Pelo menos 11 ministros do governo Bolsonaro devem deixar seus cargos até abril do ano que vem para concorrer nas eleições| Foto: Marcos Correa/PR
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O presidente Jair Bolsonaro deve promover uma nova reforma ministerial até abril do próximo ano. A expectativa é que ocorram mudanças no primeiro escalão em mais de uma dezena de ministérios. O motivo: as eleições de 2022. Nos bastidores, 11 ministros sinalizam a intenção de disputar cargos eletivos em seus estados. São eles:

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  • Tereza Cristina (DEM), da Agricultura;
  • João Roma (Republicanos), da Cidadania;
  • Fábio Faria (PSD), das Comunicações;
  • Rogério Marinho (PL), do Desenvolvimento Regional;
  • Tarcísio de Freitas (sem partido), da Infraestrutura;
  • Anderson Torres (sem partido), da Justiça e Segurança Pública;
  • Damares Alves (sem partido), da Mulher, Família e Direitos Humanos;
  • Marcelo Queiroga (sem partido), da Saúde;
  • Flávia Arruda (PL), da Secretaria de Governo.
  • Onyx Lorenzoni (DEM), do Trabalho e Emprego;
  • Gilson Machado (sem partido), do Turismo.

A reforma ministerial é comentada em toda a Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes. Membros do Executivo, do Legislativo e do Judiciário têm o conhecimento de que alguns desses ministros podem vir a se desincompatibilizar para a disputa eleitoral, a pedido ou não de Bolsonaro.

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Os ministros precisarão deixar seus cargos até 2 de abril. O prazo se justifica pelo cumprimento às leis eleitorais. Para que ministros disputem as eleições do próximo ano, eles deverão se desincompatibilizar em um período de seis meses antes do pleito eleitoral, que tem seu primeiro turno previsto para 2 de outubro.

A reforma ministerial será a maior em todo a gestão de Bolsonaro. Ao fim de março deste ano, ele trocou seis ministros na Esplanada, embora tenha mantido quatro ministros e apenas os remanejou.

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O que Bolsonaro espera da candidatura de Tereza Cristina no MS

Tida como possível vice de Bolsonaro por alguns aliados do presidente da República, a ministra da Agricultura se prepara para lançar sua candidatura ao Senado. É um desejo pessoal dela, que conta com o apoio do presidente e da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A expectativa é que ela se desfilie do DEM em março do ano que vem, quando a janela de mudanças partidárias abre, e vá para o PP — não ao PL, o novo partido de Bolsonaro.

A candidatura de Tereza atende a um dos principais objetivos de Bolsonaro: ampliar sua base no Senado. Na disputa, a expectativa é que ela neutralize a candidatura à reeleição de uma opositora do governo, a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

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A senadora foi alçada como pré-candidata de seu partido à Presidência da República, mas pode acabar como vice na chapa do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ou ser apoiada para a reeleição caso o MDB e o PSDB decidam apoiar a candidatura do ex-juiz Sergio Moro (Podemos).

Com Tebet sendo confirmada à Presidência, a vice de Doria ou à reeleição, Bolsonaro conta com Tereza Cristina para ter uma vaga "garantida" no Senado. A leitura feita no Planalto é que, com todo o capital político adquirido enquanto ministra da Agricultura e com o apoio do presidente, ela tem tudo para assegurar a única vaga em disputa na sua base eleitoral.

A disputa na Bahia: o que esperar de João Roma

O ministro da Cidadania pode ser um forte cabo eleitoral de Bolsonaro na Bahia. João Roma foi o responsável por arquitetar o Auxílio Brasil, o novo programa social do governo, e acredita que possa ter conquistado o capital político e social necessário para ter um peso preponderante para disputar o governo ou o Senado.

O presidente é um entusiasta da ideia de Roma lançar candidatura ao governo, uma vez que seu ministro e o presidente nacional do DEM, ACM Neto, pré-candidato ao governo da Bahia, estão rompidos desde que o auxiliar do governo assumiu o ministério. Ele já foi chefe de gabinete de ACM, e isso irritou o demista, que se distanciou de Bolsonaro.

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A disputa do governo da Bahia está entre ACM Neto e o senador Jaques Wagner, pré-candidato do PT a suceder o governador Rui Costa (PT). No estado, o PP, partido presidido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, ocupa o posto de vice no governo petista.

Enquanto ACM poderia oferecer palanque a Moro, Bolsonaro carece de alguém que lhe dê estrutura político-eleitoral no estado. Um problema, contudo, é que o Republicanos estuda apoiar a candidatura do presidente do DEM e não ter candidato próprio, o que forçaria Roma a abandonar o partido e se filiar a outro, possivelmente o PL.

