Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara dos deputados enxergam no afastamento entre a oposição e o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) uma oportunidade de se aproximar dos evangélicos, segmento que tem forte rejeição a Lula. Ao defender a regulamentação das redes sociais, Pereira perdeu o apoio de parlamentares do PL para a sucessão na presidência da Câmara dos Deputados.
"O Parlamento é o guardião da democracia, da segurança jurídica e do ambiente de negócios. Hoje, como primeiro vice-presidente da Câmara, sigo comprometido para que as propostas em apreciação possam ser aprovadas, como a regulamentação da inteligência artificial e das redes sociais, para combater fake news", disse Pereira em um evento em Nova York, em 14 de maio.
A declaração gerou protesto de parlamentares da oposição. A deputada Julia Zanatta (PL-SC), por exemplo, disse que quem apoia o "PL da Censura" (ou projeto de lei das fake news) "não pode ser presidente da Câmara".
Em reserva, um parlamentar do núcleo duro do PT afirmou que o atrito favorece o governo. A avaliação do congressista é que o vínculo entre Pereira e a Igreja Universal seria estratégico para o Palácio do Planalto se conectar com o segmento evangélico.
O governo ainda não decidiu quem apoiará para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL). A estratégia é aguardar que o deputado alagoano aponte um nome para que haja um apoio conjunto do Planalto e do presidente da Câmara. No entanto, as articulações entre os candidatos ocorrem nos bastidores. Além de Pereira, o deputado Antônio Brito (PSD-BA) também desperta a simpatia do governo.
Questionado sobre a tentativa de aproximação do governo, o deputado Marco Feliciano (PL-RJ) afirmou que qualquer indicado pelo governo, mesmo sendo evangélico, sofrerá rejeição.
“Não posso falar por todos os evangélicos na Câmara dos Deputados, nem pela Frente Parlamentar Evangélica, mas acredito que qualquer um indicado ou apoiado pelo governo federal para assumir a presidência da Câmara não terá nosso apoio”, disse Feliciano.
Na avaliação do analista político Luan Sperandio, diretor do Ranking dos Políticos, a estratégia do governo, de tentar se aproximar do segmento e eventualmente apoiar a candidatura de Pereira à presidência da Câmara, é reflexo do resultado eleitoral de 2022, já que cerca de 30% do eleitorado brasileiro é evangélico.
“A candidatura de Marcos Pereira, presidente do Republicanos, também reproduz essa dinâmica política. Trata-se de um dos favoritos para suceder Arthur Lira (PP-AL), pois já parte de um piso alto de votos (a bancada do Republicanos corresponde a 41 parlamentares). Vale lembrar que o partido possui um ministério, o de Portos e Aeroportos, ocupado pelo deputado Silvio Costa Filho, de Pernambuco, mas nem sempre isso se traduz em uma base que vota sempre com as propostas do governo Lula, especialmente em pautas mais ideológicas e de costumes”, afirmou.
Rejeição de Lula cresceu entre evangélicos e católicos
O desejo de aproximação com evangélicos não é novo. Desde que voltou à presidência, Lula vem escalando aliados para melhorar o trânsito, como a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) e o Advogado Geral da União (AGU) Jorge Messias. Entretanto, a queda de popularidade de Lula entre a população em geral e o segmento evangélico acendeu um sinal de alerta no governo.
De acordo com pesquisa do PoderData publicada na quarta-feira passada (29), o petista é desaprovado por 47% e aprovado por 45% dos eleitores. Desde a posse de Lula, a desaprovação subiu oito pontos percentuais. Já a aprovação caiu sete pontos percentuais.
Entre os evangélicos, o número é pior. O mesmo levantamento mostrou que 61% dos entrevistados dizem “desaprovar” o governo. Eram 56% em janeiro de 2023. A aprovação nesse grupo somava 31% no início do mandato petista. Agora, está em 27%.
O levantamento também mostrou que 55% dos eleitores católicos declaram “aprovar” o governo, um recuo de 7 pontos percentuais em relação a janeiro de 2023. O percentual dos católicos que desaprovam o governo Lula é hoje de 37%. No início do mandato, era de 31%.
Os dados foram coletados de 25 a 27 de maio de 2024, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 2.500 entrevistas em 211 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95%.
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, os números do PoderData indicam que, mesmo tendo apoio do governo, caso seja eleito presidente da Câmara, Marcos Pereira terá que adotar uma postura mais independente do Palácio do Planalto.
“Essa piora na aprovação entre os evangélicos mostra que, hoje, a tendência da bancada evangélica é mais contrária do que propriamente próxima do governo. Nesse contexto, Marcos Pereira, se quiser ter alguma chance, vai ter que adotar uma postura mais independente do governo e tentar vender a ideia de que está mais afastado”, disse Cerqueira.
Saída de Tarcísio pode aproximar Pereira de governo
A aproximação de Pereira com o Palácio do Planalto tende a se tornar mais fácil caso se confirme a migração do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, do Republicanos para o PL. Segundo fontes da oposição, o governador paulista estaria de malas prontas para ingressar no Partido Liberal, comandado por Valdemar Costa Neto.
Com mais de 50 prefeituras em São Paulo, a ida de Tarcísio para o PL é vista como um fortalecimento para que a sigla consiga outras mais em outubro. Por outro lado, a movimentação do ex-ministro da Infraestrutura pode gerar um possível esvaziamento no Republicanos.
Atualmente, a sigla conta com senadores próximos a Bolsonaro, como Damares Alves (DF), Hamilton Mourão (RS), Cleitinho (MG) e Mércia de Jesus (RR). Na Câmara, o partido tem 43 deputados, sendo quatro, além de Pereira, de São Paulo.
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