Exonerado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) menos de um ano após ser nomeado como “número 2” da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti se segurava no cargo por ter a confiança do diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa, mesmo tendo a desconfiança de aliados petistas.
Moretti disse, nesta quarta (31) que foi ele quem determinou o início do trabalho de investigação sobre o suposto esquema de espionagem ilegal de autoridades dentro da Abin, quando ocupou o cargo de diretor-geral em exercício, "com a instauração de sindicância investigativa pela Corregedoria-Geral".
A desconfiança dos petistas ocorreu por Moretti já ter atuado como braço-direito de Anderson Torres quando ocupou o cargo de secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) entre os anos de 2019 e 2021. Torres foi responsável pela pasta naquele período e durante os atos de 8 de janeiro de 2023.
Além de ter atuado com Torres na SSP-DF, Moretti também ocupou cargos na Polícia Federal na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como diretor de Tecnologia da Informação e Inovação entre 2021 e 2022 e de Inteligência Policial até março de 2023, quando foi chamado por Corrêa para a Abin.
Moretti ainda atuou como diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) em 2020. Foram essas passagens por órgãos de segurança do governo Bolsonaro que despertaram a desconfiança de petistas sobre a nomeação dele para a Abin principalmente após o 8/1.
A ida de Moretti para a Abin ocorreu no mesmo momento em que Lula decidiu retirar o órgão da gestão do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para a Casa Civil na esteira da invasão das sedes dos Três Poderes, também por uma desconfiança que envolveu o general Gonçalves Dias, flagrado circulando entre os manifestantes sem uma reação efetiva durante o ataque ao Palácio do Planalto.
O agora ex-diretor-adjunto da Abin foi demitido após ter sido citado nominalmente no inquérito da Polícia Federal que aponta que havia uma tentativa de atrasar as investigações do suposto esquema de espionagem ilegal de autoridades.
“As declarações do então Diretor da ABIN – Alessandro Moretti – em reunião com os investigados no sentido de dizer que a presente investigação, em curso sob a relatoria do Exmo. Ministro Relator, teria “fundo político e iria passar” não é postura esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade – Divisão de Operações de Inteligência – lhe era subordinada”, escreveu a PF no inquérito.
A continuidade de Moretti no cargo começou a se tornar insustentável a ponto de Lula chama-lo de “cidadão que está sendo acusado que mantinha relação com o Ramagem”, durante uma entrevista na manhã de terça (30). Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi diretor-geral da Abin, com quem Moretti teria ligação.
Em uma nota oficial enviada à imprensa nesta quarta (31), Moretti disse que, durante seu período como Diretor Geral em exercício, iniciou a apuração interna sobre o uso da ferramenta investigada, resultando na instauração de uma sindicância investigativa pela Corregedoria-Geral.
Todo o material probatório gerado na Abin, diz, foi compartilhado com a Polícia Federal, que “teve atendidas todas suas solicitações à Agência. Por esta razão, grande parte do material que instrui o inquérito da PF é fruto da apuração conduzida com total independência na Abin”.
Moretti ressalta a Abin passa por uma fase de transição ao passar para a estrutura da Casa Civil da Presidência da República, deixando de ser subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O ex-diretor-adjunto enfatiza as medidas adotadas pela atual gestão para modernizar a agência e garantir uma “apuração ampla e independente”. Destaca a importância da inteligência profissional em um país como o Brasil e elogia os profissionais altamente capacitados da Abin.
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