O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, autor de um relatório extraoficial que revela uma suposta supernotificação do número de mortes por Covid-19 no Brasil, teve a convocação para prestar depoimento à CPI da Covid aprovada nesta quarta-feira (9).
O requerimento foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) "para que seja possível esclarecer os detalhes de sua participação na elaboração de 'estudo paralelo' apontando que metade das mortes no país pelo coronavírus não teriam ocorrido, tratando-se de expediente de governadores para obterem mais recursos do Executivo Federal".
O estudo foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro em conversa com apoiadores para afirmar que o número de óbitos por Covid-19 no Brasil é 50% menor do que o informado. O relatório foi posteriormente desqualificado pelo TCU, que não o reconhece. Oficialmente, mais de 476 mil pessoas já morreram pela doença no país. Nesta quarta, o TCU afastou o servidor de suas funções e abriu procedimento interno para apurar a conduta funcional do auditor.
Alexandre Silva Marques é auditor do TCU desde 2008. De acordo com currículo informado pelo BNDES, Marques é primeiro-tenente fuzileiro naval reserva da Marinha. Ele é formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e bacharel em Ciências Navais pela Escola Naval. Em Brasília, já trabalhou nos Ministérios da Justiça e do Planejamento.
Amigo da família Bolsonaro, Marques chegou a ser indicado em 2019 pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para comandar a diretoria de compliance do BNDES. O presidente do banco é Gustavo Montezano, também próximo do clã Bolsonaro.
A nomeação, no entanto, foi barrada pelo então presidente do TCU José Múcio Monteiro, que chamou a atenção para o fato de que um servidor do tribunal não poderia ser cedido para uma instituição que pudesse ser alvo de apuração da Corte de Contas. "O regimento não permite, é a coisa mais simples", disse Múcio ao jornal O Estado de São Paulo.
Marques tem uma página no Facebook onde divulga vídeos expondo opiniões sobre política. Na rede social, o servidor conta que nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, mas mora desde 2015 em Jundiaí (SP).
Segundo o Estadão, a amizade do auditor com os filhos do presidente Jair Bolsonaro vem de família. O pai de Alexandre Marques é o coronel do Exército Ricardo Silva Marques, formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), na mesma turma de Bolsonaro, em 1977. Hoje, Ricardo é gerente executivo de Inteligência e Segurança Corporativa na Petrobras.
Antes, o pai de Marques trabalhou na assessoria especial da Olimpíada do Rio e foi gerente de segurança corporativa do bondinho do Pão de Açúcar. Desde maio de 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro, o coronel trabalha na Petrobras.
Auditor do TCU produziu "relatório paralelo"
Na segunda-feira (7), ao conversar com apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro atribuiu a informação sobre a supernotificação de mortes por Covid-19 ao próprio TCU, mas foi desmentido pelo tribunal logo em seguida. Em nota, o tribunal disse que não "há informações em relatórios do tribunal que apontem que 'em torno de 50%' dos óbitos por covid no ano passado não foram por covid, conforme afirmação do presidente Jair Bolsonaro".
No dia seguinte, o presidente admitiu o erro ao atribuir o dado ao TCU, mas manteve o discurso de que um relatório mostrava que metade das mortes registradas como Covid-19 não foram causadas pela doença.
Alguns dos apoiadores do governo reproduziram na internet o relatório do servidor do TCU que aponta a suposta supernotificação de mortes. Em nova nota, a Corte de Contas esclareceu que o levantamento não era oficial. "O TCU reforça que não é o autor de documento que circula na imprensa e nas redes sociais intitulado 'Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil'", diz o tribunal em outra nota.
A peça produzida por Alexandre Marques foi inserida no sistema do TCU sem que constasse de qualquer processo do tribunal. O próprio servidor teria confirmado isso, segundo o TCU.
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