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Saída anunciada

Quem são os cotados para substituir Mandetta no Ministério da Saúde

Substituto de Luiz Henrique Mandetta deve ser anunciado nesta semana
Substituto de Luiz Henrique Mandetta deve ser anunciado nesta semana (Foto: EBC)

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O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, concedeu entrevista coletiva nesta quarta-feira (15) em tom de despedida. Ele e dois de seus principais auxiliares, o secretário-executivo João Gabbardo e o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Wanderson Oliveira, passaram parte da conversa com os repórteres – que é originalmente destinada a atualizar os números do combate ao coronavírus – mencionando que pretendem deixar juntos a pasta e preparar as condições de trabalho para os sucessores.

O cenário de demissão quase certa reabriu as especulações em torno do nome que ocuparia o comando do Ministério. A lista de citados contempla desde figuras que apareceram como alternativas para a pasta no início da crise entre Mandetta e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e também outras menos conhecidas do meio político, que teriam agora sua primeira função em um cargo público – e demonstrariam mais alinhamento com o chefe do Executivo.

Os nomes colocados à mesa também correspondem aos diferentes grupos que exercem, hoje, influência sobre o presidente Bolsonaro. Como a "ala ideológica", mais relacionada a questões do conservadorismo, o grupo militar, encabeçado por ministros como o general Augusto Heleno (Segurança Institucional), e a chamada "ala moderada", que tem como representantes os ministros Tarcisio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), entre outros.

A escolha de Bolsonaro representará um triunfo de um dos grupos e também um possível redirecionamento da postura do governo federal nas ações de enfrentamento à pandemia da Covid-19.

Alguns dos nomes especulados para o lugar de Mandetta

  • João Gabbardo: o nome do secretário-executivo do Ministério ganhou força entre a terça-feira (14) e o começo da quarta (15) como uma alternativa por ser visto como uma "solução caseira", que corresponderia a uma troca menos traumática e que possibilitaria a manutenção de outros integrantes da equipe de Mandetta. Gabbardo, porém, descartou a possibilidade durante a coletiva de quarta-feira. Ele foi perguntado diretamente se aceitaria ocupar o lugar de Mandetta e disse: "o dia que ele [Mandetta] sair, eu saio com ele".
  • Osmar Terra: deputado federal pelo MDB-RS e ex-ministro da Cidadania, Terra é também médico e tem sido um frequente crítico das políticas de isolamento. Ele utiliza com frequência as redes sociais para dizer que, na sua avaliação, medidas de quarentena levaram a mais mortes em países europeus. Terra foi citado diretamente por Mandetta na coletiva desta quarta. "Existem outras pessoas, tenho ex-secretários de Saúde que verbalizam diariamente que acham que o caminho é outro, [como] o tal do Osmar Terra, todo dia ele fala", afirmou o ainda ministro. 
  • Antonio Barra Torres: é o atual diretor-presidente substituto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Assim como Bolsonaro, tem formação militar: foi membro da Marinha, onde chegou a ser contra-almirante. Barra Torres se aproximou de Bolsonaro no início da crise do coronavírus, também por questionar medidas mais incisivas de isolamento. Ele esteve ao lado do presidente durante as manifestações pró-governo do dia 15 de março, quando Bolsonaro cumprimentou eleitores, o que gerou questionamentos. 
  • Nelson Teich: é médico oncologista e empresário, presidente da Clínicas Oncológicas Integradas (COI). Ele foi consultor de saúde durante a campanha de Bolsonaro, de quem se aproximou por meio do ministro Paulo Guedes (Economia). Chegou a ser cogitado para comandar a Saúde antes da escolha de Mandetta. Recentemente, publicou textos sobre a pandemia de coronavírus, dizendo rejeitar a "polarização entre economia e saúde". 
  • Roberto Kalil Filho: paulista que tem o apelido de "médico dos políticos" por conter em sua gama de pacientes nomes como os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. O que o conectou recentemente a Bolsonaro, entretanto, foi o fato de ele ter sido vítima da Covid-19 e de ter anunciado que utilizou a cloroquina em seu tratamento. O presidente é entusiasta da substância. O fato chegou a ser mencionado por Bolsonaro no pronunciamento oficial do último dia 8.
  • Nise Yamaguchi: também atuante em São Paulo, Yamaguchi é médica do Hospital Albert Einstein, onde Bolsonaro foi internado para se recuperar da facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. Ela é uma das principais defensoras, no meio médico, do uso da cloroquina para tratamento da Covid-19, mesmo para pacientes em fase inicial da doença. Bolsonaro chegou a compartilhar um vídeo em que a médica fala sobre o tema. 
  • Claudio Lottenberg: o único nome que, até o momento, falou abertamente sobre a possibilidade de comandar o Ministério. Durante transmissão pela internet organizada pelo Fórum da Liberdade nesta quarta-feira, declarou: "se eu for convidado, pretendo aceitar". Ele é presidente do conselho do Albert Einstein. Um aspecto, entretanto, pode o distanciar do cargo: a proximidade que ele tem com o governador de São Paulo, João Doria, e com outras figuras do PSDB paulista.
  • Otávio Berwanger: também vinculado ao Albert Einstein, é cardiologista e participou de reuniões com Bolsonaro no Palácio do Planalto para discutir o combate à pandemia.
  • Ludhmila Hajjar: cardiologista e diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a médica é considerada para o cargo também por respaldos políticos. Segundo o jornal O Globo, seu nome é referendado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e por aliados do presidente. Ela é favorável a um "isolamento responsável" e que "não seja extremista". Recentemente, em entrevista à Folha de S. Paulo, ela pediu cautela em relação à cloroquina: "está sendo visto como salvadora, mas não é". 
  • Marcelo Queiroga: outro cardiologista, Queiroga também integrou a equipe de campanha do então candidato Bolsonaro. Ele é próximo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), novamente de acordo com o jornal O Globo.
  • Maria Inez Gadelha: assim como João Gabbardo, atenderia ao critério de "solução caseira", já que é vinculada ao Ministério da Saúde, onde atua na Secretaria de Atenção à Saúde. É oncologista. 

