Defensora ferrenha do governo Bolsonaro, Carla Zambelli (PSL-SP) é uma das principais representantes da nova política que o presidente tanto quer emplacar. Novata no Congresso, influencer de direita e "osso duro", ela diz não se dobrar para a oposição de forma alguma. “Já falei para o Jair [Bolsonaro] que não tenho perfil para ser líder de governo, porque eu não vou sentar com certas pessoas para conversar. Eu não vou sentar com Aécio Neves [PSDB-MG], Gleisi Hoffmann [PT-PR] ou Paulo Pimenta [PT-RS]. Não consigo”, afirma.
Carla atua na linha de frente bolsonarista, tanto na Câmara dos Deputados quanto nas redes sociais. Um exemplo foi o endosso às manifestações do dia 26 de maio, em apoio ao governo. Ela não só participou do ato como gravou um vídeo mandando recado para o presidente, acompanhada da multidão: "Bolsonaro, eu te amo! Bolsonaro, eu te amo! Bolsonaro, eu te amo! Mito! Mito! Mito!”.
Carla também não esconde a simpatia pela monarquia. O apoio à família real brasileira começou em 2016, quando conheceu Dom Bertrand de Orleans e Bragança, segundo na linha de sucessão ao “trono” brasileiro e um dos líderes do movimento de restauração da monarquia. “Me chamou a atenção a austeridade da família, seu preparo e falta de apego ao poder”, explica a deputada.
No futuro diz acreditar que uma monarquia parlamentarista poderia ser uma solução política para o país, pelo seu poder moderador, que, segundo ela, serviria para conter os possíveis excessos dos três poderes. “O monarca tem a responsabilidade de cuidar da próxima geração, não está preocupado com uma próxima eleição”, ressalta. Apesar da admiração afirma que, pelo menos por enquanto, não pretende apresentar projetos para viabilizar a volta da família real ao poder. A deputada faz parte da “bancada monarquista”, que apesar de não existir oficialmente, vem ganhando adeptos no Congresso.
Nas últimas eleições, foi eleito o primeiro membro da família real brasileira para uma vaga no legislativo: Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP). O príncipe de Orleans e Bragança, antes de entrar para política partidária, fundou o movimento Acorda Brasil, pró-impeachment de Dilma Rousseff. Além dos dois, o deputado Paulo Martins (PSC-PR) simpatiza com a questão monarquista.
A vida em Brasília
A falta de rotina do dia-a-dia no Congresso tem sido um desafio para a deputada, que esperava passar mais tempo legislando. Apesar de estar acostumada a lidar com pessoas diferentes no trabalho – Zambelli era gerente de projetos antes de entrar para a política – percebeu que gasta-se muito tempo administrando as relações de amizade, inimizade ou vaidade.
“Eu descobri que política às vezes é mais negociar esse relacionamento com as pessoas do que qualquer outra coisa. Você pode estudar e conhecer um projeto de cabo a rabo, mas, se não conseguir se relacionar bem com as pessoas, a coisa não anda”. E foi tratando das negociações do cotidiano que notou a primeira de suas frustrações no exercício do mandato. “Você chega querendo resolver o mundo e as coisas não são assim. Você tem que aprender a lidar com o dia-a-dia e com as pessoas, negociar”.
A segunda decepção é a notória desavença com Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso. Durante a votação da MP 870/2019, que reestruturou os ministérios, Carla Zambelli decidiu cobrar um posicionamento da colega de partido, na articulação para aprovar a MP.
A troca de farpas no Twitter começou na madrugada de 17 de maio. Joice chegou a deixar subentendido uma acusação de nepotismo cruzado contra a colega. O “ranço” entre as duas vem desde antes da posse – no final de 2018 elas já se estranhavam. “A gente não está brigando, mas também não conversa”, diz Carla sobre o status do relacionamento. Para a deputada, Joice tem se mostrado “arrogante”, o que é motivo da decepção. “Não é só comigo, é com toda a bancada do PSL, e não é só com os colegas. Vários deputados têm dito que simplesmente ela não dá um bom dia”.
Melhora na articulação
A falta de uma articulação consistente e a dificuldade dos membros do partido do presidente em conquistar aliados têm sido um problema para o governo Bolsonaro. Mas a deputada elogiou o trabalho do líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) e do líder do partido, deputado Delegado Waldir (PSL-GO).
Segundo ela a comunicação está melhorando bastante. “Articulação não é uma coisa que se possa fazer individualmente. Ou você combina o jogo com o grupo todo e divide as tarefas para cada um ou você não consegue articular com 513 pessoas”, ressalta.
O envolvimento do presidente Jair Bolsonaro nesse processo, conversando com os presidentes das Casas, com líderes no Congresso e até se reaproximação de colegas da época de deputado tem feito a diferença, diz a deputada. “Ele tem recebido as pessoas com bastante carinho”, afirma, e cita como exemplo o café da manhã realizado com a bancada feminina da Câmara e do Senado.
Do ativismo para o Congresso
Natural de Ribeirão Preto, ela começou no ativismo político em 2011 – quando fundou o movimento Nas Ruas e organizou manifestações contra a corrupção e pró-impeachment de Dilma Rousseff. O movimento surgiu com a missão de “fiscalizar o poder público, propor soluções de combate à impunidade e promover a conscientização política”. A exposição por consequência das ações do Nas Ruas acabou fazendo com que Carla fosse demitida do seu último emprego formal. E isso abriu a porta da política: ela foi eleita deputada com 76,3 mil votos.
Perto de completar 39 anos – faz aniversário no dia 03 de julho –, teve que se adaptar a realidade do Congresso. Recentemente foi divulgado que a deputada e o filho, de 11 anos, tem sido alvos de ameaças. Por isso teve a segurança reforçada e anda acompanhada de escolta. “O que mais mudou para mim foi a escolta na minha vida pessoal, porque eu sou muito independente. Eu tive que levar meu filho e minha mãe para Brasília”.
Atualmente, além da escolta, ela contratou um policial da reserva que atua como seu assessor e cuida da segurança quando está em viagem. Em São Paulo conta também com a proteção da polícia e em Brasília, policiais legislativos. Outros parlamentares também sofrem com ameaças e vivem sob proteção da polícia legislativa federal como, Talíria Petrone e Marcelo Freixo, ambos do PSOL-RJ, Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alê Silva (PSL-MG).
Influencer da direita
Um levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV) mostrou que Carla Zambelli é a sexta maior influenciadora digital de direita do país. A análise foi feita para o primeiro trimestre (de 1º de janeiro a 24 de março). Nesse período a deputada teve 45.071 tuítes e retuítes.
É nas redes sociais que ela presta contas ao público, pede desculpas quando erra, e conta quando acerta, diz. Além de utilizar uma equipe de moderadores para ver os comentários e conferir o que os seguidores pedem.
A deputada tem cerca de 832,2 mil seguidores em suas redes sociais:
- Facebook - 356,5 mil seguidores
- Twitter - 192,4 mil seguidores
- Instagram - 216,8 mil seguidores
- Youtube - 66,5 mil inscritos
Por meio delas, a deputada já garantiu presença nas manifestações em defesa da Lava Jato e do ministro da Justiça, Sergio Moro, que estão sendo organizadas para o dia 30 de junho.
Conservadora sem saber
"Eu sempre fui meio conservadora, sempre fui meio tradicional, sem saber que isso era conservadorismo", lembra. No Facebook diz que "somente com valores e princípios morais sólidos e menos Estado se pode construir um país melhor para todos".
Carla trabalha desde os 14 anos e afirma estar na política porque gosta. “Eu acho que a política é uma espécie de redenção, não só pessoal, mas do Brasil, porque através da política a gente pode mudar tudo”.
E garante que se perceber, daqui algum tempo, que não está mais fazendo a diferença, larga o mandato e volta para o trabalho. “Não tenho apego nenhum... Hoje eu ganharia mais no mercado de trabalho do que eu ganho como deputada. A política é um projeto de vida”.
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