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De olho nas eleições de 2022, o PSL dá seus passos para criar uma nova identidade, longe do "bolsonarismo". O partido, que serviu de abrigo para a candidatura do presidente Jair Bolsonaro em 2018, se articula para apresentar uma legenda mais próxima de sua concepção original, o social-liberalismo, em um posicionamento à centro-direita. E o apresentador de televisão José Luiz Datena, recém-filiado, aparece como principal nome do novo momento do PSL – que também quer se tornar o abrigo de nomes do Movimento Brasil Livre (MBL).
A ruptura entre Bolsonaro e a cúpula do PSL, em 2019, abriu espaço para que o partido começasse a buscar a identidade mais voltada à centro-direita. As tratativas entre o presidente da República para se filiar ao Patriota selaram o afastamento definitivo, pois Bolsonaro mantinha conversas sobre um possível retorno ao PSL.
A avaliação feita na executiva-nacional do PSL é que, com Bolsonaro, o partido saiu de sua identidade social-liberal para se tornar um partido nacional-conservador mais próximo à "extrema direita". A hierarquia do partido entende que nem mesmo o ministro da Economia, Paulo Guedes, conseguiu entregar uma "roupagem" liberal a Bolsonaro.
Para apresentar a identidade liberal almejada, o PSL traçou como estratégia a filiação de políticos ligados ao Movimento Brasil Livre (MBL) e outros deputados federais identificados com as bandeiras do liberalismo. Outra aposta é ter o apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, como cabo eleitoral a nível nacional. Especula-se inclusive que Datena possa concorrer à Presidência pela legenda.
Datena pode concorrer à Presidência; e PSL quer Santos Cruz como vice
A filiação de Datena é uma das maiores apostas do PSL. Sem Bolsonaro, o partido identifica no apresentador o perfil capaz de assegurar uma popularidade nacional ao partido.
Na quarta-feira (7), quando o partido comunicou a filiação do jornalista ao partido, informou que ele tem "total apoio para a pré-candidatura à Presidência da República nas eleições de 2022".
"Datena é um excelente quadro. Se ele vai disputar ou não depende muito desse entorno nosso, do movimento de agregar valores [ao partido]", diz à Gazeta do Povo o deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP), vice-presidente nacional do partido.
Uma candidatura de Datena à Presidência pode depender dos arranjos políticos costurados pelo PSL. "Tem o MDB, o MBL, o general Santos Cruz e, eventualmente, tem forças políticas constituídas, deputados federais e agentes partidários que vão acabar impulsionando figuras como o Datena a exercerem um papel de liderança naturalmente", explica Bozzella.
Os presidentes nacionais do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), e do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), firmaram – com aval do ex-presidente Michel Temer (MDB) – um acordo para a construção de um projeto nacional em conjunto. "Os partidos estão acordados nacionalmente para que caminhem e convirjam juntos em um projeto macro", explica Bozzella.
A adesão do MBL ao projeto do PSL é outra aposta. A legenda filiou o vereador Rubinho Nunes, da capital paulista, e mantém conversas para filiar o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), e o estadual Arthur do Val (Patriota-SP), o youtuber Mamãe Falei, ambos lideranças do MBL.
A tentativa de filiar o general Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Bolsonaro, é outra aposta do PSL. No partido, a avaliação é de que ele poderia ser vice em uma chapa com Datena. Mas outro cargo eletivo permanece em aberto.
"Ele [Santos Cruz] está entendendo que o PSL se fortalece nesse projeto de unificação, pacificação e retomada da credibilidade das instituições e, também, de afastamento de radicalismo. Temos de cercear a escalada desse radicalismo, seja de direita ou extrema esquerda", diz Bozzella.
Quais as prioridades e como o partido espera alcançá-las
O PSL tem em Datena uma figura política para ser o cabo eleitoral que poderá puxar votos a outras candidaturas do partido pelo país. Mas fazer o presidente da República não será a principal prioridade. Diante da polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o foco da legenda é fazer o maior número possível de deputados federais.
Para as eleições 2022, partidos que não conseguirem obter 2% dos votos válidos para deputado federal ou a eleição de 11 deputados distribuídos em, pelo menos, nove estados, ficarão impossibilitados de receber recursos do Fundo Partidário e terão o tempo de rádio e TV na propaganda eleitoral restringidos a partir da legislatura seguinte.
Com 53 deputados federais atualmente, o objetivo do PSL é eleger ao menos 40 deputados federais em 2022, sejam novos parlamentares ou a reeleição de nomes da atual legislatura. Para fazer os deputados federais, o PSL tem como estratégia apostar não apenas em Datena, mas também em lideranças estaduais.
Arthur do Val será lançado a governador por São Paulo. O governador de Tocantins, Mauro Carlesse, deixou o DEM para se filiar ao PSL e concorrerá a reeleição. No Acre, o partido insiste em filiar o secretário de Saúde, Alysson Bestene, para ser vice na chapa com o governador Gladson Cameli.
Diante da estratégia traçada, o partido espera reeleger não apenas deputados federais que hoje já estão no PSL, mas também alguns parlamentares que devem anunciar filiação na janela de troca de partido de 2022.
Kim Kataguiri confirmou à reportagem as conversas com o PSL, mas ele não será o único. Outros deputados que devem se filiar ao PSL são: Elmar Nascimento (DEM-BA), Acácio Favacho (Pros-AP), Luiza Canziani (PTB-PR) e Clarissa Garotinho (Pros-RJ).
Como fica a situação dos bolsonaristas com a nova identidade do PSL
A nova identidade do PSL tende a, naturalmente, afastar os deputados "bolsonaristas" que ainda estão na legenda. A aposta da executiva nacional é que a filiação de Bolsonaro a seu futuro partido – seja o Patriota ou outro – promoverá uma grande debandada dos principais aliados do presidente da República na sigla.
As contas feitas pelo PSL é que entre 25 e 30 deputados devem deixar o partido em 2022, na janela partidária. A executiva nacional espera que, até o próximo ano, consiga convencer outros deputados a se filiarem, além de Kataguiri, Nascimento, Favacho e Canziani. "A proporção e quantidade dos que saírem é [a mesma dos] que vão entrar", prevê Bozzella.
A eleição da atual Mesa Diretora da Câmara, em fevereiro, atenuou a briga entre bolsonaristas e a cúpula do PSL. O presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar (PE), ficou com a primeira-secretaria da Casa, enquanto a liderança da legenda passou para o deputado bolsonarista Vitor Hugo (PSL-GO) e a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ficou nas mãos da também bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF).
Apesar dos panos quentes sobre a relação, a tendência natural vista no partido é de ruptura entre PSL e o bolsonarismo. "Não tem como eles estarem em um partido que tem outro projeto, a não ser que deixem de apoiar o Bolsonaro", diz Bozzella. "Mas acho difícil que entendam a realidade do que acontece, saiam do processo de subserviência e busquem conosco essa pacificação e unidade de nação que estamos perseguindo no centro democrático."