O episódio de vandalismo e invasão ao prédio do Palácio do Planalto no último domingo (8) resultou em desgastes e críticas internas para pelo menos dois ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): José Múcio Monteiro Filho (Defesa) e ao general da reserva Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional - GSI). Durante a ação dos vândalos, os prédios do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) também foram atingidos.
Além das falhas apontadas na segurança pública do Distrito Federal, integrantes Planalto consideram que houve inação por parte dos dois ministros de Lula. A avaliação é de que ambos deixaram de agir diante das ameaças dos manifestantes críticos ao petista que estavam acampados no Quartel General do Exército em Brasília.
Na conta de Múcio, por exemplo, os integrantes do PT avaliam que o ministro da Defesa deveria ter sido mais contundente na desmobilização do acampamento em frente ao QG do Exército. Para essa ala do governo, o episódio de vandalismo e tentativa de invasão à sede da Polícia Federal no dia 12 de dezembro, data da diplomação de Lula, e o caso do artefato encontrado nas proximidades do aeroporto de Brasília nas vésperas da posse presidencial, deveriam ter sido suficientes para que Múcio costurasse a desmobilização do acampamento a partir do dia 1º de janeiro.
Apesar disso, Múcio fez um movimento contrário e chegou a dizer que nem todos os participantes dos atos eram radicais e que considerava a manifestação legítima. "Eu acho que aquilo vai se esvair. Aos pouquinhos aquilo vai se esvair e vai chegar ao lugar que todos nós queremos", disse Múcio ao tomar posse como ministro da Defesa.
Ações de Múcio para conter manifestantes divergiram do ministro da Justiça
Escalado por Lula para tentar pacificar a relação do petista com as Forças Armadas, Múcio foi visto pelos integrantes do PT como inerte aos manifestantes que invadiram os prédios da praça dos Três Poderes. A movimentação do chefe da pasta da Defesa foi na contramão de outros integrantes do governo Lula.
Logo após assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino orientou o novo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, a fazer um levantamento dos atos como terrorismo, vandalismo e incitação a golpes de Estado. “Atos terroristas, animosidade contra as Forças Armadas, são crimes políticos gravíssimos e estarão permanentemente à mesa do Ministério da Justiça, de acordo com o que a lei manda”, afirmou o ministro.
Após o episódio de vandalismo no Planalto, Dino afirmou que Múcio "optou pelo diálogo" para desmobilizar os acampamentos e que ele "não poderia ser condenado" por isso. Contudo, o chefe da Justiça indicou que não tinha "concordância integral" com o ministro da Defesa.
“A minha visão não é nesse sentido de martirização do ministro Múcio como sendo o grande vilão desse processo. Eu não compartilho dessa visão e tenho, ao contrário, solidariedade ao ministro Múcio, o que não significa concordância integral com as opiniões dele”, disse o ministro da Justiça.
Após a depredação aos prédios da República, Lula se reuniu com Múcio, com o general Júlio Cesar de Arruda, comandante do Exército; com o almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, e com o brigadeiro Marcelo Damasceno, comandante da Aeronáutica, para cobrar ações mais eficientes. De acordo com interlocutores do governo, Lula não pretende causar nem um rompimento neste momento, mas eles avaliam que o petista pretende ampliar a pressão sobre os integrantes das Forças Armadas.
GSI pode perder a Abin depois da invasão dos manifestantes ao Planalto
Outro ministro de Lula que saiu desgastado do episódio de vandalismo em Brasília foi o general da reserva Gonçalves Dias, responsável pelo GSI. O ministério é o responsável pela proteção da área interna do Planalto, de onde o presidente da República e ministros despacham.
Na avaliação dos aliados de Lula, Gonçalves Dias subestimou os monitoramentos do setor de inteligência, que já havia detectado ameaças dos manifestantes durante a semana da invasão. Para essa ala do governo, o general da reserva deveria ter reforçado a equipe de segurança do Planalto durante todo o final de semana.
Além disso, os invasores reviraram pastas de documentos e levaram armas e munições que estavam guardadas na sala do GSI. Nesta terça-feira (10), a Polícia Militar do Distrito Federal informou que localizou uma das armas de choque furtadas. Para os governistas, a invasão ao Planalto foi orquestrada e Gonçalves Dias poderia ter agido, pois a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - subordinada ao GSI - havia emitido alertas sobre os riscos.
Agora integrantes do governo defendem que a Abin deixe o GSI e passe a ser subordinada a uma pasta do Palácio do Planalto. Uma das possibilidades ventiladas é de que o setor de inteligência fique sob o guarda-chuva da Casa Civil, comandada pelo ministro Rui Costa. A medida seria uma forma de esvaziar o GSI, que vem cercado de desconfiança dos petistas desde o período de transição.
Ao se instalar no Centro de Cultural Banco do Brasil (CCBB) para a transição, o governo Lula rejeitou computadores e a rede de wi-fi oferecida pelos militares do GSI. À época, a pasta era comandada pelo general Augusto Heleno, um dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Além disso, a equipe de Lula retirou do GSI a função de segurança do presidente, que atualmente vem sendo exercida pela Polícia Federal.
Nesta semana, Flavio Dino afirmou publicamente que o GSI não atuou na segurança do Planalto durante as invasões. "Eu quero crer que o general Gonçalves Dias, que é o chefe do GSI, assim como o ministro Múcio estão avaliando essa circunstância. De fato, a sua premissa está correta: existe um contingente dedicado à proteção do que é a sede da Presidência da República. Os fatos mostram que esse contingente não atuou. E porque não atuou é realmente objeto de uma apuração que não se dá no âmbito do Ministério da Justiça; aí é uma apuração específica do GSI e do Ministério da Defesa. Quero crer que essa apuração ocorrerá", disse Dino.
Apesar das críticas internas, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou as reações do governo contra os integrantes do GSI. “O GSI, que é coordenado pelo general Gonçalves Dias, uma pessoa que comandou a segurança pessoal do presidente da República durante oito anos, nos primeiros governos do presidente Lula, certamente vai fazer a apuração se teve algum erro individual, como também essa apuração está sendo feito por outros ministérios”, afirmou Padilha.
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