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Compra de vacina sob suspeita

O Planalto contra-ataca: as estratégias do governo para reagir às acusações do caso Covaxin

Covaxin reação
Bolsonaro e seu núcleo de ministros e assessores mais próximos: reação às denúncias dos irmãos Miranda. (Foto: Marcos Correa/PR)

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A desqualificação da imagem do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e a abertura de investigação contra o parlamentar são as apostas do governo para reduzir o desgaste político que vem sofrendo no caso Covaxin. Durante e após o depoimento de Miranda na última sessão da CPI da Covid, na sexta-feira (25), senadores governistas deixaram claras as estratégias do Palácio do Planalto para reagir às supostas irregularidades no processo de compra do imunizante.

Uma delas é manter as investigações sobre Miranda e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde. Na última quarta-feira (28), o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, afirmou que o governo enviou ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, a solicitação de abertura de inquérito na Polícia Federal.

O governo acredita que uma investigação sobre os irmãos Miranda possa dar subsídios que apontem ilicitudes ou incoerências das acusações feitas pelos depoentes. "É muito importante entender o que levou o servidor a retirar um documento do SEI [Sistema Eletrônico de Informações] para apresentar ao irmão e ao presidente [Jair Bolsonaro] se ele mesmo já sabia que o documento tinha sido corrigido", diz um interlocutor do Planalto à Gazeta do Povo.

Tão logo o erro do invoice (documento semelhante a uma nota fiscal que detalha aspectos de um contrato de importação) foi identificado, interlocutores do governo afirmam que o setor ao qual o servidor Luís Ricardo está lotado pediu a alteração.

"Por que hoje, três meses depois, com o documento corrigido, ele insiste em levar à imprensa o documento que já foi substituído? Qual o interesse dele em levar adiante uma narrativa que ele sabe ser inverídica", pondera um segundo interlocutor palaciano ao defender as investigações sobre os irmãos Miranda.

O servidor da Saúde disse ter estranhado a pressão para autorizar a importação de 3 milhões de doses da Covaxin (300 mil frascos de 5 ml cada) em meio a, segundo ele, inconsistências do invoice com o contrato. O pagamento por exemplo, previsto para ser efetuado após a entrega, pelo invoice deveria ser feito de forma antecipada.

Governo foca em desqualificação da imagem de Luis Miranda

Outra estratégia do governo é desqualificar a imagem do deputado Luis Miranda e, consequentemente, colocar em xeque as denúncias apresentadas pelos irmãos na última sessão da CPI da Covid.

O primeiro a dar o tom da estratégia foi o senador Marcos do Val (Podemos-ES), ainda na CPI da Covid, com a tentativa frustrada em mostrar um vídeo de uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, sobre Miranda ter praticado supostos golpes nos Estados Unidos. A transmissão foi interrompida por não ter relação com o depoimento. Os dois discutiram no intervalo da sessão e o senador chegou a empurrar o deputado durante a discussão.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Marcos do Val voltou a colocar Miranda sob suspeita. "É um cara que a gente tem que dar limites, se não, a gente avança e é capaz de dizer o que nunca foi dito", disse em um primeiro momento. "Quem conhece o deputado federal, percebe que é um cara que fala demais e é pouco conteúdo", avaliou, em outro comentário.

No sábado (26), pelas redes sociais, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do partido, procurou desqualificar Miranda. "Parece que muitos já esqueceram quem é, na verdade, o deputado Luís Miranda, que se colocou ontem como paladino da justiça durante a CPI da Covid", comenta.

O senador Jorginho Mello (PL-SC), vice-líder do partido, foi outro a questionar a credibilidade das denúncias apresentadas por Miranda. "A pergunta do dia: você compraria um carro usado do deputado Luis Miranda?", disse, pelas redes sociais, na sexta-feira. Durante o depoimento, ele também entrou em rota de colisão com Miranda e os dois discutiram durante a sessão.

"Erros formais" e pagamento não concluído da Covaxin: as outras defesas

O presidente Jair Bolsonaro adotou uma estratégia própria para tirar qualquer responsabilidade sobre as suspeitas envolvendo a vacina da Covaxin. "Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, vou na confiança em cima de ministro, e nada fizemos de errado", disse nesta segunda-feira (28) ao citar que são 22 ministérios. "Agora, os caras botam a narrativa 'a vacina fissura o governo Bolsonaro no tocante à corrupção'", disse.

Outra estratégia usada pelo governo junto à base governista no Senado é a de tratar as incongruências sobre os invoice como "erros formais" e sustentar que nenhum centavo foi desembolsado pela compra das 4 milhões de doses contratadas da Covaxin.

É o que dizem interlocutores do Planalto, ao citar os apontamentos feitos pelo senador Marcos Rogério (DEM-RO), líder do partido, em seus questionamentos e em entrevistas à imprensa. "Tudo que a oposição tem para apurar são meros erros formais em um processo administrativo de compra de vacinas onde não se pagou um centavo sequer deste contrato", declarou, em entrevista à CNN Brasil.

A leitura feita no governo é que o parlamentar tem sido um dos mais enfáticos defensores nessa linha de estratégia definida pelo governo. Como afirmou o próprio Marcos Rogério, ele e outros senadores estiveram em duas ocasiões com o governo para conhecer o processo e as informações das acusações dos irmãos Miranda.

Segundo o senador, evitar dar palanque para a oposição foi um dos motivos de Bolsonaro não ter levado as suspeitas à Polícia Federal. "Caso o presidente Bolsonaro tivesse feito o que a oposição, hoje, denuncia que seria a obrigação dele, hoje a acusação da oposição seria outra, de que o presidente agiu sem a devida cautela, acusando o presidente de obstruir a compra de uma vacina, simples assim", disse.

Outra argumentação usada pelo governo é de que, ao contrário do que argumentam os senadores do chamado G7 — os independentes e de oposição ao governo —, Bolsonaro não prevaricou ao tomar conhecimento das informações. "O presidente agiu como deveria agir, chamou o [ex-]ministro [da Saúde, Eduardo Pazuello]", afirmou Marcos Rogério. O ex-ministro, por sua vez, teria ordenado que a pasta continuasse observando e monitorando o processo.

Ricardo Barros permanece líder do governo; Planalto conta com apoio do Centrão

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), permanecerá na liderança. É o que apontam interlocutores do governo ouvidos pela reportagem. O parlamentar teria tido o nome citado por Bolsonaro sobre supostas irregularidades na compra da Covaxin. O relato foi feito por Luis Miranda à CPI da Covid.

Dois motivos explicam a decisão do governo em manter Barros. Primeiro, que o governo confia que todas as estratégias apontam que serão suficientes para desqualificar as denúncias e mostrar que não existe nenhuma ilicitude. O segundo motivo é que tirá-lo da liderança colocaria em risco a base governista no Congresso e fragilizaria o Planalto na própria CPI da Covid.

O deputado tem se manifestado nas redes sociais e negando qualquer envolvimento com a compra da Covaxin. No Planalto, assessores recordam que, mesmo o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), permaneceu no cargo, e que o mesmo deve ocorrer com Ricardo Barros.

Bezerra foi indiciado pela Polícia Federal por suspeita de ter recebido R$ 10 milhões em propina de empreiteiras quando ocupava o cargo de ministro da Integração Nacional, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Correção

Texto inicial afirmava que o invoice previa a compra de 300 mil doses da Covaxin. Na verdade, são 300 mil frascos de 5 mil, o equivalente a 3 milhões de doses.

Corrigido em 29/06/2021 às 15:51

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