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Governo Bolsonaro

Filho ‘embaixador’, olavismo, chanceler: quem realmente manda na política externa

Bolsonaro reitera discurso de Eduardo e diz que ele "fala inglês, espanhol e frita hamburguer". (Foto: Alan Santos/PR)

Mesmo sem comandar o Itamaraty ou uma embaixada, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) já exerce a função de "chanceler informal" do governo do pai. E essa é uma marca da nova política externa brasileira: ela está sendo conduzida por figuras novas no cenário internacional, não necessariamente embaixadores e diplomatas experientes.

Uma das mudanças mais expressivas do governo Jair Bolsonaro nas relações exteriores está nessa escolha dos protagonistas. “A condução não está mais nas mãos dos diplomatas”, afirma Giorgio Romano, coordenador do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB) da Universidade Federal do ABC (UFABC).

Uma das primeiras medidas do presidente da República foi transformar a pauta internacional do Brasil, mudando alianças e questionando posições tradicionais da diplomacia brasileira. E, para isso, ele também tomou a decisão de abrir caminho para que cargos do Itamaraty, incluindo postos de chefia, possam ser ocupados por não-diplomatas.

Não à toa, Bolsonaro confirmou que cogita nomear seu filho Eduardo para o cargo de embaixador do Brasil em Washington, nos Estados Unidos. E, mesmo que o "03" não seja o escolhido, outro nome fora do Itamaraty estava sendo cogitado: o do cientista político e presidente da Arko Advice Murillo de Aragão.

Confira na lista abaixo os sete nomes que, no dia-a-dia, vêm conduzindo e orientando as relações exteriores do país.

Eduardo Bolsonaro

  • Cargo: Deputado federal e presidente da Comissão de Relações e de Defesa Nacional da Câmara de Deputados
  • Idade: 34 anos
  • Cidade natal: Rio de Janeiro (RJ)
  • Formação: Graduado em Direito, escrivão concursado da Polícia Federal.
  • Perfil: O terceiro filho do presidente tem interesse especial pelas relações exteriores. Seu nome esteve ligado à saída do embaixador Mario Vilalva da presidência da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) – Vilalva disse à imprensa que a Apex seria um “playground do filho ‘zero três’”. O deputado acompanha o pai nas viagens internacionais e, com frequência, exerce o papel de chanceler informal do governo brasileiro. Foi ele, por exemplo, quem acompanhou Jair Bolsonaro no encontro com Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca. É próximo da família Trump e agora é cotado para virar embaixador em Washington, nos Estados Unidos.

Ernesto Araújo

  • Cargo: Ministro das Relações Exteriores
  • Idade: 52 anos
  • Cidade natal: Porto Alegre (RS)
  • Currículo: Graduado em Letras, diplomata de carreira desde 1992.
  • Perfil: Foi assessor da divisão do Mercosul do Itamaraty, secretário da missão do Brasil junto à União Europeia e responsável pelo setor econômico da embaixada do Brasil na Alemanha. Também ocupou o posto de diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos. É sobrinho do almirante Ernesto de Araújo, ex-diretor da Escola Superior de Guerra, e genro do ex-secretário-geral do Itamaraty Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Defende uma mudança nos métodos e nos objetivos da política externa brasileira.

Filipe Garcia Martins

  • Cargo: Assessor especial da presidência para assuntos internacionais
  • Idade: 31 anos
  • Cidade natal: Sorocaba (SP)
  • Formação: Graduado em Relações Internacionais, diretor de assuntos internacionais do PSL.
  • Perfil: Considerado pelo filósofo Olavo de Carvalho um de seus alunos mais brilhantes, conduziu o programa de governo para assuntos internacionais desde a campanha. Sugeriu o nome de Ernesto Araújo a Jair Bolsonaro, quando leu um artigo em que o atual ministro elogiava Olavo. No governo, tem papel equivalente ao que, nas gestões do PT, Marco Aurélio Garcia exerceu junto a Lula e Dilma. Defende o alinhamento do Brasil a Israel e os Estados Unidos e a aproximação com países com governantes de direita, como Itália, Polônia e Hungria.

Sergio Ricardo Segovia Barbosa

  • Cargo: Presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex)
  • Idade: 55 anos
  • Cidade natal: Rio de Janeiro (RJ)
  • Formação: Engenheiro eletrônico pela Escola Naval, pós-graduado em Política e Estratégia pela Escola Superior de Guerra.
  • Perfil: É o terceiro presidente da Apex em apenas quatro meses de governo. Antes de aceitar o convite par ao posto, Segovia, que é contra-almirante da Marinha, era sub-chefe de Inteligência Estratégica do Ministério da Defesa. Ao assumir a Apex, aceitou o pedido de demissão do diretor Márcio Coimbra e demitiu a diretora Letícia Catelani. É considerado discreto e firme, capaz de colocar ordem no órgão que mais deu problemas até agora dentro do ministério. À frente da Apex, tem a missão de promover os produtos e serviços brasileiros no exterior.

Otávio Brandelli

  • Cargo: Secretário-Geral do Itamaraty
  • Idade: 54 anos
  • Cidade natal: Garibaldi (RS)
  • Formação: Bacharel em Direito, com pós-graduação em administração. Diplomata desde 1991.
  • Perfil: Responsável por conduzir a rotina do Itamaraty, Brandelli é o braço-direito de Ernesto Araújo – no discurso de posse, o ministro o definiu como seu “mestre de obras”. Até 2018, era diretor do Departamento de Mercosul do ministério – foi neste posto que atuou na suspensão da Venezuela do grupo. Assim como o ministro, nunca chefiou uma embaixada. Araújo e Brandelli são amigos desde que serviram juntos em Bruxelas, na década de 1990. Sobre Brandelli, o vice-presidente Hamilton Mourão já comentou: “Um cara de fé. Eu o levaria para a guerra comigo”.

Antônio Hamilton Mourão

  • Cargo: Vice-presidente da República
  • Idade: 65 anos
  • Cidade natal: Porto Alegre (RS)
  • Formação: Aluno (e posteriormente instrutor) da Academia Militar das Agulhas Negras.
  • Perfil: Como militar, o general da reserva tem experiência em ações internacionais: participou da missão de paz em Angola e foi adido militar na Embaixada do Brasil na Venezuela. Em maio, foi destacado pelo presidente Bolsonaro para conduzir uma viagem de aproximação com a China. “O Mourão coordena a relação entre Brasil e China”, afirma o professor Giorgio Romano, da UFABC. “É um tema importante, porque Bolsonaro sempre criticou os chineses, mas a verdade é que a China tem tudo para ser um parceiro comercial mais forte do que os Estados Unidos”, diz Romano.

Paulo Guedes

  • Cargo: Ministro da Economia
  • Idade: 69 anos
  • Cidade natal: Rio de Janeiro (RJ)
  • Formação: Mestre e doutor pela Universidade de Chicago, foi professor da PUC-Rio e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um dos fundadores do banco Pactual.
  • Perfil: “No governo Bolsonaro, como já vinha acontecendo na gestão Temer, as relações exteriores são mais econômicas do que culturais”, explica Giorgio Romano. Nesse contexto, o homem responsável pela condução da economia tem voz bastante ativa na política internacional do governo. “O Paulo Guedes sonha em abrir o país, unilateralmente, para importações”, diz o professor. “O acordo do Mercosul com a União Europeia e a tentativa de entrar para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) são coerentes com a condução econômica do ministro”.

Correção: O texto inicialmente publicado atribuiu erroneamente ao ex-diretor da Apex Márcio Coimbra a fala sobre a agência ter virado o playground de Eduardo Bolsonaro. Quem falou isso foi Mario Vilalva, antes de ser afastado da presidência da Apex. Coimbra também não foi demitido da Apex com a chegada de Sergio Segovia Barbosa, conforme afirmava o texto original. Ele já havia pedido demissão 15 dias antes da mudança no comando da agência. A reportagem já foi corrigida. Pedimos desculpas aos nossos leitores pelo equívoco.

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