O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse durante a campanha que, se perdesse a eleição, iria se "recolher" – sugerindo que poderia deixar a política. Mas esse cenário é pouco provável. Bolsonaro é hoje o principal nome da direita e do conservadorismo no país, espectro político com o qual quase metade da população se identifica, segundo o próprio resultado do segundo turno.
Um indicador de que Bolsonaro continuará ativo na política é a informação de bastidor de que, ao deixar a Presidência, ele vai ganhar um cargo no PL, seu partido. Seria uma forma de deixá-lo em evidência, já que a partir de 2023 Bolsonaro ficará sem mandato eletivo pela primeira vez desde 1989, ano em que tomou posse como vereador do Rio de Janeiro.
Além disso, em seu primeiro pronunciamento após a eleição, Bolsonaro deu indicativos de que vai continuar liderando seus apoiadores. Na terça-feira (1.º), ele agradeceu aos 58 milhões de brasileiros que votaram nele e disse que a direita "nasceu de verdade" no Brasil. Também criticou a esquerda, ao afirmar que cercear o direito de ir e vir (no caso, dos bloqueios das estradas) é um método de esquerdistas que não pode ser copiado por seus apoiadores.
"Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso", disse Bolsonaro.
O tom do pronunciamento, indicando a força da direita e seu futuro, difere do que ele havia dito em alguns momentos da campanha. "Se não for [reeleito], a gente passa a faixa, e vou me recolher. Porque, com a minha idade, não tenho mais nada a fazer aqui na Terra, se acabar essa minha passagem pela política em 31 de dezembro deste ano [que é quando se encerra o mandato presidencial]”, disse o presidente em entrevista ao podcast Collab, em setembro.
Analistas acham pouco provável que Bolsonaro deixe a política
Cientistas políticos que conversaram com a Gazeta do Povo acham pouco provável que Bolsonaro se retire da vida pública. Eles destacaram que o presidente deixará a Presidência com 67 anos, idade considerada baixa para a política. Além disso, a direita e o conservadorismo continuarão muito relacionados à pessoa de Bolsonaro, mais do que a um partido ou movimento político organizado.
"Nós não teremos o fim do bolsonarismo. É um fenômeno que vai continuar e que terá representantes no Congresso Nacional", diz o professor universitário e cientista político Valdir Pucci. O PL de Bolsonaro elegeu 99 deputados e terá 13 senadores, se consolidando como a maior bancada do Congresso.
Além disso, foram eleitos governadores alinhados a Bolsonaro em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. "O peso da eleição para o governo estadual é também um grande indicativo. O número de governadores que permanecerão aliados a ele será um foco do peso do bolsonarismo", diz o também cientista político Davi Franzon. Ele acredita que Bolsonaro é, de imediato, um pré-candidato à Presidência para a disputa de 2026. "É uma figura que vai seguir acompanhando o cenário e deve se lançar [candidato em 2026]", afirma.
Valdir Pucci, embora também veja uma tendência de nova candidatura de Bolsonaro na próxima disputa presidencial, avalia que ele terá um cenário mais árduo do que encarou nas campanhas de 2018 e 2022. "Ele precisará se empenhar para reconstruir pontes", diz.
Bolsonaro poderá colocar a sua força à prova já nas eleições municipais de 2024. O advogado e cientista político Alessandro Costa, professor do UniCEUB, diz que o fato de Bolsonaro não ter mais mandato abre caminho para que seus filhos sejam candidatos a prefeito em 2024 – a legislação proíbe que parentes de um presidente disputem cargos a não ser os mesmos que já ocupam. Segundo Costa, isso possibilita que o deputado federal Eduardo Bolsonaro se candidate à prefeitura de São Paulo e o vereador Carlos Bolsonaro, à do Rio de Janeiro. Será uma oportunidade para mostrar a força do grupo político.
Maioria dos ex-presidentes continuou disputando eleições
Desde a redemocratização do país, na década de 1980, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o único dos ex-presidentes que concorreu novamente à Presidência da República. Mas não foi o único que disputou eleições – aliás, a maioria deles continuou em busca de mandatos eletivos.
José Sarney (MDB), após deixar de ser presidente, foi eleito senador pelo Amapá por três ocasiões: em 1990, 1998 e 2006. O ex-presidente Fernando Collor (PTB) se elegeu ao Senado como representante de Alagoas por dois mandatos. Agora, em 2022, foi derrotado na corrida pelo governo do estado. Em 2023, estará sem mandato eletivo.
Itamar Franco, já falecido, governou Minas Gerais entre 1999 e 2003 e, em 2010, elegeu-se para o Senado. Dilma Rousseff (PT) se candidatou ao Senado por Minas Gerais em 2018 e foi derrotada. Ela não disputou a eleição de 2022.
Michel Temer (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foram os únicos ex-presidentes que não disputaram eleições após deixarem o Planalto.
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