Como fica a divisão no RN entre Fábio Faria e Rogério Marinho

Assim como a ministra Tereza Cristina, o ministro das Comunicações é outro que chegou a ser sondado para ser vice de Bolsonaro. Nordestino e genro do apresentador Sílvio Santos, uma avaliação feita no Planalto é que ele poderia ser um vice de peso para o presidente. Não à toa é um dos nomes que chegou a ser estudado pelo ministro Ciro Nogueira para o posto.

A ideia de Faria é se desfiliar do PSD assim que a janela de mudanças partidárias se abrir e se filiar ao PP. Como existe um acordo para o partido de Nogueira indicar o vice na chapa com Bolsonaro filiado ao PL. A probabilidade de ele sair candidato a vice, contudo, não é certa.

O objetivo pessoal de Faria é ser candidato ao Senado pelo Rio Grande do Norte. Ele só não conta com o apoio de Bolsonaro porque o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, igualmente potiguar, almeja o mesmo posto.

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Os dois querem a bênção de Bolsonaro, mas o presidente diz que não vai atuar como mediador dos interesses de seus ministros. Uma sugestão trabalhada nos bastidores é que Faria saia candidato ao Senado pelo PP e Marinho, que se filiou ao PL no mesmo dia que o presidente da República, seja candidato ao governo do Rio Grande do Norte, afinal, é outro estado onde Bolsonaro não dispõe de palanque.

O coringa Tarcísio: o que esperar da candidatura do ministro da Infraestrutura

O ministro da Infraestrutura é o maior coringa político de Bolsonaro para as eleições de 2022. Ele pode ser candidato tanto ao governo de São Paulo, quanto ao Senado por Goiás, Mato Grosso ou Tocantins.

Após se filiar ao PL, Bolsonaro passou a insistir em uma candidatura de Tarcísio ao governo de São Paulo. O partido deixou as portas abertas para discutir isso, apesar das recomendações do presidente da legenda Valdemar Costa Neto em lançar o ministro ao Senado por Goiás.

Particularmente, o próprio Tarcísio tem maior apreço à ideia de tentar uma caga de senador por Goiás. Mas ele também não se nega a atender ao pedido feito por Bolsonaro para ser candidato ao governo paulista, outro estado onde o presidente não tem palanque.

O cenário pode ser ainda mais favorável a Tarcísio em São Paulo com a provável saída de Geraldo Alckmin do páreo. O ex-tucano foi convidado a ser o vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para Presidência em 2022, o que o tiraria da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Segundo interlocutores, Alckmim estaria propenso a aceitar o convite.

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Flávia Arruda e Anderson Torres: como encaixar os candidatos no DF

O cenário eleitoral da ministra-chefe da Secretaria de Governo e do ministro da Justiça e Segurança Pública é conflitante. Aos deputados federais da "bancada da bala" mais próximos, Anderson Torres confidenciou o desejo de sair candidato ao Senado, mesmo posto almejado por Flávia Arruda.

Um desses deputados da base do governo confirmou o desejo de Torres à Gazeta do Povo. A ideia levantada por ele é apoiar Flávia para a disputa do governo do DF. Acontece, contudo, que ela também não deseja a disputa do governo distrital.

O cenário estudado por Flávia é sair ao Senado com o apoio do governador do DF, Ibaneis Rocha, que, por sua vez, flerta com um palanque com o empresário Paulo Octávio (PSD). A possibilidade de ela sair à reeleição ao posto de deputado federal não está descartada, mas o desejo é manter a disputa pelo cargo ao Senado.

Inclusive, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), demonstrou a Bolsonaro o desejo de sair candidata ao Senado, mas o presidente explicou a ela que os acordos costurados com o PL previam o apoio à candidatura de Flávia. Caso se confirme a candidatura da ministra ao Senado, Torres lançará sua candidatura à Câmara.

O que esperar de Damares Alves, "a" coringa de Bolsonaro

Se Tarcísio de Freitas é "o" coringa de Bolsonaro, Damares Alves é "a" coringa do presidente no jogo político para 2022. Tal como Tereza Cristina e Fábio Faria, é outra candidata cotada a ser vice. O fato de ser mulher, evangélica e ter boas conexões com o Norte e o Nordeste agregam a ela um peso considerado relevante no Planalto.

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O próprio Bolsonaro já demonstrou a interlocutores que gostaria de ter Damares como sua vice. Entretanto, ela própria nunca se apegou à ideia. Até meados de novembro, na verdade, a ministra não demonstrava vontade de sair candidata a nenhum cargo eletivo. A partir da metade de novembro, porém, ela admitiu a alguns deputados e senadores que poderia sair candidata ao Senado e que estaria avaliando por qual estado. Caso decida se lançar a senadora, ela cogita a filiação ao Republicanos.