Conflito aberto

Mandetta está em rota de colisão com Bolsonaro desde o início da pandemia de coronavírus. O "quase ex-ministro" é defensor da política de isolamento horizontal e da adoção das práticas para o combate à Covid-19 recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já Bolsonaro chegou a chamar a doença de "gripezinha" e tem exposto preocupação com os efeitos econômicos da paralisação das atividades econômicas.

Os conflitos entre Bolsonaro e Mandetta viveram um de seus ápices entre os dias 2 e 6 de abril. Na primeira data deste intervalo, o presidente concedeu uma entrevista à Jovem Pan e disse que estava "faltando humildade" a Mandetta. No dia 5, um domingo, Bolsonaro disse a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, que "usaria a caneta" contra pessoas que estariam atuando contra seu governo. E o dia 6 foi marcado por uma longa reunião que envolveu todos os ministros e em torno da qual havia a expectativa pela demissão de Mandetta, mas ele permaneceu mantido no cargo.

Quando os ânimos pareciam acalmados, entretanto, Mandetta concedeu uma entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo (12), e voltou a dar declarações que desagradaram Bolsonaro. Ele cobrou do governo federal uma "fala única" para o combate ao coronavírus e disse que a população não sabe se deve ouvir o ministro ou o presidente. Mandetta também criticou pessoas que vão a padarias – estabelecimentos que têm sido visitados por Bolsonaro.

A demissão de Mandetta voltou a ganhar força desde então e passou a ter ares quase oficiais quando o então secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Wanderson Oliveira, pediu sua exoneração, na quarta-feira (15). Oliveira é um dos auxiliares mais próximos de Mandetta. Em sua carta de despedida aos funcionários, o secretário disse que a saída de Mandetta "estava programada para as próximas horas ou dias". Ele acabou tendo seu desligamento rejeitado por Mandetta.

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