Preso nesta terça-feira (22) em um desdobramento da Operação Hades, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), é investigado em um esquema de corrupção conhecido como “QG da propina”. Para entender a ação conjunta entre Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) e o Ministério Público do estado (MPRJ), a Gazeta do Povo preparou um ponto a ponto para explicar os motivos que embasam o pedido de prisão, quem assume o governo da capital fluminense, a reação de alguns políticos:
Do que Crivella é acusado?
O prefeito do Rio e todos os outros alvos da operação foram denunciados pelo MPRJ pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva. A desembargadora Rosa Helena Guita, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), responsável por autorizar a prisão, diz que a denúncia revela a existência de um “intrincado esquema criminoso envolvendo membros da administração municipal, empresários, pessoas físicas e jurídicas”. Ou seja, o entendimento da investigação — chancelado pela Justiça — sugere que Crivella permitiu a instalação de um esquema de “laranjas” na prefeitura.
O que diz a defesa de Crivella
A defesa de Crivella informou que entrará com pedido de habeas corpus ainda nesta terça. Seu advogado, Alberto Sampaio, o mesmo que o defendeu na Câmara Municipal do Rio em um pedido de impeachment contra o prefeito, classifica a prisão como uma "injustiça" e afirmou que vai solicitar a revogação da detenção preventiva. "É uma injustiça, certamente. Foi uma surpresa, certamente. Com certeza [ele não esperava ser preso] Vou pedir ainda hoje um habeas corpus", declarou. O prefeito endossa. "Isso é uma perseguição política. Lutei contra todas as empreiteiras, tirei recursos do pedágio, do carnaval, e isso é perseguição. Quero que se faça justiça", declarou Crivella.
Crivella teria recebido dinheiro do esquema?
Ao autorizar a decretação da prisão preventiva requerida pela PCRJ e pelo MPRJ, desembargadora Rosa Guita sustenta ser “evidente que o prefeito se locupletava [enriquecia] dos ganhos ilícitos auferidos pela organização criminosa, que, na realidade, se instalara no município já com tal propósito”. “Pois, do contrário, não colocaria o seu futuro político em risco apenas para favorecer terceiros, com mera dívida de campanha”.
Chance de permanência na vida pública reforçou pedido de prisão
Uma informação publicada pela imprensa foi usada para reforçar a necessidade da prisão preventiva. Segundo o jornalista Guilherme Amado, da Época, Crivella teria confessado a interlocutores que tentaria um novo mandato em 2022, como deputado federal, senador ou até governador.
A desembargadora Rosa Guita dá ênfase ao que considera ser um risco deixar que o prefeito mantenha o esquema enquanto permanecer na vida pública. “Observe-se que o prefeito recentemente anunciou sua sua intenção de concorrer ao governo do Estado nas futuras eleições, quiçá com os mesmos objetivos espúrios. E aí, ingressamos na análise da presença do indispensável periculum in liberalis, a autorizar a decretação da prisão preventiva requerida”.
Crivella não é apontado como principal suspeito
Embora seja suspeito de ter possibilitado a instalação de um esquema de “laranjas” na prefeitura, Crivella não é apontado como o principal suspeito. O chefe da organização, segundo a delação que deu início a todas as investigações, é o empresário Rafael Alves, acusado de ser o operador. Ele não tinha cargo na prefeitura, mas dava expediente na Cidade das Artes, em uma sala ao lado do irmão Marcelo Alves, ex-presidente da RioTur. Os dois também foram presos e denunciados pelo MPRJ pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva.
Quem delatou o esquema, o que é o “QG da propina” e como o esquema funcionava?
O “QG da propina” foi um nome usado pelo doleiro Sérgio Mizrahy. Ele foi preso na Operação Câmbio Desligo, um desdobramento da Lava Jato no Rio, e fez a delação premiada. Em sua delação, ele acusa o empresário Rafael Alves de ser o operador do esquema. Empresas que tinham interesse em fechar contratos ou dinheiro a receber da prefeitura procuravam Rafael e entregavam cheques a ele.
A partir da propina, Rafael facilitaria a assinatura de contratos e o pagamento das dívidas. Mizrahy não soube dizer em sua delação, contudo, se Crivella sabia da existência do “QG da propina”. A suspeita da investigação é de que o prefeito tinha, sim, noção do esquema.
Em algumas mensagens interceptadas durante as investigações, Rafael chegou a dizer que foi graças a ele que o irmão, Marcelo, virou presidente da RioTur. Também disse ter a “caneta”, sugerindo dar ordens na prefeitura, tendo poder de nomeações em cargos e escolha de empresas que fechariam contratos com o município.
Crivella e os irmãos Alves foram os únicos presos?
Não, outras quatro pessoas também foram presas. Fernando Moraes, delegado aposentado, Mauro Macedo, ex-tesoureiro da campanha de Crivella, o empresário Adenor Gonçalves dos Santos e o empresário Cristiano Stockler Campos.
O ex-senador Eduardo Lopes (Republicanos) também é alvo da operação, mas não foi encontrado em sua casa no Rio. Ele teria se mudado para Belém e deverá se apresentar à polícia. Todos eles foram denunciados pelo MPRJ pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva.
Quem assume o governo do Rio enquanto Crivella permanecer preso?
O Rio de Janeiro não tem um vice-prefeito. O então ocupante do cargo, Fernando McDowell, morreu em maio de 2018. Por isso, quem assumirá a prefeitura no lugar de Crivella é o presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Jorge Felippe (DEM). Ele é do correligionário do prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes (DEM). Vereador de sétimo mandato, Felippe tem 70 anos e preside a câmara há cinco mandatos consecutivos.
Felippe é aliado de Paes e já tinha anunciado que não concorreria à reeleição para a presidência, embora tenha sido eleito para o oitavo mandato de vereador. O vereador chegou a ser convidado por Paes para ser o secretário municipal de Trabalho e Renda a partir do próximo ano. Contudo, ele declinou da oferta e indicou seu neto, o deputado estadual Jorge Felippe Neto (PSD).
Qual foi a reação de políticos à prisão de Crivella?
A prisão de Crivella vem sendo ignorada por bolsonaristas. Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus familiares, além de deputados bolsonaristas, ele sofreu uma derrota acachapante no segundo turno das eleições municipais. Adversária política dentro do PSL, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) ironizou a prisão.
Paes, o prefeito eleito, evitou citar o ainda prefeito. Pelas redes sociais, limitou-se a informar ter conversado com Jorge Felippe, que assumirá a prefeitura até o fim do ano.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), derrotado por Crivella no segundo turno das eleições de 2016, ironizou a prisão em suas redes sociais.
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