Há pouco mais de dois meses, o governo federal anunciava mais uma troca no comando do Ministério da Saúde — a quarta desde o início da pandemia de Covid-19. Em 23 de março, o médico cardiologista Marcelo Queiroga foi empossado como substituto do general Eduardo Pazuello, que conduzia a pasta desde maio de 2020. Na ocasião, foi anunciado que Queiroga daria continuidade às ações de enfrentamento do coronavírus que já vinham sendo aplicadas. Mas Queiroga promoveu algumas mudanças de rumo e de postura do ministério.
A Gazeta do Povo elencou as principais mudanças da gestão de Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde em relação ao período em que Pazuello conduziu a pasta. Acompanhe:
Queiroga defende uso de máscara
No seu primeiro pronunciamento à imprensa, Queiroga fez um apelo à população e reforçou a importância da adoção de medidas básicas de proteção, como o uso do álcool em gel e da máscara — medidas até então não enfatizadas por Pazuello.
“Vou conclamar a população que utilize máscara, para que use álcool em gel. São medidas simples, mas importantes. É preciso unir os esforços de enfrentamento à pandemia com a preservação da atividade econômica”, afirmou o ministro recém-empossado. Desde então, outras ações foram adotadas pelo titular da pasta, evidenciando algumas mudanças na condução do combate à pandemia.
Em evento recente organizado pela Apex-Brasil, o médico enfatizou, como tem feito corriqueiramente, que é necessária a colaboração de toda a população para a redução dos efeitos da Covid-19. “Todos sabemos que a contenção da pandemia — por meio da vacinação em massa, da vigilância ativa para detectar rápido possíveis novas variantes, e das medidas de higiene e saúde pública — é imprescindível para a retomada da economia global”, afirmou o ministro durante o evento.
Ministério deixa de orientar uso da cloroquina
A orientação do Ministério da Saúde para o tratamento precoce da Covid-19 com o uso da cloroquina era, até então, uma das “marcas” da gestão de Pazuello. O medicamento que compõe o chamado "kit covid" (cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina) foi incorporado pela pasta, que chegou a emitir uma nota com orientações para seu uso, e também foi recomendado e incorporado ao aplicativo experimental do Ministério da Saúde, o TrateCovid.
A partir de março, o uso de medicamento para o tratamento precoce da Covid-19 deixou de ficar em evidência sob a nova gestão da pasta. Apesar de nunca assumir claramente que o Ministério da Saúde mudaria de postura sobre o tema, Queiroga passou a evitar o assunto publicamente.
Em maio, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), órgão colegiado permanente que integra a estrutura regimental do Ministério da Saúde, se manifestou sobre o assunto em seu relatório de recomendação de protocolos clínicos contra o coronavírus, afirmando que o “kit covid” não mostrou benefícios e que não há evidências clínicas que justifiquem o seu uso. “Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população”, diz o documento.
Queiroga anuncia foco na testagem em massa
Uma das estratégias não colocadas em prática para controlar as contaminações pela Covid-19 no Brasil, a testagem em massa, anunciada algumas vezes por Pazuello, nunca havia saído do papel. A proposta foi apresentada ainda em junho de 2020 pelo Ministério da Saúde, que tinha a intenção de realizar até 50 milhões de exames em um curto período de tempo.
A medida, porém, não foi colocada em prática. Pelo contrário. Em novembro do mesmo ano foram descobertos mais de 6 milhões de testes do tipo RT-PCR armazenados em um galpão em Guarulhos, em São Paulo, perto de perderem a validade.
Sob o comando de Queiroga, o Ministério da Saúde anunciou em maio o lançamento de um programa de testagem em massa da população contra a Covid-19 no Brasil, em conjunto com as secretarias estaduais e municipais de saúde. O objetivo, segundo a pasta, é realizar até 20 milhões de testes por mês no país, entre os sorológicos e do tipo PCR.
Segundo o ministro, a estratégia é realizar os testes em pessoas sintomáticas nas unidades básicas de saúde e os assintomáticos em locais específicos. No final do último mês, a pasta enviou 600 mil testes rápidos da Covid-19 ao Maranhão após a identificação de um passageiro vindo da Índia que desembarcou no estado. O objetivo é evitar a disseminação da variante indiana do coronavírus pela região.
Segundo dados atualizados do próprio Ministério da Saúde, até o dia 6 de junho haviam sido distribuídos 32.249.951 testes contra a Covid-19 no Brasil, sendo 20.487.256 do tipo RT-PCR e 11.762.695 testes rápidos. Nos últimos três meses o número de testes distribuídos pelo país vem caindo, sendo 2.045.418 em março; 1.556.548 em abril e apenas 858.188 em maio.
Antecipação da vacinação por grupos de idade
Uma das medidas de maior impacto na campanha de vacinação contra a Covid-19 foi a liberação, no fim de maio, da imunização de pessoas por faixa etária, sem comorbidades, de forma paralela aos grupos prioritários. De acordo com o plano elaborado na gestão de Pazuello, os adultos sem comorbidades e que não integram profissões elencadas como essenciais só iam receber doses de vacina só após a vacinação dos grupos prioritários. Agora, a imunização por faixa etária, de 59 a 18 ano, será feita de forma paralela à dos prioritários, seguindo a ordem decrescente de idade. A medida pretende acelerar a vacinação no país, fazendo com que um grupo maior de pessoas tenha acesso ao imunizante.
Na semana passada, o país atingiu a marca de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 distribuídas, Queiroga afirmou que a prioridade, neste momento, é reforçar a campanha de vacinação e reafirmou o objetivo de vacinar toda a população do país até o final do ano.
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