Entre os diversos grupos que deverão participar dos atos convocados para o próximo dia 7 de setembro a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro, entidades ruralistas despontam nas redes sociais como as principais organizadoras das mobilizações. Integrantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo, os ruralistas defendem pautas como a liberdade do Brasil, afrouxamento de regras ambientais, obras de infraestrutura, entre outros pontos.
O grupo, composto por mais de 100 associações e sindicatos ligados ao agronegócio, surgiu em 2017 para contestar a decisão do STF de declarar a constitucionalidade da cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) sobre o produtor rural pessoa física, um impasse que segue até hoje, com uma dívida do fundo já passa dos R$ 10 bilhões.
Entretanto, o Movimento Brasil Verde e Amarelo ganhou notoriedade nos últimos meses depois que passou a encampar a defesa do governo. Ruralistas do movimento foram os principais organizadores dos atos pró-governo do dia 15 de maio deste ano. Naquela ocasião, os manifestantes criticavam as medidas de restrição impostas pelos governadores em diversos estados por conta da pandemia.
“É um momento mágico para o agronegócio, uma movimentação pela liberdade e pela democracia. Foi um movimento ordeiro, inclusive com a presença de muitas famílias. Não foi uma comemoração, mas sim um ato pela nossa pátria. Estamos aqui lutando pela liberdade, democracia, independência dos três poderes e pelo voto auditável. É um momento de dar apoio ao presidente e seus ministros, que estão fazendo um trabalho de excelência. Me sinto orgulhoso dos nossos produtores rurais que estavam presentes, mesmo neste momento de pandemia”, afirmou naquele dia Márcio Bonesi, presidente da Aprosoja Paraná.
No mês passado, o Movimento Brasil Verde e Amarelo tentou organizar um churrasco para cerca de 2 mil ruralistas com a presença do presidente Bolsonaro na cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. A prefeitura havia concedido um decreto que permitia a realização do evento, mas a Justiça entendeu que liberação feria as regras sanitárias do Estado de São Paulo para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 – que autorizavam a ocupação de até 60% de estabelecimentos e não permitem a realização de eventos do tipo. Após a decisão judicial, a prefeitura cancelou o aval.
Além do Movimento Brasil Verde Amarelo, a mobilização pró-governo conta com o apoio de outros grupos, como a União Democrática Ruralista (UDR) e o Sindicato Rural de Uberlândia (MG).
Liderança
Antônio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), está entre os principais líderes do movimento – oficialmente, a entidade não confirma a participação na organização das manifestações.
A articulação que ele tem feito em favor dos atos pró-governo, porém, divide opiniões dentro do próprio setor. Alguns, como o deputado Neri Geller (PP-MT) e o ex-senador e ex-ministro Blairo Maggi, o repreendem por "usar" a Aprosoja “para fazer política”.
“Nem todos os sojicultores defendem a mesma tese. A Aprosoja deve defender os interesses comuns dos produtores e não fazer política. Sempre prezamos esta independência”, disse Maggi ao portal RDNews.
Galvan é um dos investigados no inquérito que apura a convocação de atos antidemocráticos, aberto pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Recentemente, ele e Sergio Reis foram alvos de mandados de buscas e apreensão, depois que o cantor sertanejo e diversos produtores de soja gravaram um vídeo na sede da Aprosoja, em Brasília, convocando seguidores para as manifestações de 7 de setembro. Galvan é citado por Moraes como possível patrocinador de uma suposta paralisação.
O ruralista se defende das acusações. Afirmou que o apoio da Aprosoja aos protestos foi definido em assembleias estaduais pela maioria dos 240 mil associados e que nem ele nem a entidade contribuíram com nenhum centavo para a organização do ato. “Quem me conhece sabe que sou mão-de-vaca. Já presto um trabalho voluntário para o setor como dirigente e não tem sentido colocar a mão no bolso”, disse Galvan após prestar depoimento à Polícia Federal.
Ainda de acordo com o empresário, ele só foi envolvido no inquérito por ter recebido Sérgio Reis na sede da Aprosoja. “Não fiz nada de ilícito. Minha fala foi dentro da legalidade. Fui envolvido nisso apenas por receber por cortesia o artista Sérgio Reis, de 81 anos, na sede da Aprosoja. Meu único envolvimento foi aparecer em fotos e vídeos com ele. Nunca apoiei depredação ou violência e nossos movimentos sempre foram ordeiros”, completou.
Além do depoimento à PF, Antônio Galvan e os demais líderes do movimento não podem se comunicar entre si nem usar redes sociais, segundo a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Eles também foram proibidos de chegar a menos de um quilômetro de distância da Praça dos Três Poderes e de participar de eventos em ruas e monumentos do Distrito Federal. No entanto, o presidente da Aprosoja afirmou que estava recorrendo dessa decisão por considerá-la arbitrária.
Financiamento dos atos
De acordo com Antônio Galvan, o financiamento dos atos do 7 de setembro ocorria de forma espontânea, por doação de empresários ao Movimento Brasil Verde e Amarelo. O grupo estava recebendo essas doações por meio de uma chave PIX e chegou a divulgar que, entre os dias 03 e 09 de agosto, recebeu quase R$ 15 mil em doações.
Contudo, essa chave PIX e a conta vinculada a ela foram bloqueadas por decisão do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito envolvendo Galvan e Sérgio Reis. De acordo com o processo, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes (Zé Trovão), também investigado, teria alegado que estaria recebendo apoio de empresários do agronegócio para “‘custear a viagem’ de populares até a capital federal”, com “a pretensão de ‘salvar o país dessa carniça podre chamada ministros podres do STF’”, afirmando também que “só volta para casa com ‘tudo resolvido'”.
O sindicato Rural de Uberlândia, por sua vez, promete oferecer ônibus de graça para seus associados na “Caravana para Brasília em Defesa do Brasil”. Os cerca de 425 km serão cumpridos em um bate-volta, com saída pela manhã e retorno à tarde.
Bancada ruralista e entidades se dividem sobre as manifestações
Com mais de 250 parlamentares, a bancada ruralista tem se dividido entre apoiadores e críticos aos movimentos marcados para o dia 7 de setembro.
A deputada Aline Sleutjes (PSL-PR), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, já confirmou presença nos atos do dia 7 de setembro e convocou seus apoiadores.
Por outro lado, o ex-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), criticou os ataques feitos ao Poder Judiciário e disse que as declarações atrapalham o setor produtivo.
"Essa é uma questão de natureza política, não tem nada a ver com o setor", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o emedebista que é presidente da Fundação Ulysses Guimarães – entidade do MDB que recentemente lançou um manifesto para nortear as articulações da ala do seu partido que defende uma terceira via como alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula (PT) nas eleições do ano que vem.
Outro sinal de reprovação aos atos de 7 de setembro veio da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). A entidade foi uma das signatárias de uma carta, divulgada nesta semana, que cobrou das lideranças do país uma postura “à altura” do Brasil e criticou a possibilidade de “aventuras radicais” do governo.
"Em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua História agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência”, afirma o texto assinado por Abag e entidades que representam setores como a soja, o óleo de palma e a indústria de celulose.
A Abag também deve ser uma das signatárias do manifesto que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está preparando, com um pedido de harmonia entre os três Poderes. A ideia era que o documento fosse divulgado ainda nesta semana, no entanto, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi pressionado a postergar a publicação do texto para depois das manifestações de 7 de setembro.
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