Desde as eleições presidenciais na Venezuela, em 28 de julho, 3.822 venezuelanos vieram para o Brasil através da fronteira em Pacaraima, em Roraima, de acordo com o Ministério da Justiça.
O país vizinho vive uma crise política, com manifestações e protestos, desde que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarou a vitória do ditador Nicolás Maduro sem apresentar a apuração da votação. Em todo o mês de julho, 9.331 venezuelanos atravessaram a fronteira por Pacaraima, segundo a Polícia Federal. Em junho, foram 8.602.
Os dados do Ministério da Justiça mostram um fluxo diário de 273 venezuelanos entrando no Brasil entre os dias 29/07 e 11/08. De acordo com a pasta, contudo, "não se observou aumento no fluxo" de venezuelanos chegando ao Brasil. Apesar disso, a migração é uma preocupação nos bastidores do Ministério das Relações Exteriores.
À Gazeta do Povo, fontes da diplomacia brasileira já admitiram a preocupação com o aumento de migrantes venezuelanos que podem vir para o Brasil, ao passo que a instabilidade política, social e econômica aumenta no país vizinho. Nos últimos oito anos, mais de um milhão de venezuelanos recorreram ao Estado brasileiro em busca de melhores condições de vida.
Em 2017, com a intenção de lidar com uma grande onda de imigrantes venezuelanos em direção ao Brasil, o governo brasileiro, na época comandado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), montou a Operação Acolhida, com apoio do Exército. A operação oferece assistência primária e básica a esses venezuelanos que diariamente atravessam a fronteira. Eles recebem atendimento de saúde e alimentação, além de terem documentos emitidos pelo governo brasileiro.
O êxodo migratório de venezuelanos
A Venezuela vive uma crise econômica e humanitária nos últimos anos que já refletiu no maior êxodo migratório da história do país, com cerca de 7 milhões de refugiados venezuelanos que deixaram o país em direção a diferentes nações, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
A migração venezuelana é uma preocupação para a região, sobretudo para os países que fazem fronteira com a Venezuela, como é o caso do Brasil, Colômbia e Guiana. Pesquisa realizada pela Atlas Intel na Venezuela, entre os dias 19 e 21 de julho, indicam o interesse de venezuelanos em deixarem o país caso Maduro se mantenha no poder.
No levantamento, quando comparado eleitores de Maduro e González, 65,3% dos que votam no candidato da oposição afirmaram que o resultado eleitoral tem influência em seu desejo de deixar a Venezuela, contra 14,3% dos eleitores do autocrata chavista. Na mesma pesquisa, o Brasil aparece entre os principais destinos dos venezuelanos que almejam deixar o país – os Estados Unidos aparece como a primeira opção.
No cargo de presidente venezuelano há mais de um década, Nicolás Maduro herdou o posto de Hugo Chávez, de quem foi vice-presidente e governou a Venezuela por 14 anos. Acusado de cometer uma série de crimes contra os direitos humanos, de prender e torturar opositores, Maduro é apontado como o responsável pela crise econômica e social vivida na Venezuela.
Brasil tenta intermediar crise política na Venezuela
A crise política em Caracas ganhou novos capítulos em julho, quando houve eleições para eleger um representante. O processo eleitoral, contudo, foi marcado por manobras de Maduro para mantê-lo no poder. Além da perseguição a opositores, dois candidatos da oposição foram impedidos de concorrer ao pleito.
Ao fim da votação, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela – que atua sob a influência do autocrata chavista – anunciou a reeleição de Maduro, mas sem comprovar os resultados. Desde então, a oposição contesta o anúncio e afirma que Edmundo González é o vencedor do pleito.
Manifestantes também saíram às ruas para cobrar as atas eleitorais, que possam comprovar o resultado divulgado pelo CNE. Centenas de pessoas foram presas e dezenas mortas em meio aos protestos na Venezuela.
Ao lado de Colômbia e México, o Brasil tem tentado articular uma solução para o imbróglio político venezuelano. As três nações têm cobrado as atas eleitorais do regime de Maduro para reconhecer ou constar os resultados anunciados pelo CNE e também propõem um diálogo entre Maduro e a oposição venezuelana para encontrar um consenso para o processo no país.
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