A recente aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita decisões monocráticas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e outras proposições que tentam impedir a Corte de legislar, ainda vão precisar conquistar o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para que a discussão avance. Mas, até o momento, Lira não deu indícios de que irá apoiar medidas para limitar os poderes do STF.
Como a PEC, proposta do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), já passou pelo crivo da comissão que atesta que ela é constitucional, seguirá em breve para o Plenário do Senado. Ficou acertado no colégio de líderes que a matéria deverá ser pautada em novembro, após a conclusão da análise da reforma tributária.
Ela pretende alterar a Constituição Federal para limitar o poder de uma decisão tomada por um único ministro do Supremo e fixar um prazo para devolução de pedidos de vista (pedidos que os ministros fazem para ter mais tempo para analisar determinado processo). Caso aprovada no Senado, a proposta ainda terá que ser analisada na Câmara dos Deputados.
No Senado, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já deu declarações questionando o intervencionismo do STF no Legislativo. Apesar disso, ele tem negado que haja uma "crise" entre os poderes. Ele se manifestou favorável ao teor de algumas propostas para "frear" o Judiciário. Nesta semana, senadores que defendem a PEC têm preferido o silêncio: um indício de que o tema pode estar em negociação.
Já o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), até defendeu o "equilíbrio" entre os poderes, mas não deu indícios de que irá apoiar propostas que tentem limitar os poderes do STF.
Entre os parlamentares, há um clima favorável à aprovação de medidas que tentem forçar a Corte a não interferir mais em matérias legislativas. Apesar disso, quem pauta as questões que serão discutidas e votadas é o próprio Lira, em conjunto com os líderes partidários.
Recentemente, em solenidade no STF, Lira disse que os poderes devem se respeitar, mas que o diálogo deve ser usado para resolver problemas. A declaração foi um indício de que ele pode querer "botar panos quentes" no debate que se acirrou nos últimos dias contra o ativismo judicial.
PEC que limita decisões monocráticas do STF pode avançar, avaliam analistas
Mesmo com o tom "pacificador" adotado por Arthur Lira nos últimos dias, o professor de Ciências Políticas Adriano Cerqueira, da Universidade Federal de Ouro Preto, acredita que o presidente da Câmara não conseguirá impedir o avanço da proposta específica que tenta impedir que um único ministro tome decisões no Supremo.
De acordo com Cerqueira, o grande descontentamento dos parlamentares com a invasão de competências do STF em assuntos do Legislativo pode acabar forçando Lira a levar adiante a discussão sobre a limitação de decisões monocráticas do STF e a definição de prazos para a devolução de processos com pedido de vista.
"Essa PEC que limita poderes me parece ter consenso nas duas Casas, e a tendência é o Lira pautar, até pela rapidez com que a matéria foi debatida e votada lá no Senado".
O diretor da Consultoria Política Vector Research, Leonardo Barreto, também aposta que a intenção de barrar decisões monocráticas possa seguir em frente. Após aprovada pelo plenário do Senado, ela precisará passar pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e depois por uma Comissão Especial.
Para ele, existe maioria em torno do tema, que é uma agenda tanto dos partidos de centro e de direita quanto de frentes parlamentares fortes, como a da Agropecuária, que também apoia a proposta.
"O Lira está se aproximando do governo, mas ele continua tendo seus compromissos com a bancada de centro-direita, que é de onde ele vem", pontua. Por isso, segundo Barreto, a PEC do senador Oriovisto Guimarães deve virar quase que um consenso. Para ele, a proposta é um avanço institucional, com grande aceitação dentro do Congresso Nacional.
Oposição segue obstruindo pauta na Câmara
Apesar dos avanços nas posições contra a "usurpação de competências" e o debate sobre meios para "limitar" poderes do STF, a oposição vai manter o movimento de obstrução de votações. Ele foi iniciado depois que o Supremo derrubou o marco temporal para demarcação de terras indígenas, tese que prevê que a cessão das áreas em favor dos indígenas só valeria para terras que já estivessem habitadas pelas tribos na data da promulgação da Constituição de 1988.
De acordo com o vice-líder da Oposição na Câmara, deputado Maurício Marcon (PL-RS), mesmo com a semana esvaziada pelo feriado de Nossa Senhora Aparecida (12), da padroeira do Brasil, e os presidentes da Câmara e Senado em viagens internacionais em agenda oficial, PL e Novo seguem a orientação de não registrar presença tanto nas comissões quanto no Plenário, retardando o início das sessões.
Após o quórum ser atingido, a oposição poderá votar projetos já incluídos na pauta que tratem de matérias consensuais. A oposição também liberou a inscrição dos parlamentares para fazer comunicados da tribuna, para marcar posição contra os ataques do Hamas a Israel, que tiveram início no último fim de semana.
Os líderes partidários devem se reunir novamente nesta terça-feira (10) para discutir as pautas da próxima semana.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF