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Os senadores Fabiano Contarato (PT-ES), Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Paulo Paim (PT-RS) se posicionaram contra a proclamação do ditador venezuelano Nicolás Maduro como presidente reeleito e que foi reconhecida pelo próprio partido deles. A nota que o PT divulgou nesta semana rachou a base da legenda no Congresso ao chamar a eleição de “democrática e soberana”.
Na última segunda (29), o partido emitiu uma nota saudando o povo venezuelano e que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão responsável por conduzir as eleições, apontou a vitória de Maduro. A publicação, no entanto, não foi uma decisão unânime entre os correligionários.
Um dos mais aguerridos militantes do partido, Contarato disse que o partido é “diverso e aberto a várias correntes de opinião”, mas que “neste caso, uma postura cautelosa seja recomendável, diante das investidas autoritárias do regime com as oposições”, segundo relatou ao Estadão nesta quarta (31).
Em uma publicação nas redes sociais, ele afirmou, ainda, que “o resultado das eleições venezuelanas não merecem reconhecimento da comunidade internacional enquanto as exigências mínimas de transparência não forem satisfatoriamente atendidas”.
O colega dele no Senado, o correligionário mais recente Randolfe Rodrigues, disparou que a eleição foi “sem idoneidade” e que “os resultados não são passíveis de certificação e onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem idoneidade”, apontou em entrevista à CNN Brasil.
Ele ainda classificou o regime ditatorial como “autoritário” e que “tanto Maduro quanto a oposição carecem de legitimidade”.
O gaúcho Paulo Paim também foi numa linha semelhante, afirmando que a situação na Venezuela é “gravíssima e lamentável”. “Sem transparência no processo eleitoral, liberdade política e de expressão, e respeito aos direitos humanos, não há democracia”, afirmou em uma rede social.
Deputados do PT também divergiram da posição do partido, como Reginaldo Lopes (PT-MG), Camila Jara (PT-MS) e Bohn Gass (PT-RS). Para Tadeu Veneri (PT-PR), "análises superficiais do que ocorre na Venezuela não ajudam".
"Temos que entender quais interesses estão orientando todo esse processo. Sabemos que são muitos e econômicos também", completou.
Apesar de ter rachado parte do partido, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, minimizou a situação e disse que a nota em que reconhece a reeleição de Maduro foi “moderada” e “nada efusiva”, em entrevista ao G1.
Gleisi ainda afirmou que confia no trabalho do CNE e que “não somos Estados e nem Justiça Eleitoral” para aguardar uma divulgação oficial das atas de votação antes de fazer um juízo de valor. “É da vida, não vamos nos omitir”, pontuou.
A presidente nacional do PT disse também que não falou com o presidente Lula sobre a nota, mas apenas com o partido.
“O PT é um partido que tem autonomia, embora seja o meu partido, não precisa pedir licença para mim: ‘Lula, eu posso fazer isso?’. ‘Não. Faça o que você se sentir melhor fazendo’. E o governo faz aquilo que se sente melhor fazendo. Eu, na hora em que estiveram apresentadas as atas, e for consagrado que as atas são verdadeiras, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela”, disse Lula na terça (30) em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo.