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Partidos que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro e um que se coloca como independente ao governo ainda não definiram seu posicionamento na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, que tem a eleição agendada para fevereiro. Somadas, as legendas detêm mais de 130 parlamentares. Os votos desses deputados podem ser o "fiel da balança" em uma corrida que, até o momento, se mostra equilibrada.
Os partidos de oposição que ainda não definiram seu voto são Rede, PSB, PDT e PCdoB. Apesar de as legendas estarem do mesmo lado na contestação ao presidente da República, não necessariamente se posicionarão da mesma forma na disputa pelo comando da Câmara.
Já o Novo é o partido independente que ainda não consolidou seu posicionamento na corrida a sucessão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A legenda conta com oito deputados federais.
Os demais partidos que têm representantes na Câmara estão divididos, em linhas gerais, em quatro grandes grupos.
Um é o que apoia a candidatura do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL). Nesse bloco estão PP, PSC, Patriota, PL, PP, PSD, Solidariedade, PTB, Pros e Avante.
O outro grupo tem como referência o atual presidente, Rodrigo Maia, e ainda não definiu seu nome na disputa. As siglas que estão ao lado de Maia são MDB, PSDB, DEM, Cidadania, PV e PSL.
O terceiro segmento foi formado recentemente e é o de apoio à candidatura de Marcos Pereira (Republicanos-SP), o atual vice-presidente da Câmara. Além do Republicanos de Pereira, o bloco conta com o Podemos, que tem 10 deputados. "Marcos é um nome viável, conhecido como um sujeito de palavra. Penso que ele tem chances muito grandes. Ele traz muita segurança à Câmara", declarou o líder do Podemos, Léo Moraes (RO).
Já o Psol, que também conta com 10 deputados, forma a quarta subdivisão. O partido deve apresentar uma candidatura própria, que sabe ter poucas chances de vitória. É o que, no meio político, se chama de "candidatura para marcar posição" – quando a inscrição de um nome é feita para que o candidato tenha espaço para participar de debates e expor as ideias do partido. O Psol costuma usar essa tática: em 2019 lançou Marcelo Freixo (RJ) e, em 2016 e 2017 apresentou Luiza Erundina (SP). O partido espera a adesão de outras forças de esquerda ao projeto, e deve ter o apoio do PT: na sexta-feira (11), a legenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que as bancadas de Câmara e Senado devem buscar a "unidade das oposições" nas eleições internas.
Novo quer apoiar um reformista para comandar a Câmara
A estratégia de "marcar posição" defendida pelo Psol também foi adotada pelo Novo em 2019, ocasião em que o partido disputava pela primeira vez uma eleição para o comando da Câmara. Na ocasião, a sigla apresentou o nome do deputado Marcel Van Hattem (RS), que recebeu 23 votos e ficou em quarto lugar na disputa.
Para a disputa de 2021, o partido ainda não definiu apoio a nenhuma das candidaturas. A bancada ainda está produzindo uma lista com pautas que apresentará aos nomes da disputa. Entre os temas defendidos pelo partido estão a condução das reformas – tanto as do plano nacional, como a administrativa e a tributária, quanto a do regimento interno da Câmara.
O que os partidos de esquerda querem
Parte dos oposicionistas que ainda não se definiram defende a apresentação de uma candidatura que represente os posicionamentos da esquerda no Legislativo. Na atual conjuntura política, seria uma atitude parecida com a do Psol, apenas para "marcar posição" e expor a plataforma política dessas siglas.
Outros integrantes da oposição são favoráveis à adesão a candidaturas mais viáveis politicamente. Em linhas gerais, esses partidos querem aderir a um candidato que lhes garanta "espaço" na Câmara. Ou seja, que garanta que deputados dessas siglas terão assentos em comissões e sejam indicados, por exemplo, para relatorias de projetos importantes.
Outro objetivo desse grupo "pragmático" da oposição é assegurar que projetos de lei de seu interesse sejam colocados em votação e que assuntos que eles combatem não sejam levados a plenário.
O PT chegou a sinalizar com este grupo "pragmático". Representantes da sigla conversaram com Arthur Lira e ouviram do alagoano a promessa da tramitação de projetos para de financiamento a sindicatos (que perderam recentemente o imposto sindical), a revisão de pontos da Lei da Ficha Limpa e o "combate ao lava-jatismo" (uma série de propostas no Congresso dificultam o combate à corrupção). Os petistas também teriam condicionado o apoio a um distanciamento de Lira da agenda de costumes e da pauta conservadora – ponto relevante para os apoiadores de Bolsonaro. Mas a decisão da Executiva Nacional enterrou a possibilidade.
Esquerda não está unida na disputa pelo comando da Câmara
A candidatura própria do Psol à presidência da Câmara foi anunciada nas redes sociais pela líder do partido, Sâmia Bomfim (SP). "Lira é o candidato do Bolsonaro na Câmara. A saída do ministro do Turismo e a liberação recorde de emendas estão constituindo a base de apoios de que ele precisa. O Psol vai lançar candidatura e apresentar para a oposição. Candidatura de oposição ao bolsonarismo!", postou a parlamentar na quarta-feira (9).
A publicação de Bomfim motivou críticas a uma candidatura isolada do Psol dentro da esquerda. O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) argumentou contra militantes de esquerda que se posicionaram contra a iniciativa do partido. Braga contestou principalmente o PDT, que, segundo ele, estaria encaminhando uma aliança com Rodrigo Maia.
As discussões entre Bomfim, Braga e militantes resumem o quadro que marca a indefinição da esquerda na disputa atual. Em meio à incerteza, parte do PSB chegou a sinalizar apoio à candidatura de Arthur Lira, o que posteriormente foi desmentido pelo líder do partido, Alessandro Molon (RJ). Na sexta-feira (11), a Executiva Nacional do partido rejeitou o apoio a Lira e a qualquer nome próximo a Bolsonaro. A decisão foi tomada por unanimidade, com 80 votos a favor.
Para a líder do PCdoB, Perpétua Almeida (AC), o fato de Lira ser o candidato de Bolsonaro "inibe o apoio da esquerda inteira" a seu nome. "A esquerda tem intenção de reforçar o Bolsonaro? O que nós precisamos é tomar decisões conjuntas que tenham como foco o enfrentamento a Bolsonaro", disse. A deputada apontou que o PCdoB não tomará decisão de forma isolada e que tem como principais pautas na disputa a defesa da independência da Câmara e o "respeito à democracia interna da casa".
Em 2019, o PCdoB apoiou a candidatura de Rodrigo Maia, o que levou a atritos entre o partido e o PT, seu maior aliado histórico – os petistas ficaram ao lado de Marcelo Freixo (Psol-RJ).
Maia disse, em entrevista coletiva na quinta-feira (10), que seu bloco "está conversando com os partidos de esquerda". O entendimento dos integrantes da esquerda que apoiaram Maia em 2019 e que defendem a adesão a alguma das candidaturas favoritas em 2021 é o de que isso pode fazer com que as siglas consigam ocupar algumas posições de decisão na Câmara, o que se tornaria mais difícil caso os partidos se apresentem como adversários do vencedor da disputa.
Apoio de partido não significa adesão total da bancada
O apoio formal de um partido a algum candidato à presidência da Câmara não garante que esse nome terá todos os votos daquela bancada. A votação para os cargos de direção da Casa é secreta – o que possibilita aos deputados descumprirem acordos feitos pelas lideranças partidárias.
Há parlamentares que publicamente se posicionam de forma distinta da cúpula de seus partidos. Kim Kataguiri (DEM-SP), por exemplo, declarou que ainda não se definiu na disputa, embora seu partido já tenha se decidido a apoiar o candidato do grupo de Rodrigo Maia.
Já o PSL, que formalmente está no bloco liderado por DEM e MDB, é um partido rachado desde a crise do ano passado que culminou com a saída do presidente Bolsonaro do partido. Apesar de o líder da legenda na Câmara, Felipe Francischini (PR), ter assinado a adesão ao bloco, as forças governistas do PSL devem apoiar a candidatura de Arthur Lira, que é citado como o candidato "oficial" do Palácio do Planalto.