A crise financeira do Rio de Janeiro, a afinidade ideológica entre PSL e PSC e o entendimento de que o rompimento entre o governador fluminense, Wilson Witzel (PSC), e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) seria ruim para ambas as partes deve fazer com que o racha aberto pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) não vá adiante.
Os sinais de que a divisão proposta por Flávio não teve muita efetividade apareceram desde o dia em que o senador, que é presidente do PSL-RJ, determinou a saída de seu partido da base de Witzel. Muitos membros da legenda se recusaram a deixar os cargos no governo e deputados federais e estaduais do PSL contestaram a decisão de Flávio.
Além disso, a postura contemporizadora de Witzel foi determinante: o governador não chegou a subir o tom contra Flávio em nenhuma ocasião, e disse que gostaria de discutir o assunto diretamente com o presidente da República. Flávio anunciou o rompimento entre PSL e Witzel após a divulgação de uma entrevista do governador em que ele disse não dever sua vitória em 2018 a Bolsonaro e também que gostaria de suceder o presidente no Palácio do Planalto.
Ainda que o rompimento não se efetive, entretanto, a discussão pode contribuir no processo de desgaste de imagem que Flávio tem vivido entre membros do PSL e outros apoiadores de Bolsonaro. O parlamentar passou a ser contestado dentro do partido desde que se mobilizou contra a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar irregularidades no Judiciário, a “CPI da Lava Toga”. O senador Major Olímpio (PSL-SP) chegou a dizer que Flávio “morreu” para ele.
“A reação de Flávio às declarações de Witzel foi muito desproporcional. Se ele não gostou do que disse o governador, deveria ter chamado a imprensa e rebatido. Mas declarar o rompimento daquela forma não foi uma boa estratégia. E esse é um entendimento geral da bancada e da militância”, afirmou um deputado federal do PSL-RJ.
“Acho que vamos ter convergência”
O líder do governo Witzel na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Márcio Pacheco (PSC), relata que o anúncio de Flávio não motivou “movimentos bruscos” por parte do PSL. “A maior parte dos parlamentares do PSL parece aberta ao diálogo. Acho que vamos ter convergência”, disse.
O parlamentar disse que “não há retaliação” por parte da gestão Witzel e também destacou que não houve nenhuma determinação de exoneração dos integrantes do PSL que estejam compondo a estrutura estadual.
Para Pacheco, Witzel é “um estadista”. Ele classificou como legítimo o posicionamento do governador de mostrar interesse em presidir o país. “Mas a fala dele sobre o assunto não quer dizer que isso irá se concretizar agora . Até porque a prioridade de momento é governar o Rio”, disse.
E governar o Rio passa, hoje, principalmente por ajustar as finanças do estado. O Rio formalizou em 2018 com a União um pacto para sanar suas contas, que ficaram excessivamente prejudicadas durante as gestões dos emedebistas Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão, entre 2007 e 2018. O diálogo entre União e o governo estadual é essencial para que o processo de recuperação fiscal, que ainda está em curso, flua. “Nem estado e nem o governo federal ganhariam com esse rompimento. O estado não sobrevive sem a ajuda da União, e o governo federal não pode abrir mão do Rio de Janeiro”, acrescentou o deputado do PSL.
De olho nas eleições 2020
Para além das questões administrativas, há os impactos políticos a serem considerados em uma eventual efetivação do rompimento entre PSL e PSC no Rio. Os partidos estavam encaminhando um entendimento para as eleições municipais do ano que vem, as primeiras que serão disputadas após o sucesso nacional do bolsonarismo e após o PSL ter se tornado um gigante no cenário nacional.
O partido de Bolsonaro apresentou o deputado estadual Rodrigo Amorim como pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. O parlamentar se tornou célebre ao, durante o período eleitoral de 2018, participar de um ato em que quebrou uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL) – e ao seu lado, na cerimônia, estava o então candidato Witzel. PSC e Amorim haviam iniciado negociações para marchar juntos na disputa de 2020.
“O PSC, historicamente, lança candidatos no estado. Foi assim em 2018 com o Wilson Witzel e em 2016 com o próprio Flávio Bolsonaro, que foi nosso representante. Mas agora ainda está um pouco cedo, vamos aguardar os desdobramentos”, disse Márcio Pacheco.
Uma certeza no PSC é que o candidato do partido à prefeitura do Rio não será, ironicamente, o único deputado federal fluminense da sigla, Otoni de Paula. O parlamentar, que se tornou uma das principais vozes de defesa do governo Bolsonaro na Câmara, disse que deverá deixar o PSC até abril de 2020. “Vou sair do PSC e ingressar em outro partido para disputar as eleições”, afirmou.
Otoni declarou que seu posicionamento de deixar o PSC já havia sido tomada antes do atual imbróglio entre o partido e PSL, “mas o caso solidifica ainda mais a decisão”.
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