O cancelamento do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com líderes partidários da Câmara dos Deputados, nesta segunda-feira (5), expôs mais uma vez os erros do Palácio do Planalto na articulação política do governo. O encontro, que estava previsto para acontecer no final do dia, chegou a ser confirmado pelos articuladores de Lula ainda pela manhã, mas foi cancelado devido ao declínio do convite por parte de alguns líderes partidários.
O pano de fundo do encontro seria Lula agradecer pessoalmente aos líderes partidários pela aprovação da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. Além de partidos de esquerda e de partidos de centro, como União Brasil, MDB e PSD, o convite também foi feito para lideranças de siglas independentes, como o PP e o Republicanos. O Planalto tem cortejado os deputados desses partidos no intuito de ampliar a base governista.
Apesar disso, lideranças do PP e do Republicanos recusaram o convite diante das várias "demandas reprimidas" em relação ao governo. De acordo com deputados desses partidos, o Planalto ainda precisa ajustar alguns pontos da articulação antes de um encontro que "serviria apenas para posar para uma foto ao lado de Lula".
O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), afirma, por exemplo, que a legenda seguirá independente até o final do mandato de Lula. No entanto, lideranças do partido terão liberdade para negociar de forma individual com o Palácio do Planalto.
O líder da bancada da sigla na Câmara, Hugo Motta (PB), e o deputado Silvio Costa Filho (PE) mantêm relação de proximidade com a gestão Lula. Eles já costuraram indicações em seus estados para a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Na votação da MP da Esplanada, o Republicanos entregou 35 dos 41 votos de sua bancada para o governo.
Na mesma linha, lideranças do PP alegaram que tiveram que recusar o convite diante do prazo para que a agenda fosse confirmada. Ao líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT), os parlamentares disseram que a "semana curta" devido ao feriado de Corpus Christi fez com que não embarcassem para Brasília. A expectativa do governo agora é de remarcar o encontro para a semana que vem.
Ainda na manhã de segunda, Lula tomou café com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) no Palácio da Alvorada, e ouviu do deputado que o governo precisa melhorar a forma como conversa com a Casa. Lira afirmou que a gestão do presidente precisa negociar a fim de montar uma base sólida. Ele disse ainda que, no momento, a Câmara só está votando de forma favorável matérias que interessam ao governo porque “tem compromisso com o país”.
Daniela Carneiro pode perder ministério para Lula ampliar apoio no União Brasil
Além de uma aproximação com os líderes da Câmara, Lula estuda uma troca no ministério do Turismo no intuito de ampliar o seu apoio dentro do União Brasil. A expectativa é de que Daniela Carneiro abra espaço para o deputado Celso Sabino (PA) - com apoio da bancada de deputados do partido.
Apesar de contar com três ministérios, a bancada de deputados do União Brasil alega ao Planalto que se sentia sub-representada pelas indicações de ministros feitas por Lula ainda durante o período de transição de governo. Além de Daniela Carneiro no Turismo, o União Brasil tem como ministro Juscelino Filho, nas Comunicações, e Waldez Goes, na Integração e Desenvolvimento Regional.
Carneiro, no entanto, está numa disputa interna dentro do União Brasil e seu grupo político trabalha para deixar o partido e migrar para o Republicanos. A ministra do Turismo é deputada federal e briga na Justiça Eleitoral para deixar a legenda sem perder o mandato por infidelidade partidária.
Diante dessa disputa, Lula buscou nos últimos dias o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), no intuito de buscar um entendimento com a bancada de deputados. Com isso, o nome de Celso Sabino passou a ser endossado como favorito para ocupar o Ministério do Turismo.
Sabino é próximo de Arthur Lira e ganhou projeção junto ao governo petista ainda no final do ano passado, quando viabilizou na Comissão Mista de Orçamento a tramitação da chamada PEC da Transição. À época, Sabino era presidente do colegiado e trabalhou pela aprovação da medida, a qual possibilitou furar o teto de gastos e ampliar os recursos para que Lula viabilizasse, por exemplo, o Bolsa Família no valor de R$ 600.
Além da troca de Daniela Carneiro, o Planalto estuda ainda a possibilidade de mudança na pasta das Comunicações. Juscelino Filho foi pivô de uma das primeiras crises dentro do governo petista, quando foi acusado de ter viajado com dinheiro público para resolver questões pessoais em São Paulo, ainda em janeiro. As trocas, no entanto, ainda não têm data para ocorrer, mas já estão sendo negociadas pelo Planalto.
Sem a presença de líderes da Câmara, petista se refugiou com aliados do Senado
Sem a presença de líderes partidários da Câmara, Lula acabou se reunindo apenas com senadores aliados para tratar da articulação política. Entre os partidos da oposição, apenas o líder do PSDB, senador Izalci Lucas (DF), esteve presente no encontro com Lula no Palácio do Planalto na segunda-feira.
Além do tucano, estiveram presentes os líderes: Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Otto Alencar (PSD-BA), Fabiano Contarato (PT-ES), Jorge Kajuru (PSB-GO), Renan Calheiros (MDB-AL) e Marcelo Castro (MDB-PI). Os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Casa Civil, Rui Costa, também participaram do encontro.
Na conversa, os políticos falaram sobre a articulação política do governo, o tamanho da base aliada do Executivo no Senado, a sabatina do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, Jorge Kajuru afirmou que os líderes passarão a investir em encontros com representantes do agronegócio para estreitar a relação de Lula com o setor, que passa por um momento de turbulência.
De acordo com o senador, um encontro de Lula e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já foi agendado com aproximadamente 200 produtores de Goiás ainda para o mês de junho. "O presidente sabe que precisa conversar com o agro nos estados abertamente sobre as demandas e o que está acontecendo no país", disse.
Único integrante da oposição na agenda do Planalto, Izalci Lucas afirmou que Lula assumiu um compromisso de retirar os gastos com o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), abastecido pela União para custear a segurança pública e outras políticas do DF, do limite do arcabouço fiscal. O texto foi aprovado pela Câmara com a inclusão dessas despesas na nova regra para as contas públicas.
"O presidente a princípio não sabia, mas conversamos e a tendência é ou retirar do texto ou a gente aprova e tem o compromisso do veto e mantém o veto", afirmou o senador do DF.
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