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Sucessão presidencial

PT quer ampliar alianças e conquistar o empresariado para fortalecer Lula em 2022

Lula (PT) foi vacinado contra Covid-19 no último sábado (13): ex-presidente faz acenos a governadores, empresários e militares. (Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas)

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Antes isolado para as eleições presidenciais de 2022, o PT vê agora uma nova chance de reaglutinar forças políticas para fortalecer seu projeto eleitoral. E tudo por causa da possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer à Presidência. Após recuperar os direitos políticos por decisão do ministro do STF Edson Fachin, o petista tenta se firmar como antagonista do presidente Jair Bolsonaro, e tem prometido adotar um tom de pacificação com outros segmentos. Está inclusive fazendo acenos a partidos de fora da esquerda, ao setor empresarial e também aos militares.

Apesar do otimismo com a volta de Lula ao jogo político, integrantes do partido do ex-presidente admitem que o antipetismo na sociedade ainda é forte. Por isso, a estratégia de agregar forças para romper resistências vem sendo articulada nos bastidores para o PT conquistar aliados de outras frentes políticas e sociais.

Lula vai estender a mão aos governadores, criticados por Bolsonaro

vacinado com a primeira dose da vacina contra a Covid-19, Lula vai aguardar o arrefecimento da pandemia para começar a rodar o país e promover encontros com lideranças regionais. Mesmo assim, a crise sanitária tem sido usada pelo ex-presidente para se aproximar dos governadores, principalmente os do Nordeste. A região é o principal reduto eleitoral petista e é onde o presidente Bolsonaro tem os menores índices de intenção de votos, segundo as pesquisas.

“Antes de falar de 2022, estamos falando dos problemas reais que o Brasil enfrenta agora em 2021. Esses problemas passam pela perda de renda, falta de oxigênio e a falta de vacina. Lula vai dialogar com todos e já começou a fazer isso com os governadores do Nordeste, colocando eles em contato com lideranças internacionais e embaixadores para que esses estados consigam comprar vacinas para imunizar a população, por exemplo”, afirma o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS).

Recentemente, o presidente do Consórcio de Governadores do Nordeste, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), afirmou que o grupo teria fechado um acordo de compra de 37 milhões de doses da vacina russa Sputink V. O imunizante está com o pedido de autorização parado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) por falta de entregas de documentação dos estudos de eficácia.

Segundo interlocutores do PT, o encontro entre o governador do Piauí com representantes do Fundo Soberano Russo foi capitaneado por Lula. No entanto, mesmo a compra tendo sido realizada pelos estados do Nordeste, Wellington Dias afirmou que as doses serão entregues para o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde.

A estratégia adotada com os governantes do Nordeste também será repetida com os demais governadores estaduais no intuito de aproximar o partido de outras lideranças partidárias – inclusive de legendas que hoje fazem parte da base de Bolsonaro no Congresso.

“O Lula vai ocupar um lugar que o Bolsonaro não quis durante toda a pandemia, que é o de se aproximar dos governadores. Eles estão sozinhos nessa luta contra o vírus. Lula vai usar sua influência e seu poder de organização para trazer soluções para o problema atual desses governantes”, admite um integrante do PT que falou reservadamente com a Gazeta do Povo.

Nos próximos meses o PT irá criar um grupo de trabalho para fazer um levantamento dos palanques da legenda nos estados, ou seja, quem são os nomes da agremiação para os governos estaduais e para o Senado. Depois disso, a orientação é seguir rodando o país para compor alianças.

Empresariado e militares estão na mira do PT

O deputado Bohn Gass afirma que o PT, além das lideranças políticas, está disposto a conversar com setores empresariais e demais segmentos da sociedade civil. “Vamos desenhar um campo popular e identificado programaticamente. O PT tem que fazer isso e não está negando possibilidade de conversas. Quem se identifica do ponto de vista de projeto será bem vindo”, diz o líder do partido na Câmara.

