O senador Sergio Moro (União-PR) cobrou explicações do Partido dos Trabalhadores por uma ação do partido junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tentou derrubar uma medida destinada ao combate à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
O PT queria usar o STF para acabar com duas portarias do Ministério da Justiça, uma de 2019, que tornou mais rígidas as regras para visitas sociais em prisões federais de segurança máxima; e outra de 2017, que proibiu visitas íntimas em presídios federais. Era por meio das visitas que os líderes do PCC, todos presos, repassavam ordens aos seus subordinados em liberdade.
A ADPF 518 foi apresentada em 2018 pela ONG Anjos da Liberdade, que questionava a norma de 2017, época em que Michel Temer (MDB) era presidente. O PT ingressou como autor somente em agosto de 2019, quando a portaria do ex-ministro Sergio Moro também passou a ser questionada no processo.
Segundo a investigação da Polícia Federal sobre o plano de atentado do PCC contra Moro e outras autoridades, a organização criminosa esperava que essa ação colocasse um fim às regras mais rígidas de visitas íntimas, que acabaram prejudicando os negócios ilícitos dos criminosos. Os detalhes da investigação vieram à tona na quinta-feira (23).
O objetivo do bando, segundo a PF, era voltar a "permitir o repasse de ordens ilegais" de dentro dos presídios. O processo, porém, foi extinto no dia 7 de março. Porém, não há indícios de que o PCC tenha tido influência na decisão do PT de entrar com a ação no STF.
Moro diz que o PT deve explicação do Brasil sobre ação no STF
"À luz dos últimos acontecimentos e das falas do Presidente Lula, o PT deve uma explicação ao Brasil sobre sua participação como autor na ADPF 518 junto ao STF, quando tentou derrubar a proibição feita pelo MJ de visitas íntimas às lideranças do PCC e do CV [Comando Vermelho] em presídios federais", relembrou o senador e ex-ministro da Justiça.
"O desastre foi evitado somente porque o STF extinguiu a ação e protegeu a sociedade contra o crime", complementou, referindo-se a uma decisão do ministro Edson Fachin.
A Gazeta do Povo tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa do PT e aguarda um posicionamento da presidente do partido, a deputada federal Gleisi Hoffman (PR).
O processo foi encerrado porque a causa perdeu o objeto depois que as normas da portaria foram substituídas pelas leis do "pacote anticrime", principal pauta de Moro quando era ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL).
Para o PT e a ONG Anjos da Liberdade, que também era autora da ação, as regras "violariam preceitos fundamentais" e seriam uma "política desumana". Eles alegaram que a portaria 157/2019 forçava delações, punia as famílias dos presos e violava o sigilo da comunicação entre advogados e clientes e, por isso, seria "incompatível com os preceitos e as garantias fundamentais da Constituição".
A ONG, acusada de ligação com o narcotráfico, ainda pediu que o caso não fosse encerrado, alegando que a legislação do pacote anticrime "agravava os efeitos" das normas anteriores. O PT, por sua vez, reconheceu que, com a entrada em vigor do pacote anticrime, foi prejudicada a análise do mérito da ação.
O Instituto Anjos da Liberdade ainda tentar reverter a decisão que extinguiu a ADPF. Os advogados da ONG apresentaram reclamação contra a decisão de Fachin, mas o ministro Luiz Fux negou o pedido. Em 15 de março, eles recorreram novamente, alegando que Fachin, ao extinguir o processo, "usurpou" o direito de voto de outros ministros da corte que não haviam votado a questão após um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF