Apesar das tentativas do Ministério das Relações Exteriores em conter os ânimos envolvendo a relação entre Brasil e Israel, declarações feitas por membros do Partido dos Trabalhadores (PT) podem estremecer o vínculo entre as duas nações. Nos últimos dias, membros do partido fizerem críticas ao embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, depois que ele se encontrou com ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional nesta semana.
"Mais uma vez o embaixador de Israel no Brasil intrometeu-se indevidamente na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro, realizado em pleno Congresso Nacional", escreveu a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em sua conta no X, antigo Twitter.
O senador Humberto Costa (PT-PE) e a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, também usaram a rede social para comentar sobre o mal-estar criado entre o embaixador e o governo brasileiro.
Como mencionado, desconforto do governo petista com o embaixador ganhou novos desdobramentos nesta semana, depois que Bolsonaro marcou presença no Congresso Nacional, junto a parlamentares, para assistir a um vídeo a ser exibido pela Embaixada de Israel.
A representação do país no Brasil convocou deputados e senadores para assistirem a um compilado de imagens gravadas por câmeras encontradas com o Hamas. O conteúdo mostra os ataques cometidos pelo grupo terrorista no último dia 7 de outubro, quando se deu início ao conflito no Oriente Médio.
"A aliança espúria entre Bolsonaro e o embaixador de Israel é mais repugnante ainda porque envolve a segurança e a vida de cidadãos brasileiros mantidos sob cerco e ameaça no massacre militar na região da Faixa de Gaza. O tempo da subserviência acabou junto com o mandato de Jair Bolsonaro, que prestava continência para a bandeira dos Estados Unidos e fez do Brasil um pária entre as nações", escreveu Gleisi Hoffmann em seu perfil no X.
Antes disso, o serviço de segurança israelense, o Mossad, informou que havia auxiliado o Brasil nas investigações que terminaram na prisão de dois brasileiros suspeitos de integrarem o grupo terrorista Hezbollah. Mas o ministro da Justiça, Flávio Dino, criticou as alegações da organização e disse que "nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a diplomacia brasileira não comentaram sobre os recentes acontecimentos. A Gazeta do Povo apurou que, devido ao momento de guerra e em razão dos brasileiros que ainda estão presos em Gaza, o Palácio do Itamaraty não quer causar um estresse ainda maior com o governo israelense. As declarações feitas pelo PT, contudo, podem acabar sabotando essa estratégia e contribuem o desgaste entre os dois países.
Ainda nesta sexta (10), Gleisi Hoffmann voltou a se pronunciar e fazer críticas ao embaixador. "É nojenta a maneira como Bolsonaro e seus aliados tentam se aproveitar do drama dos brasileiros (as) ameaçados pelo massacre da população civil de Gaza [...] Ciro Nogueira vem mentir que Jair Bolsonaro teria negociado sua libertação com o embaixador de Israel no Brasil. Se isso fosse verdade, seria uma confissão de que os brasileiros foram tratados como reféns de uma articulação política entre Bolsonaro e o embaixador de Israel", declarou no X.
Relação entre os dois países: PT pode ter incitado o desgaste
Apesar dos recentes acontecimentos, a relação entre os dois países está estremecida desde o início da guerra no Oriente Médio, no mês passado. Defensor da coexistência do Estado palestino e do Estado de Israel, Lula sempre manteve um certo apreço pela causa palestina. Mais do que isso, o petista também chegou a fazer contraditórias afirmações sobre o Hamas — grupo terrorista que desde 2006 comanda a Faixa de Gaza.
Durante o mês de outubro, enquanto ocupava a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil tentou aprovar uma resolução para a guerra considerada "branda" aos olhos de Israel e dos Estados Unidos — principal defensor do Estado israelense. O documento foi vetado por Washington que alegou ser inadmissível a provação uma resolução que não pudesse garantir o "direito de autodefesa de Israel".