Natural do Paraná, Damares viveu a infância na Bahia, Alagoas e Sergipe. Na Bahia, com as sinalizações da candidatura de João Roma, a ideia é que o posto de senador fosse de alguém do Centrão. Em Alagoas, o deputado Arthur Lira (PP-AL) quer emplacar junto a Bolsonaro um nome indicado por ele.

A opção de Damares sair candidata a Sergipe é algo bem avaliado pelo deputado federal Laércio Oliveira (PP-SE), presidente do diretório sergipano do partido. Os dois são amigos pessoais. Aliado de Bolsonaro, ele deseja disputar o governo do estado, embora o presidente o queira no Senado. Caso a ministra aceite sair candidata ao Senado pelo PL, ambos poderiam oferecer palanque ao chefe do Planalto.

Outra alternativa aventada por aliados é o lançamento de uma candidatura de Damares ao Senado pelo Pará, onde ela tem um trabalho elogiado pelo deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), pré-candidato ao Senado por Minas Gerais. "Ela tem um trabalho muito forte no Pará, principalmente ali na Ilha de Marajó, Alter do Chão. Ela tem um prestígio muito grande no estado", disse o ex-ministro do Turismo à Gazeta do Povo.

Da pandemia ao embate político: o que esperar de Marcelo Queiroga

O ministro da Saúde assumiu a pasta para resolver o problema da vacinação no Brasil e pode solucionar outro impasse para Bolsonaro: oferecer um palanque na Paraíba. Marcelo Queiroga disse a deputados que pode sair ao Senado ou ao governo do estado, segundo revelou um desses parlamentares à reportagem.

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O auxiliar ainda não se mostra tão convencido com a ideia. Em setembro, ele desmentiu uma informação publicada pelo site O Bastidor, de que teria comunicado a Bolsonaro o desejo de não permanecer à frente do Ministério da Saúde. O auxiliar demonstrou insatisfação em não conseguir impor sua autoridade na pasta.

Um interlocutor do Planalto confirma a informação e, inclusive, que Queiroga teria entrado em acordo com Bolsonaro para ficar até o fim de 2021, quando a vacinação deve superar os 70% completos da população. "Houve um descompasso, o presidente gritou com ele e o Queiroga pediu demissão", admite a fonte palaciana.

A relação entre os dois no momento, entretanto, melhorou. O próprio Queiroga se sentiu entusiasmado, segundo deputados, quando foi com Bolsonaro ao interior da Paraíba em outubro e ouviu gritos de "governador". O ministro segue focado no combate à pandemia, mas reconhece a deputados que não descarta se lançar candidato.

Senado ou governo: para onde vai Onyx Lorenzoni

Um dos mais antigos aliados de Bolsonaro na equipe ministerial, o ministro Onyx Lorenzoni iniciou o governo como ministro-chefe da Casa Civil, depois foi para a Secretaria-Geral e, desde agosto, é o ministro do Trabalho e Emprego. Fiel ao presidente, ele espera ser recompensado com o apoio do chefe para disputar o governo do Rio Grande do Sul.

Porém, assim como Bolsonaro decidiu não interferir na disputa pela vaga única ao Senado no Rio Grande do Norte entre os ministros Fábio Faria e Rogério Marinho, o presidente não demonstra disposição em atuar como mediador na política gaúcha.

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Além de Onyx, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que foi membro da "tropa de choque" de Bolsonaro na CPI da Covid, é outro que quer disputar o governo gaúcho. Bolsonaro disse a ambos que não escolheria um candidato, embora alguns aliados sugiram que ele busque a palavra final.

Uma solução discutida nos bastidores é Onyx sair candidato ao Senado pelo PL, como particularmente deseja Bolsonaro, apesar de o presidente não desejar impor sua vontade a seu ministro, e Heinze ao governo do Rio Grande do Sul. Por ter sido eleito em 2018, o senador pode disputar o governo sem risco de perder o mandato, já que ainda terá mais quatro anos pela frente.

As opções na mesa de Gilson Machado em 2022

O ministro do Turismo é, assim como Damares Alves e Tarcísio de Freitas, outro com mais de um estado a cogitar uma candidatura. Natural de Recife, Gilson Machado é cotado para ter uma candidatura ao Senado em uma chapa com o prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE), Anderson Ferreira (PL), candidato a governador do estado.

Embora uma candidatura por Pernambuco seja o "plano A" do ministro do Turismo, ele também tem como opções o lançamento de uma candidatura por Alagoas e Tocantins, afirma o deputado Marcelo Álvaro Antônio, ex-ministro do Turismo.

"Embora seja de Pernambuco, Gilson Machado tem uma relação muito próxima com outros estados também, por exemplo, Alagoas e Tocantins. É um ministro que tem demonstrado lealdade excepcional ao presidente. Eu acredito que o ministro Gilson deve estar estudando pelo menos esses três estados com uma possível candidatura ao Senado", declarou.

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