Com “ato em defesa da democracia” marcado para segunda-feira (8), o Partido dos Trabalhadores pretende ganhar nova munição contra os oposicionistas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições de 2024 e 2026. Assim como nos anos 80, momento em que o partido utilizava a “luta contra corrupção” como o slogan, a “defesa da democracia” deverá ser turbinada em peças publicitárias da legenda para alavancar a imagem de Lula e do partido.
O tom da estratégia petista consta na última Resolução do Diretório Nacional, publicada em 12 de dezembro de 2023. No documento, a sigla afirma que a “agressão à democracia foi frustrada pela pronta e enérgica reação das instituições e da sociedade civil, liderada pelo presidente Lula em conjunto com os demais poderes da República.”
O partido chefiado pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) também optou por insistir na polarização como forma de angariar vantagem eleitoral. Para a sigla, o mais importante para 2024 é o embate contra a ala política que denominam como “extrema-direita”.
“É nossa tarefa participar ativamente das eleições municipais de 2024, fazendo o embate contra a extrema-direita, para reeleger e aumentar as prefeituras em que estamos hoje, além de ampliar expressivamente nossa base de vereadores e vereadoras, incentivando a participação de mulheres, negros, jovens e LGBTQI+”, finaliza a resolução do partido.
PT confirma que usará 8/1 em campanhas
À Gazeta do Povo, o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), secretário nacional de Comunicação do PT, confirmou que o 8 de janeiro será amplamente utilizado pela legenda nas campanhas eleitorais.
“Nas eleições municipais de 2024 ainda será importante a questão da defesa da democracia, da liberdade, dos direitos sociais e da diminuição das desigualdades. Lembrar de 8 de janeiro se fará necessário justamente para denunciar as atitudes antidemocráticas, golpistas e preconceituosas dos bolsonaristas. Essas atitudes foram rejeitadas nas urnas em 22 pela maioria do eleitorado e deverá ser rejeitada também neste ano”, disse o parlamentar.
Partido de Lula deve repetir estratégia de 2022
Na avaliação do cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, o 8/1 deverá reforçar a tática do PT utilizada já nas eleições de 2022. Na época, o partido utilizou a figura do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para passar a imagem de que estaria disposto a se aliar com antigos adversários para enfrentar o então presidente Jair Bolsonaro (PL).
No caso do 8 de janeiro, a sigla deve aproveitar o evento da próxima segunda-feira para emplacar a narrativa que Lula está unido com os demais poderes em prol da democracia.
“Na eleição de 2022, Lula ascendeu ao poder com uma plataforma centrada na defesa da democracia e do Estado de Direito. Sua chapa propunha a formação de uma ampla frente política, unindo até mesmo oponentes de eleições passadas, como o próprio vice-presidente Geraldo Alckmin, para reforçar esse compromisso. Os eventos de 8 de janeiro de 2023 elevaram essa narrativa a um novo patamar. Enquanto a possibilidade de uma ruptura democrática no Brasil era antes um conceito no imaginário popular, os acontecimentos tornaram essa ameaça mais tangível e preocupante”, disse Arruda.
Comentando a estratégia eleitoral, Arruda acrescenta que o PT deverá utilizar o cenário nacional para impulsionar o partido a ganhar prefeituras. De 2004 a 2023, a legenda saiu de 406 prefeituras para 227 - uma redução de 44% ao longo desses 20 anos.
“O episódio de janeiro será explorado pelo PT como um potencial risco à democracia. Em 2020, o PT não conquistou nenhuma prefeitura nas capitais durante as eleições. Agora, em 2024, buscam uma trajetória distinta. Dada a ausência de vitrines municipais para demonstrar sua capacidade de gestão, planejam utilizar o palco nacional – incluindo eventos como o de 8 de janeiro – para valorizar seus candidatos, apresentando-os como "guardiões da democracia", não como bons gestores. Se isso vai dar certo, vamos conferir em breve”, disse o cientista político.
Para o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a estratégia do partido segue na direção de manter a polarização e ditar a narrativa, movimento semelhante ao que ocorreu quando era oposição ao PSDB.
"O PT reforça uma estratégia que ele tem investido já há bastante tempo, que é estratégia de polarização [desenvolvida] pelo menos desde a época de Fernando Henrique, mas que agora foi grandemente acentuada. Eu diria também que, desde o próprio dia 8/1, a esquerda vem fazendo isso no país: usando esse acontecimento como instrumento para poder desqualificar todo o movimento político do outro espectro. Independentemente da conduta pessoal dos vândalos, o PT investe naquilo que ele faz há 30 anos, que é controle de narrativas", disse Gomes.
Como nos anos 90, PT quer novo slogan para diminuir rejeição
Antes de chegar ao poder, em 2003, o partido de Lula transcorreu as décadas de 80 e 90 se vendendo como o partido que lutava contra a corrupção. Na eleição de 1989, por exemplo, um dos principais cartazes da campanha do petista dizia: “Contra a corrupção, Lula é a solução”. O mesmo pode ocorrer em relação aos atos de 8 de janeiro.
Na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, docente do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), o PT precisa de um novo slogan para limpar a imagem desgastada pelos escândalos de corrupção revelados pela operação Lava Jato.
“O PT perdeu muito status político para o eleitor mediano, para o eleitor que não é militante, nem de esquerda, nem de direita, que no final do século passado via no PT como um partido anticorrupção, mas que se decepcionou com os governos de Lula e Dilma - principalmente por conta dos escândalos de corrupção. O PT está muito manchado nesse ponto e a possibilidade de reencantar a classe média e esse eleitor mediano como partido não extremista, de defesa da democracia, é uma das poucas "balas", digamos assim, que sobraram para o PT”, disse Cerqueira.
Por outro lado, ele acredita que o 8/1 deverá ser mais utilizado em 2026, já que as eleições municipais deste ano focam em problemas locais.
“A eleição municipal é um assunto que mobiliza o eleitor local. O eleitor fica mais mobilizado por conta dos problemas do seu dia a dia, do lugar em que vive, e ele valoriza as candidaturas nesse sentido. As questões ideológicas ficam em segundo plano. Em algumas cidades, especialmente em São Paulo, o 8 de janeiro pode ser importante para um candidato de extrema esquerda, como Guilherme Boulos, tentar se afastar dessa imagem extremista e tentar suavizá-la como um defensor da democracia. Acredito que o Boulos vai investir muito nessa discussão para tentar suavizar o seu passado de extrema esquerda, que atrapalha bastante os seus planos de tentar ganhar a eleição municipal”, acrescentou Cerqueira.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF