A principal linha de investigação do ataque a tiros a quatro médicos no Rio de Janeiro é de que eles tenham sido baleados por engano. Na ação, três deles morreram e um está hospitalizado. A polícia investiga se um dos médicos teria sido confundido com um miliciano, filho de um ex-policial militar que é considerado um dos principais chefes de uma milícia que atua na Zona Oeste do Rio. O médico Perseu Ribeiro Almeida, que morreu na hora durante o ataque, era fisicamente parecido com o miliciano, informou a TV Globo.
O crime pode ter sido motivado por vingança de um grupo rival contra o miliciano e o pai dele. O miliciano que os atiradores procuravam costumava frequentar a mesma região onde o crime aconteceu nesta madrugada. Com isso, as polícias Civil e Federal apuram se o médico teria sido confundido com o criminoso. Apesar de investigar a possibilidade de o crime ter sido cometido por engano, a possibilidade de crime político não foi descartada.
Em dezembro de 2020, a 1ª Vara Criminal Especializada decretou a prisão preventiva de nove integrantes de uma milícia que atua em Rio das Pedras, na Muzema e outros locais da Zona Oeste do Rio. Entre esses milicianos estava o homem parecido com o médico assassinado. Ele foi apontado como um dos principais líderes do grupo e condenado a 8 anos e 5 meses de prisão.
Em março deste ano, ele foi para prisão domiciliar e passou para liberdade condicional há dez dias, informaram os jornais Folha de S. Paulo e O Globo. A decisão foi assinada pelo juiz Cariel Bezerra Patriota, que determinou medidas cautelares como a necessidade de comparecer ao juízo a cada três meses para comprovar suas atividades e voltar para casa até às 23h, onde deve permanecer durante toda a noite.
Segundo a Justiça, a organização criminosa seria responsável pela exploração do transporte alternativo de vans e mototáxi, dos serviços básicos, como água, gás e TV a cabo, cobrança extorsiva de "taxas de segurança" a comerciantes e moradores, invasão e grilagem de terras, construção imobiliária clandestina, além de agressões, ameaças e homicídios na região.
A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que deflagrou em 2020 a Operação Sturm contra os milicianos. Em nota divulgada na época, o MP informou que a investigação teve início em abril de 2019 – entre as operações Intocáveis 1 e Intocáveis 2, que envolveram o pai do miliciano – e conseguiu identificar integrantes da organização criminosa que, até então não eram conhecidos, e conduziam diversas atividades ilícitas, especialmente a exploração imobiliária clandestina na região.
O documento ressaltava o “enorme perigo social desses empreendimentos, que se destinam à habitação de milhares de pessoas, sem qualquer espécie de capacitação técnica, controle ou garantia acerca da higidez das obras e construções”, como a tragédia ocorrida em 12 de abril de 2019, na qual dois edifícios irregulares situados no Condomínio Figueiras desmoronaram na região da Muzema, o que resultou na morte de 24 pessoas.
Além de Perseu, os médicos Diego Ralf Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (Psol-SP), Marcos de Andrade Corsato morreram. O médico Daniel Sonnewend Proença, que também foi baleado na ação, está internado em um hospital particular e seu quadro é considerado estável.
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