunificação já nas próximas semanas. A cúpula da legenda, que tem 53 deputados, tem adotado o discurso de que não quer briga com ninguém e que deseja neutralizar o radicalismo das alas antagônicas: bolsonaristas e bivaristas.
A senha para a reconciliação foi dada há duas semanas em uma ligação de Bolsonaro, que deixou o PSL em novembro de 2019, para Bivar. No telefonema descrito como cordial e protocolar por interlocutores de ambos, o presidente pediu uma avaliação do presidente da legenda para a crise política.
Segundo a reportagem apurou, não houve um pedido explícito de apoio por parte de Bolsonaro, mas a ligação foi encarada no PSL como um gesto claro de tentativa de reaproximação. Pressionado por dezenas de pedidos de impeachment e investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente tenta construir uma base no Congresso e atraiu partidos do Centrão em troca de cargos na estrutura federal.
Pessoas próximas a Bivar, no entanto, afirmam que a conversa não significa que a legenda está de volta ao governo, mas admitem que o tempo definirá os termos da relação. "Bivar foi extremamente injustiçado assim como todos os outros deputados. Nunca é tarde para reconhecer erros", disse o deputado Julian Lemos (PSL-PB), um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e atualmente rompido com o governo.
A costura para uma recomposição entre bolsonoristas e bivaristas teve a participação do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), que tem atuado como um líder informal do governo na Câmara, o vice-presidente do PSL, Antonio de Rueda, e do senador Flávio Bolsonaro (RJ), que após a ruptura do PSL com o governo se filiou aos Republicanos. O presidente Bolsonaro segue sem partido.
O contato, no entanto, só foi possível após o PSL tirar a deputada Joice Hasselmann da liderança da legenda e entregar o comando da bancada para Felipe Francischini (PR). Ex-líder do governo no Congresso, a deputada se tornou uma das principais críticas do governo. Francischini, considerado moderado e com bom diálogo com as duas alas da legenda, assumiu o posto com a missão justamente de reintegrar os dissidentes.
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que perdeu a vice-liderança do governo na semana passada, admite que há uma reaproximação entre bolsonaristas, grupo do qual faz parte, e bivaristas. "Estamos tentando ter um discurso mais uníssono. Há uma reaproximação sim", disse.
Com a movimentação, Silveira afirmou já ter pedido para que a suspensão de atividades partidárias, impostas como punição pelo PSL, seja cancelada. Ao todo 14 parlamentares foram punidos por tentar afastar Bivar da presidência da legenda.
Reaproximação causa desconfiança e protestos
A reaproximação do governo Bolsonaro é vista com desconfiança por parte do parlamentares que durante o racha ficaram ao lado de Bivar. Em mensagem enviada ao grupo dos parlamentares do PSL, o senador Major Olímipio (SP) ameaçou deixar o partido caso a reunificação se concretize. "Eu disse no grupo de parlamentares do PSL: se isto acontecer, sentirei muita saudade do partido. TCHAU QUERIDOS!", disse em nota divulgada à imprensa.
Presidente do diretório do PSL em São Paulo, o deputado federal Júnior Bozzela escreveu uma carta aberta a Bolsonaro. "O PSL não perdeu o seu valor, sua moral e nem a independência, continuamos sempre votando a favor do Brasil sem precisar de toma lá, da cá. Bolsonaro um determinado dia disse: 'Esquece o PSL, tá ok?'. Hoje ele volta implorando perdão a esse mesmo PSL. Perceberam quem é o traidor 'arrependido'?", escreveu.