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O presidente Jair Bolsonaro não irá desacompanhado para o PL. Após sua filiação nesta terça-feira (30), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o primeiro a acompanhar o chefe do Planalto e assinar a ficha de adesão ao Partido Liberal. Por ter sido eleito no sistema majoritário, Flávio é "dono" de seu mandato e pôde deixar o Patriota sem aguardar o início da janela partidária — período para que candidatos mudem de legenda sem risco de perder o mandato —, que abre em março de 2022.
Junto de Bolsonaro, então filiado ao PSL, foram eleitos quatro senadores e 52 deputados federais. Dos senadores, apenas Flávio deve acompanhar o pai ao PL — embora não disputará as eleições em 2022. A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), a última remanescente entre os eleitos, tende a permanecer na legenda.
Dos 52 deputados federais mais a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que foi eleita pelo PRP e se filiou à atual legenda após a fusão de sua sigla inicial com o Patriota, em torno de 20 deputados devem acompanhar Bolsonaro ao PL.
Dos atuais 54 deputados federais do PSL — o deputado Celso Sabino (PSL-PA) se filiou neste ano após deixar o PSDB —, um grupo de 25 integra a base mais fiel a Bolsonaro. Desses, cinco podem acabar parando em outros partidos: PP, Republicanos, PSC e PTB são alguns avaliados por esses deputados.
Reeleição, Senado ou governo: o que planejam os deputados que seguirão Bolsonaro
Dos cerca de 20 deputados que devem acompanhar Bolsonaro, 18 tendem a lançar sua candidatura à reeleição pelo PL. Os únicos que devem lançar uma candidatura a um cargo do sistema majoritário são os deputados Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), que tentará o Senado, e Vitor Hugo (PSL-GO), que sonda o governo de Goiás.
Confira, abaixo, os 25 deputados da base ideológica que devem acompanhar Bolsonaro no PL ou não:
- Alê Silva (PSL-MG)
- Aline Sleutjes (PSL-PR)
- Bia Kicis (PSL-DF)
- Bibo Nunes (PSL-RS)
- Carla Zambelli (PSL-SP)
- Carlos Jordy (PSL-RJ)
- Caroline de Toni (PSL-SC)
- Chris Tonietto (PSL-RJ)
- Coronel Armando (PSL-SC)
- Coronel Chrisóstomo (PSL-RO)
- Coronel Tadeu (PSL-SP)
- Daniel Silveira (PSL-RJ)
- Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
- Filipe Barros (PSL-PR)
- General Girão (PSL-RN)
- Helio Lopes (PSL-RJ)
- Junio Amaral (PSL-MG)
- Luiz Lima (PSL-RJ)
- Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP)
- Major Fabiana (PSL-RJ)
- Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG)
- Márcio Labre (PSL-RJ)
- Nelson Barbudo (PSL-MT)
- Sanderson (PSL-RS)
- Vitor Hugo (PSL-GO)
O deputado Sanderson, vice-líder do governo na Câmara, diz que a maioria do núcleo-duro dos deputados federais que integram a base de Bolsonaro deve segui-lo ao PL. "Nós temos convites do partido e de vários outros, mas com a filiação do presidente, a tendência é a maioria acompanhá-lo", destaca. Ele é um dos que acompanhará o presidente.
O deputado federal Bibo Nunes (RS), vice-líder do PSL, é outro que acompanhará Bolsonaro. Antes da decisão do presidente, ele estudava uma filiação ao PSC e atuou junto a seus colegas e amigos de partido para que seguissem para o PSC. "Mas como surgiu a definição do presidente, eu vou para o PL", afirma.
Diferentemente de outros, Nunes afirma que vai se filiar ao Partido Liberal tão logo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) homologue a fusão entre PSL e DEM, fato que abriria uma janela partidária exclusiva para os filiados de ambos os partidos se filiarem a outra legenda. "Os outros vão esperar a janela [partidária] porque não querem perder seus assentos nas comissões. A comissão que mais me interessa é a do Turismo e lá, quem me colocou não foi o PSL, foi o Podemos", declara.
O deputado Márcio Labre é outro que se filiará ao PL. Assim como Nunes, ele mantinha conversas com o Republicanos, mas aceitou o convite para acompanhar Bolsonaro. "A política é assim. Eu já tinha definido que iria e a ida do presidente é uma feliz coincidência, porque permitirá construirmos uma chapa verticalizada", destaca.
O que Vitor Hugo e Marcelo Álvaro Antônio esperam para 2022
Os únicos deputados da base ideológica a sondar as eleições com uma candidatura majoritária, Marcelo Álvaro Antônio, ex-ministro do Turismo, e Vitor Hugo, líder do PSL, estão em conversas avançadas para cacifar suas candidaturas ao Senado em Minas e ao governo de Goiás. Os dois ainda aguardam a decisão de Bolsonaro e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
A palavra final para as candidaturas majoritárias, como as de Álvaro Antônio e Vitor Hugo, passam, naturalmente, por Bolsonaro e Costa Neto, que teriam que bater o martelo. Em conversas com o mandatário do PL, o presidente da República demonstrou o desejo de apoiar ter seu ex-líder do governo na Câmara e seu ex-ministro do Turismo disputando os respectivos cargos almejados.
Na última quarta-feira (24), Álvaro Antônio esteve com Costa Neto para discutir sua candidatura ao Senado pelo PL, como antecipou a Gazeta do Povo. "A conversa já existe e a nossa construção, obviamente, é que essa candidatura possa ocupar uma vaga na chapa do governador [Romeu] Zema. Claro que é uma construção que ainda precisa ser consolidada, mas o governador é uma pessoa que tem sido muito bem alinhada com o governo federal", afirmou.
Líder do PSL, Vitor Hugo diz que colocou seu nome "à disposição" do presidente para ser candidato ao governo de Goiás pelo PL, mas admite que isso ainda está por ser definido. Ele explica que tem se reunido com empresários do agronegócio e lideranças políticas em Goiás para viabilizar sua candidatura.
"Existe uma via aberta de grande insatisfação e desconfiança do eleitorado da direita com o governador atual [Ronaldo Caiado]. Eu coloquei meu nome à disposição, caso [Bolsonaro] queira uma via raiz dele, estou disposto a ir em frente nesse combate", afirma. Filiado ao DEM, foi um dos principais avalistas para a fusão da legenda com o PSL, que se chamará União Brasil tão logo o partido seja homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A insatisfação do eleitorado da direita com Caiado se deve ao distanciamento de Caiado junto a parte das bases que o apoiaram em 2018, diz Vitor Hugo. "Ele veio do agro e, conversando com o pessoal do agronegócio, embora eles não queiram colocar a cara para fora da 'toca' agora, o que eu mais escuto é insatisfação com o Caiado. Só não querem fazer um movimento de ruptura agora porque imaginam que teriam algum tipo de represália, mas a maioria está muito insatisfeita", afirma.
Vitor Hugo sentiu esse termômetro de insatisfação de empresários do agronegócio e da direita após diversas conversas nas bases. "Falo de lideranças formais e informais do agro, sindicatos, o setor produtivo como um todo está muito chateado", declara. "Tenho visto um cenário interessante nesse sentido, já me reuni com muitos presidentes de sindicatos patronais em Goiás, todos insatisfeitos com a política que conduzida por Caiado e com a forma como ele lidou com a pandemia, com falta de diálogo", diz.
O PL em Goiás sonda o prefeito de Aparecida de Goiânia (GO), Gustavo Mendanha (Sem partido), com quem tem melhor alinhamento. A filiação de Bolsonaro e a possibilidade de o presidente manter o apoio à candidatura de Vitor Hugo, entretanto, pode levá-lo a se filiar ao Republicanos. Para o líder do PSL, seria uma alternativa natural receber o apoio do presidente.
"O Gustavo Mendanha compôs com toda a esquerda em Aparecida. A chapa dele para a reeleição teve apoio de PT, PCdoB, PSDB, PV. Um cara que compõe com esses partidos, mesmo com outros partidos de centro, ou não entende, ou mesmo entendendo ignora tudo o que a esquerda fez. Não gostaria de imaginar o que ele faria caso chegasse a ser eleito", critica Vitor Hugo.
Por que alguns deputados podem não acompanhar Bolsonaro ao PL
Alguns dos deputados da base ideológica podem não seguir o presidente por motivos particulares, embora não descartem a filiação ao PL. O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança demonstrou nos bastidores estar desconfortável com a ideia de se filiar à sigla, dado o fato de o partido ser presidido por Valdemar Costa Neto, que foi condenado no esquema do mensalão.
O parlamentar recebeu convites do PSC e Republicanos e avalia se filiar a um desses dois partidos. O deputado Coronel Chrisóstomo é outro que pode ir na mesma linha e estuda uma filiação ao PSC. Outra que pode não seguir os passos de Bolsonaro é a deputada Alê Silva, que, segundo afirmam alguns colegas, deve ir ao Republicanos.
Já o deputado Daniel Silveira pode escolher o PTB. Quando ainda estava preso por decisão do STF, recebeu um convite para se filiar ao partido de Roberto Jefferson. Por uma questão de fidelidade, sua filiação é algo analisada por ele, a despeito do partido ter se distanciado de Bolsonaro.
A deputada Aline Sleutjes ainda estuda uma filiação ou não ao PL. Ela tem ofertas do PP e, segundo disse a pessoas próximas, poderia optar em se filiar ao partido que pode indicar o candidato a vice-presidente na chapa com Bolsonaro.
Por alguma resistência de lideranças do PL, mesmo outros deputados que gostariam de acompanhar Bolsonaro podem optar por se filiar a outro partido. É o exemplo da deputada federal Dra. Soraya Manato (PSL-ES). "O [ex-senador] Magno Malta [que será candidato ao Senado] não aceita o [ex-deputado Carlos] Manato e a Soraya Manato, porque tem uma rixa estadual entre eles", diz um deputado.
A possibilidade de alguns desses parlamentares não seguir Bolsonaro ao PL não significa que deixarão de apoiar o presidente nas eleições de 2022 e optarão por apoiar algum candidato da terceira via. "Apenas estão analisando a escolha que é melhor para eles", defende um deputado.
O que esperar da união entre a base ideológica e o Centrão
Embora a união entre a base ideológica e o Centrão seja algo visto com constrangimento por alguns deputados da base de apoio de Bolsonaro, como Luiz Philippe de Orleans e Bragança, para outros, é algo natural.
"Em qualquer sistema presidencialista esse governo de coalizão é importante para a governabilidade", defende o deputado Marcelo Álvaro Antônio. "Agora, o que eu acho mais importante ainda é que o presidente manteve a palavra dele em relação a não entregar os ministérios nas mãos dos partidos. Ele quebra esse paradigma, muda o sistema de governabilidade, obviamente depois disso as composições foram feitas aos poucos, mas os ministérios continuam com pessoas técnicas à frente", complementa.
O ex-ministro do Turismo diz que Bolsonaro conseguiu manter sua palavra de forma inteligente na boa gestão feita pelos ministérios mesmo em meio à simbiose com o Centrão. "É impossível você fazer a gestão de um país como o Brasil, ou qualquer outro país, sem ter base suficiente no Congresso Nacional para aprovar projetos e reformas para o país avançar", sustenta.
"O presidente Bolsonaro vai encerrar três anos com um governo sem corrupção, mantendo sua palavra com com ministérios com pessoas e, ao mesmo tempo, construindo essa base que é tão importante tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados", diz Álvaro Antônio.
O deputado Sanderson afirma que se sente confortável em ir com Bolsonaro. O vice-líder do governo destaca que a sigla historicamente tem uma postura de respeitar as ideologias de seus parlamentares e explica que isso é um dos motivos para sua decisão. "É um partido que, historicamente, tem na Câmara um histórico de respeitar as convicções de cada deputado, ou seja, não vai ter interferência", diz.