O líder do Republicanos na Câmara dos Deputados, Hugo Motta, da Paraíba, desponta como um dos candidatos preferidos do momento à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados. Nos bastidores, o nome de Motta já aparecia há algum tempo, em uma ou outra conversa pelos corredores da Casa, mas a oficialização da candidatura só ocorreu no início deste mês, quando o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, decidiu abandonar a disputa pela presidência da Câmara.
Com a entrada no páreo de Hugo Motta, considerado por muitos parlamentares como um político hábil e com bom trânsito tanto nas alas mais ligadas à esquerda quanto à direita, a disputa pela sucessão, que só ocorre em fevereiro de 2025, ganhou novos contornos, ameaçando os dois outros principais postulantes à presidência: os baianos Antônio Brito, do PSD; e Elmar Nascimento. Até então, Nascimento era tido como o preferido de Lira para sucedê-lo.
Mas enquanto aguardavam o anúncio oficial de Arthur Lira sobre o nome que ele irá apoiar, Brito e Nascimento foram pegos de surpresa com acenos do atual presidente na direção do líder do Republicanos. O anúncio oficial era esperado para agosto, mas não ocorreu até agora.
O líder do PT na Câmara, Odair Cunha, de Minas Gerais, chegou a publicar em uma rede social que Lira teria dito aos demais líderes que apoiaria Hugo Motta, por considerar o deputado "como um nome qualificado para a construção da unidade na Casa".
"O importante é a união em torno da aprovação de projetos relevantes que busquem o desenvolvimento sustentável e beneficiem de forma ampla toda sociedade brasileira. Como líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados, vou submeter o nome de Hugo Motta ao conjunto de parlamentares da bancada para que seja avaliado no processo de sucessão da Casa", disse ainda o líder Odair Cunha.
A possível aderência da bancada do Partido dos Trabalhadores à candidatura do líder do Republicanos teria sido motivo de uma intervenção do presidente Lula, que prometeu se manter "fora" da disputa na Câmara, mas que tem recebido os "presidenciáveis", para que os deputados petistas evitem fechar questão em apoio aos candidatos à sucessão de Lira.
O presidente da Câmara, no entanto, aproveitou sua viagem ao lado de Lula nesta semana para a Assembleia Geral da ONU e cobrou um gesto público do petista ao nome de Hugo Motta. Além de uma declaração de apoio, Lira pediu que o Palácio do Planalto atue para favorecer o deputado do Republicanos na disputa.
Interlocutores do Planalto viram na movimentação de Lira uma forma de pressionar o governo e temem reações por parte do presidente da Câmara nas votações dos próximos meses. Apesar disso, petistas indicam que não vai haver qualquer precipitação por parte do Executivo e que o presidente vai acompanhar as movimentações dos demais candidatos ao longo dos próximos meses sem fazer qualquer tipo de interferência.
Hugo Motta pode se tornar o mais jovem presidente da Câmara dos Deputados
Hugo Motta recém completou 35 anos no último dia 11 de setembro e, se eleito, pode se tornar o mais jovem presidente da Câmara dos Deputados. O deputado nasceu em João Pessoa, capital da Paraíba, e foi o mais jovem da história do país ao se eleger, aos 21 anos, nas eleições de 2010, com 86.150 votos. Ele está em seu quarto mandato. Hugo Motta cresceu na política, é filho e neto de deputados e se graduou em Medicina, já durante o exercício como deputado federal.
Além de liderar a bancada do Republicanos na Câmara, Hugo Motta é vice-presidente nacional da legenda e presidente estadual do partido na Paraíba. Na Câmara, já foi presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, em 2015, que apurou denúncias de corrupção na petrolífera. Ele também comandou uma das mais importantes comissões da Casa, a de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara.
Hugo Motta também já foi vice-líder de diversos blocos partidários na Câmara e fez parte da base aliada dos governos Dilma, Temer e Bolsonaro, de quem foi eleitor declarado. Ao mesmo tempo, Motta se aproximou do Planalto desde que seu companheiro de partido, Sílvio Costa Filho, assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos, em setembro do ano passado. Isso ocorreu depois que partidos do chamado centrão pressionaram Lula por cargos na Esplanada dos Ministérios, após a ajuda para aprovar a reforma tributária.
Com apoio do Republicanos, Motta aparece como alternativa a Brito e Nascimento
Com os possíveis apoios de Lira, do PL e de seu partido, o Republicanos, que tem postado nas redes sociais mensagens enaltecendo a trajetória política de Hugo Motta e a sua candidatura à presidência da Câmara, o deputado ameaça a hegemonia dos então tidos como favoritos à sucessão de Lira, os também líderes Elmar Nascimento e Antônio Brito.
Os baianos, que estão em campanha declarada desde o primeiro semestre, e que já reuniram caciques da política nacional em mega eventos realizados em Salvador e em Brasília nos últimos meses, buscam meios de atrair partidos com a oferta de assentos na mesa diretora, em busca principalmente de um apoio do PT de Lula, que hoje tem a deputada Maria do Rosário, do Rio Grande do Sul, como segunda secretária.