Para tentar quebrar a resistência antipetista e de setores do mercado financeiro, Lula tem admitido que uma chapa nos moldes da que o partido construiu em 2002, quando ele se elegeu pela primeira vez, seria o ideal. Na época, o empresário José de Alencar, do PL,  foi escolhido como vice.

Líderes do partido chegaram inclusive a dizer publicamente que gostariam de ter como vice a empresária Luiza Trajano, dona da rede de lojas Magazine Luiza e do portal de compras Magalu. Mas Luiza disse que não tem intenção de entrar na política. A sinalização do PT, porém, é clara: o partido pretende abrir pontes com o empresariado.

“Além dos partidos de centro, que hoje inclusive estão na base do Bolsonaro, Lula vai conversar com o meio empresarial na busca de arrefecer os ânimos. Ele quer polarizar com o Bolsonaro, mas não quer polarizar com o Brasil”, diz um interlocutor petista.

Os militares, outra base de apoio de Bolsonaro, também estão no alvo do PT. Nesta quarta-feira (17), o jornal O Estado de S. Paulo informou que aliados de Lula citam como possível vice na eleição de 2022 o general Carlos Alberto dos Santos Cruz – ex-ministro de Bolsonaro que saiu brigado com o presidente e que tem sido crítico do governo.

Partidos de esquerda se aproximam do PT

Antes críticos da estratégia do PT de lançar Fernando Haddad como candidato à Presidência sem diálogo com as demais siglas, partidos de esquerda agora já admitem uma aproximação com os petistas depois que Lula se viabilizou politicamente. A avaliação de integrantes dessas legendas é de que o ex-presidente é o único nome desse campo com chances de derrotar Bolsonaro em 2022.

Pela primeira vez desde a sua criação em 2004, o Psol avalia não ter uma candidatura própria a presidente para apoiar Lula. Candidato à Presidência pela sigla em 2018, Guilherme Boulos chegou a criticar o lançamento prévio do nome de Haddad, mas esteve ao lado de Lula durante o primeiro pronunciamento público do petista depois que ele reconquistou os direitos políticos.

Tentando viabilizar seu nome para o governo do Rio de Janeiro, o deputado Marcelo Freixo (Psol) passou a articular a formação da aliança do seu partido com o PT – embora ele próprio não descarte se filiar ao PDT, do também presidenciável Ciro Gomes.

“Em 2022, estarei no partido que fizer parte de uma unidade em busca da reconstrução do Rio. Não podemos começar a planejar uma candidatura com nomes, o que leva a divisões, mas pela definição de ampla frente democrática que reúna forças políticas, partidos. Isso evita a divisão”, disse Freixo ao jornal O Globo.

Também no campo da esquerda, o PSB já cogita a possibilidade de uma aliança com o PT para as eleições do ano que vem. Internamente, integrantes da legenda admitem que a candidatura de Lula deva ser colocada na mesa quando a Executiva for definir seus candidatos. Mesmo assim, a busca de um outsider para disputar o Planalto em 2022 pelo PSB, como o apresentador de TV Luciano Huck e a empresária Luiza Trajano, não foi totalmente descartada.

“O PSB vai trabalhar para contribuir com a aglutinação das forças democráticas que se oponham ao projeto autoritário de Bolsonaro. É claro que Lula tem um approach para ser o representante desse campo, mas não é, de maneira nenhuma, o candidato natural. Se tiver essa pretensão, ele se inviabiliza nessa aproximação. O espírito de uma frente não pode começar pelo candidato, tem que começar pela tarefa, que é enfrentar e derrotar Bolsonaro”, afirmou o deputado Tadeu Alencar (PSB-PE) ao jornal O Globo.

O PCdoB, que tradicionalmente se aliava ao PT nas eleições presidenciais, chegou a cogitar lançar o governador Flávio Dino (Maranhão) para a disputa pelo Planalto. Mas com Lula como candidato, integrantes do partido já admitem que a tendência é reeditar a aliança histórica – que em 2022 teve Fernando Haddad (PT) como candidato a presidente e Manuela Dávila (PCdoB) como vice.

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