O primeiro voo do Gripen, o novo caça da Força Aérea Brasileira (FAB), ocorrerá em agosto deste ano, na Suécia, onde o modelo está sendo desenvolvido por engenheiros da empresa Saab e da brasileira Embraer. O modelo E, de um lugar, já tem quatro aeronaves em linha de produção. Três delas vão para a Força Aérea sueca, e a outra para a FAB.
Após longo processo de licitação e uma polêmica envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil escolheu o Gripen como seu futuro avião de combate multimissão em 2014 – o contrato de 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 16,3 bilhões) só foi assinado um ano depois, quando o financiamento foi acertado.
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A Embraer, maior empresa a aeronáutica brasileira, foi escolhida para a montagem conjunta e recebimento do grosso da transferência tecnológica que a FAB exigiu.
A primeira leva de aviões será feita na Suécia com os brasileiros de observadores, a segunda com eles operando o processo assistidos pelos suecos e, por fim, 15 unidades deverão ser feitas em Gavião Peixoto (SP) por brasileiros com consultoria da Saab.
Essa sinergia evoluiu. Neste ano, a Força Aérea sueca decidiu que o seu modelo terá o mesmo tipo de tela de controle no cockpit que o brasileiro. O modelo, que troca três telas por apenas uma, maior e sensível ao toque, é desenvolvido pela empresa brasileira AEL – controlada pela israelense Elbit e cuja escolha, na época do contrato, gerou polêmica por encarecer o produto final e porque a firma tinha parentes de oficiais da FAB em sua diretoria. O Ministério Público Federal chegou a investigar o caso, mas não encontrou irregularidades. Com isso, a AEL passará a ser fornecedora dos suecos, e a expectativa é de crescimento na parceria.
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A Saab tem negociações avançadas para tentar exportar o Gripen para países como a Áustria e a Bulgária, além da disputar mercado na sempre complexa Índia. "O Brasil fará parte da nossa cadeia global de exportação. Posso dizer, naturalmente sem dar nomes, que estamos com contatos de interessados no produto", afirmou Mikael Franzen, o responsável pelo programa na Saab, que está no Brasil participando da feira militar LAAD.
Para Jackson Schneider, presidente da Embraer Defesa, o Gripen montado no Brasil poderá ser chamado de um caça "50%-50%". Originalmente, o chamado Gripen NG era uma versão avançada de duas famílias anteriores do caça sueco. O Brasil encomendou inéditas oito unidades de dois lugares, não só para treinamento, mas também para missões que exijam a participação de um segundo piloto como coordenador de outras aeronaves, por exemplo.
Assim, o novo modelo de dois lugares, maior, mais pesado e com alterações aerodinâmicas e em sistemas eletrônicos, está sendo desenvolvido com participação de engenheiros da Embraer.
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Ao todo, 350 deles e de algumas empresas fornecedoras serão treinados ao longo do programa. A empresa Akaer, por exemplo, desenhou a nova fuselagem traseira do avião.
Segundo Schneider, o acordo com a Saab já prevê esse tipo de parceria, evidenciando a natureza interligada do mercado de defesa global. A Embraer acaba de ter sua divisão de aviação civil vendida para a americana Boeing, com quem também montou uma empresa apenas para a venda do cargueiro militar KC-390.
A Boeing em tese concorre com a Saab no mercado de caças, mas ambas as empresas estão juntas no programa que está desenvolvendo o T-X, o novo avião de treinamento da Força Aérea americana.
Se tudo der certo, o primeiro Gripen será entregue para a FAB em 2021 e o último, em 2026. O avião irá substituir toda uma gama de aviões em uso hoje, dos obsoletos caças F-5 ao avião de ataque AMX.
O que Lula tem com isso?
A polêmica escolha do caça sueco da Saab rendeu um processo penal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que corre na Justiça Federal de Brasília.
Em 2013, o governo Dilma Rousseff (PT) fechou a compra de 36 unidades do Gripen para reequipar a Força Aérea Brasileira. O jato da Saab venceu na concorrência internacional os caças Rafale (França) e F-18 (EUA). Mas a compra virou algo de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal na Operação Zelotes.
Lula é acusado de tráfico de influência para que o governo escolhesse os caças Gripen. O ex-presidente também é acusado, nesse caso, de ter intermediado o pagamento de R$ 2,5 milhões de propina para um de seus filhos, Luis Cláudio Lula da Silva.
Em setembro de 2018, o ex-ministro petista Antonio Palocci afirmou, em depoimento à força-tarefa Greenfield, que Lula agiu ‘diretamente’ em pedido de propina relacionado à compra dos caças suecos. O ex-presidente é réu pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
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