Tanto Nascimento quanto Brito, que se reuniram também para discutir como fazer frente ao possível favoritismo de Motta, avisaram ao Planalto que não abrirão mão da candidatura à presidência da Câmara, mas nos bastidores especula-se que um dos dois poderia apoiar futuramente a candidatura que se mostrar mais viável.
Na avaliação de integrantes do Republicanos, no entanto, não há dúvidas sobre a viabilidade de Hugo Motta como nome forte na corrida à sucessão de Arthur Lira. Para o deputado Augusto Coutinho, de Pernambuco, Motta conta com apoio de grande parte dos partidos na Câmara dos Deputados, "o que fortalece a candidatura".
O parlamentar vai além: "Eu acho que ele é o favorito e ganha a eleição". Augusto Coutinho diz ainda que foi justamente por acreditar que o nome do atual líder do Republicanos tem consenso entre os parlamentares que Marcos Pereira decidiu retirar a sua candidatura e apoiar Motta.
Augusto Coutinho lembra ainda que desde que surgiu como candidato à sucessão de Lira, Hugo Motta já teve reuniões com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, e com o ex-presidente Jair Bolsonaro, no último dia 4 de setembro, num encontro promovido pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), amigo de Motta, na residência do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em Brasília.
Em entrevista à CNN, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira disse que “Ambos [Lula e Bolsonaro] tiveram excelente receptividade ao nome do Hugo, à pessoa do Hugo. Eu acho que ele sai um pouquinho na frente, mas a gente precisa trabalhar muito [na candidatura]”.
Para analistas, Motta "embolou" o meio de campo no jogo da sucessão na Câmara
Na avaliação do analista Juan Carlos Gonçalves, do Ranking dos Políticos, a entrada de Hugo Motta no jogo da sucessão à presidência da Câmara dos Deputados "embolou o meio de campo", já que o atual líder do Republicanos é uma figura importante dentro do bloco de apoio formado por Republicanos, MDB, Podemos e PSD, com 147 parlamentares; atrás somente do blocão liderado por Elmar Nascimento, e que reúne 161 deputados.
"Sua candidatura traz mais complexidade à corrida, já que ele é visto como um nome de consenso para alguns, mas pode dividir apoios entre lideranças chave, como Lira e outras figuras do Centrão", pontua o cientista político.
Mas para Juan Carlos Gonçalves, tudo ainda depende do aval formal de Lira, conhecido
"por atuar de forma estratégica e pragmática. Embora ele ainda não tenha formalizado apoio, há especulações de que ele está ponderando seus movimentos para garantir a unidade do bloco. Ele pode esperar para medir o impacto da candidatura de Hugo Motta antes de se posicionar", avalia.
Juan Carlos lembra ainda que será preciso avaliar movimentos futuros dos candidatos, como a troca de votos por cargos e até o compromisso dos postulantes à presidência com temas polêmicos, como a anistia aos presos do 8 de janeiro, ainda em discussão na Comissão de Constituição e Justiça, e uma das principais bandeiras da oposição na Câmara, em especial para PL de Bolsonaro, que afirmou que vai apoiar o candidato apontado por Lira mas tenta condicionar o apoio ao compromisso com pautas caras à direita.
Também ouvido pela Gazeta do Povo, o diretor da consultoria I3P, Leonardo Barreto, arrisca que o apoio de Lira deverá mesmo ir para Hugo Motta, por este ser mais dependente do atual presidente da Câmara dos Deputados.
"Imagina, o Antônio Brito está na esfera do Kassab [presidente do PSD], ele não deve nada ao Lira. O Elmar, depois dessa situação, se ele for eleito, ele vai ser eleito apesar do Lira. Então acho que abriu aí uma fresta importante nesse grupo que tem governado a Câmara nos últimos quatro anos", diz o cientista político, sobre Hugo Motta.
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do IBMEC de Belo Horizonte, o possível endosso de Arthur Lira a candidatura de Hugo Motta neste momento é incerto, e o apoio formal do atual presidente da Câmara para o seu eventual sucessor deverá sair mesmo após o resultado das eleições municipais.
"Eu acredito que o Hugo Motta está aparecendo com um perfil relativamente independente, próximo da bancada majoritária na Câmara, de direita e centro-direita; mas ao mesmo tempo com um pé no governo. O risco que ele [Hugo Motta] corre é essas demais candidaturas se unirem em torno de uma só", alerta Cerqueira.
Para ele, para se viabilizar de fato, Hugo Motta terá que seguir a cartilha de Lira, e parecer mais oposição do que realmente é. Ainda de acordo com Adriano Cerqueira, questões como o comando das comissões permanentes da Câmara em 2025 também poderão pesar na escolha do candidato mais viável à sucessão de Arthur Lira.
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