O fato de o Brasil não considerar o Hamas uma organização terrorista sobretudo sempre causou incômodo a Israel. Em entrevista à Gazeta do Povo, Daniel Zonshine disse que achava "estranho" o país não considerar o Hamas um grupo terrorista. Em sua justificativa, o Itamaraty alegou que segue a determinação da ONU para proclamar grupos como terroristas e que devido ao fato da organização não considerar o Hamas como tal, o Brasil, por si só, também não o faria.
Após as declarações dadas, Zonshine foi convocado a ir até o Itamaraty. O ato não é bem visto diplomaticamente e pode ser entendido como um momento para um "puxão de orelha". Após a convocação, o embaixador adotou um tom mais moderado ao falar sobre o Brasil e o conflito. Essa postura, contudo, parece ter sido deixada de lado após as declarações do PT contra Israel. Em notas divulgadas pelo partido, a legenda chegou a dizer que o país cometia "genocídio" contra o povo palestino.
Nos últimos dias, após a prisão dos brasileiros ligados ao Hezbollah, Zonshine chegou a dizer que se a organização escolheu fazer ataques no Brasil "é porque tem gente que ajuda". Após as recentes declarações, a base governista do presidente Lula chegou a pedir a remoção de Zonshine do posto de embaixador de Israel no Brasil, sob alegação, inclusive, de que ele poderia ser o responsável pelo atraso da retirada dos brasileiros de Gaza.
Essa insinuação, contudo, foi descartada por Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores. Em entrevista à Globo News nesta sexta-feira (10), o chanceler brasileiro informou que a saída dos brasileiros ainda não aconteceu porque a passagem está fechada desde a última quarta-feira (8). Disse ainda que a suspeita de que Israel estaria "atrasado" a passagem "é infundada". "De forma alguma, não há nenhuma relação [de que Israel poderia existir retaliação de Israel em relação aos brasileiros em Gaza]. Inclusive, já saíram nacionais de países que não têm relações diplomáticas, que não reconhecem o Estado de Israel. Não tem fundamento essa informação", disse o chanceler.
Encontro com Bolsonaro também causou desconforto para Israel
Os últimos acontecimentos também não foram bem vistos pelo governo de Israel. Após a repercussão dos últimos dias, a representação do país no Brasil divulgou uma nota, nesta sexta-feira (10), esclarecendo que não havia convidado o ex-presidente para assistir ao filme no Congresso Nacional.
"A reunião de ontem no Congresso Nacional teve como intenção mostrar, como foi feito aos jornalistas brasileiros, as atrocidades do 7 de outubro cometidas pelos terroristas do Hamas. Convidamos parlamentares e apenas parlamentares. A presença do ex-presidente não foi coordenada pela Embaixada de Israel e não era de nosso conhecimento antes do evento, ocorrendo de forma fortuita", informou a nota.
Após o encontro entre Bolsonaro e Zonshine, apoiadores do ex-presidente afirmaram que o ex-presidente teria conversado com a Embaixada para tentar negociar a liberação dos brasileiros que estão na Faixa de Gaza — o que causou um desconforto ainda maior na base governista. Enquanto membros do governo e parlamentares de esquerda citaram o ocorrido, elencando as providências de Lula para repatriar os brasileiros em Gaza, o presidente preferiu não comentar sobre o assunto.
A diplomacia brasileira também adotou a mesma postura de Lula. Nesta sexta-feira (10), contudo, o ministro das Relações Exteriores, alfinetou o embaixador de Israel no Brasil durante entrevista à Globo News. Questionado se o encontro Zonshine e o ex-presidente, Vieira respondeu que "não conversa com o embaixador aqui, mas com o chefe dele, o ministro das Relações Exteriores".
O ministro disse que não comentaria sobre o encontro e que só poderia responder a "fatos concretos em contatos oficiais, de governo a governo". Vieira ainda afirmou tem feito contatos constantes com o governo de Israel e que foi orientado pelo presidente Lula a manter esses contatos "para viabilizar essa saída [dos brasileiros localizados em Gaza]".
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