O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se reunido com diversos militares nos últimos dias. Ele busca restabelecer uma relação institucional com o comando das Forças Armadas – que demonstra ter reservas em relação ao petista. Por enquanto, Lula é aconselhado por cinco militares da reserva que tiveram cargos importantes nos governos do PT: o general Enzo Peri (Exército), o general Marco Edson Gonçalves Dias (Exército), o tenente-brigadeiro do Ar Juniti Saito (Aeronáutica), o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Rossato (Aeronáutica) e o major-brigadeiro do ar Rui Chagas Mesquita (Aeronáutica).
A expectativa é de que esses militares ajudem o petista na escolha dos próximos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e a restabelecer pontes com o alto comando das Forças Armadas. O grupo esteve reunido nesta semana com Lula e com o ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro – o provável futuro ministro da Defesa no governo do PT. Múcio tem bom trânsito com os militares.
A expectativa é de que, nos próximos dias, além de anunciar Múcio para a Defesa, Lula também já escolha os futuros comandantes das Forças Armadas. Os atuais comandantes – general Marco Antônio Freire Gomes (Exército), almirante de esquadra Almir Garnier Santos (Marinha) e tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica) – já indicaram que pretendem deixar os cargos antes da posse de Lula, marcada para 1.º de janeiro.
A decisão dos comandantes obrigou Lula a ter de acelerar a aproximação com os militares. Isso porque ele pretende escolher nomes que sejam "aceitos" pelas Forças Armadas para evitar criar uma insatisfação logo no começo de seu governo, que se somaria ao clima anti-PT que já existe na tropa. E, para indicar comandantes que agradam aos militares, ele precisa ouvi-los.
O que fizeram os conselheiros militares de Lula
- General Enzo Peri: foi comandante do Exército entre 2007 e 2015, período que compreendeu o segundo governo de Lula e o primeiro governo de Dilma Rousseff. Ao longo da campanha eleitoral, Peri foi responsável por levar aos interlocutores da chapa de Lula as demandas dos integrantes do Exército.
- General Marco Edson Gonçalves Dias: atuou na segurança pessoal de Lula na campanha eleitoral de 2022 e entre 2003 e 2009, quando o petista era presidente da República. Já no governo de Dilma, o militar foi chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional. No governo dela, foi promovido a general. Em seguida atuou na 6.ª Região Militar, responsável pela administração de pessoal e logística do Exército na Bahia. O militar também assumiu cargo no Quartel-General em Brasília. Depois foi para reserva.
- Tenente-brigadeiro do ar Juniti Saito: Foi comandante da Aeronáutica entre 2007 e 2015, período que compreendeu o segundo governo de Lula e o primeiro governo de Dilma.
- Tenente-brigadeiro do Ar Nivaldo Rossato: Foi comandante da Aeronáutica entre 2015 e 2019, período que compreendeu o segundo governo Dilma e o governo Michel Temer (MDB).
- Major-Brigadeiro do Ar Rui Chagas Mesquita: foi ajudante de ordens de Lula.
Lula buscou diálogo com generais do governo Bolsonaro
Interlocutores de Lula também buscaram diálogo com militares que ocuparam cargos no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre eles, o ex-comandante do Exército Edson Leal Pujol e o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva (que também é general). Azevedo e Silva foi ministro da Defesa até março de 2021. Ele deixou a pasta após a troca dos três comandantes da Forças Armadas pelo presidente Bolsonaro.
A avaliação entre aliados de Lula é de que Silva e Pujol foram importantes para manter a institucionalidade em um momento de crise e de tentativa de politização dos militares. À época, a troca dos três comandantes ao mesmo tempo, algo inédito, foi vista como um sinal de que Bolsonaro queria pressionar as Forças Armadas a dar mais demonstrações de apoio político a ele.
Apesar de todos esses movimentos de aproximação de Lula com os militares, a área da defesa tem sido uma das mais problemáticas na transição. Ao contrário de outras áreas, não houve a criação de um grupo de trabalho no gabinete de transição específico para o setor da defesa.
Contudo, o coordenador técnico da transição de governo, Aloizio Mercadante (PT), disse na quinta-feira (1.º) que futuro governo já tem o desenho da sucessão no comando das Forças Armadas. Segundo ele, o setor da defesa da transição tem vários especialistas que serão consultados sobre os planos do futuro governo. “Acho que é uma transição que está resolvida”, disse ele, em entrevista coletiva.
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