A Câmara dos Deputados deve promover, no início de junho, uma semana de votação de propostas ligadas à segurança pública. A ideia é costurada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e tem o apoio de parlamentares alinhados com o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Os defensores da iniciativa esperam a votação de propostas que combatam o chamado "novo cangaço", que ampliem punições a quem comete feminicídio e também que atendam a demandas corporativas dos profissionais da segurança pública. As categorias do setor apoiaram Bolsonaro em 2018 e tendem a defender a reeleição do presidente em outubro, mas contestam decisões administrativas do governo e muitos falam em "abandono" da categoria por parte do governo. Uma das medidas tomadas pelo Planalto que desagradou o setor foi a reforma da Previdência, que reduziu o valor de aposentadorias de profissionais da segurança.
A fonte das propostas que serão submetidas a votação é a Comissão de Segurança Pública, que atualmente é presidida por Aluísio Mendes (PSC-MA) e que tem apoiadores do governo em sua cúpula – o vice-presidente é Daniel Silveira (PTB-RJ).
Na próxima quarta-feira (25), a comissão deve se reunir para fechar uma lista de proposições que poderão fazer parte do mutirão de votações. Segundo Mendes, a ideia é apresentar a Lira proposições que tenham "o mínimo consenso" e, portanto, tenham mais chances de aprovação. No sistema de votação idealizado por Lira, as propostas estarão em regime de urgência, e portanto não precisarão ser apreciadas por comissões, podendo ser levadas diretamente ao plenário.
"Foi um acordo, fiz isso com ele [Lira] no início do ano. Eu, junto com ele, queríamos uma semana de votações. Há débito grande [com a agenda da segurança pública]", diz Mendes. "Daremos prioridade a projetos que aumentam pena contra crimes de feminicídio, crianças e adolescentes, novo cangaço, projeto que visam a aumentar as penas com relação à violência e crimes contra idosos. Temos projetos também que restringem as 'saidinhas', um projeto que restringe a concessão de liberdade condicional para presos", acrescentou o parlamentar.
O deputado Capitão Augusto (PL-SP), presidente da Frente Parlamentar de Segurança, elenca ainda o projeto que cria um novo Código de Processo Penal, em tramitação há anos na casa. Augusto, que lidera a "bancada da bala", citou também a criação das leis orgânicas da Polícia Militar e da Polícia Civil como projetos que podem ser votados em junho.
O projeto da lei para a Polícia Militar tramita há mais de 20 anos na Câmara e busca substituir a norma que regula a categoria, um decreto-lei elaborado em 1969. Já Mendes disse esperar apoio do Ministério da Justiça para o avanço da iniciativa.
Como a oposição vê o pacote de segurança pública
Membro da Comissão de Segurança Pública da Câmara, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que a prioridade da oposição no período será a de "evitar retrocessos" no combate à violência. "Eles [base aliada de Bolsonaro] estão querendo discutir pautas corporativas, propostas que dão autonomia às polícias, que nós somos contra. Nada disso é para ampliar a segurança, é sim para fazer corporativismo, atender às corporações", diz.
Teixeira afirma que não foi chamado para conversar sobre a semana de votações. Além dele, o único outro integrante do PT que é titular na comissão é Reginaldo Lopes (MG). Outros partidos de oposição, como Psol e PCdoB, não têm atualmente titulares no colegiado.
Qual pode ser a influência do tema nas eleições
Teixeira acusa os aliados de Bolsonaro de "fazer populismo com a legislação" de segurança pública. O parlamentar avalia que o tema "terá um peso grande" no debate eleitoral de 2022.
O combate à violência foi um dos temas que norteou a eleição presidencial de 2018. Então candidato, Bolsonaro reforçou suas bandeiras de endurecimento da legislação penal, que defendera ao longo de sua carreira como deputado. Ele também explorou o crescimento dos índices de violência durante os 13 anos de gestão do PT no país. O plano de governo de Bolsonaro relacionava o aumento da criminalidade com o tráfico de drogas e vinculava o comércio de entorpecentes com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo que participou do Foro de São Paulo, entidade que reúne partidos de esquerda e que é liderada pelo PT.
Para o deputado Capitão Augusto, a votação de temas ligados à segurança "acaba agradando bastante as instituições policiais" e evita que a categoria, historicamente alinhada com Bolsonaro, rejeite o presidente. "Com certeza o pessoal fica mais entusiasmado para trabalhar para a reeleição do presidente Bolsonaro", diz.
Colaborou Rodolfo Costa.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF