Ministros Sergio Massa e Fernando Haddad celebram acordo comercial com respaldo de Lula: esforço brasileiro para socorrer Argentina em crise econômica profunda| Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Nem mesmo a vitória de Sérgio Massa na Argentina pode garantir a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a aproximação que o petista manteve com o país durante o último ano e em seus mandatos anteriores. Apesar de ser o nome atual da esquerda, Massa já foi adversário do peronismo e não deve ter uma relação tão próxima com Lula como teve Alberto Fernández.

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As pesquisas sobre as eleições do próximo domingo (19) na Argentina mostram um empate técnico entre Massa e o libertário Javier Milei, que defende o fim do peronismo e do Estado inchado e ineficiente.

“Massa é uma figura pragmática politicamente. Ele já fez críticas ao peronismo e ao kirchnerismo e age conforme seus interesses. Há diversas críticas sobre ele em relação a isso, inclusive. Mas a avaliação que podemos fazer é de que ele é pragmático por essência”, avalia o cientista político argentino Leandro Gabiati.

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Quando voltou a assumir o Executivo brasileiro neste ano, o primeiro destino internacional de Lula foi Buenos Aires, em uma visita ao presidente do país e seu amigo de longa data, Alberto Fernández. Lula e Fernández possuem uma proximidade para além da diplomacia. O argentino, inclusive, chegou a visitar Lula na prisão em 2019.

Foi essa relação pessoal — motivada pela identificação ideológica entre os dois presidentes — que possibilitou a Fernández a abertura para pedir ajuda de Lula em uma tentativa de superar a crise econômica em seu país.

Nos últimos meses, entre as tentativas de Lula para ajudar o amigo argentino, o governo convidou a Argentina para entrar nos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); tentou negociar o acesso do país ao Novo Bando de Desenvolvimento, também conhecido como Banco dos Brics; financiou importações e tentou viabilizar por meio de financiamento do BNDES a conclusão da construção do gasoduto Néstor Kirchner.

Mais recentemente, Lula ainda foi acusado de ter pressionado o Brasil, através de sua ministra do Planejamento, Simone Tebet, e países vizinhos a autorizar um empréstimo bilionário à Argentina pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Lula e Tebet negaram que tenham interferido no crédito de US$ 1 bilhão liberado para a Argentina. O empréstimo viabilizou a rolagem da dívida do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional)

Para Gabiati, essa relação tão próxima e pessoal entre os presidentes não vai ser mais vista entre os dois países, ainda que Massa seja o candidato eleito. Sérgio Massa é ministro da economia de Alberto Fenández desde 2022 e foi o candidato escolhido pelo governo para disputar o pleito eleitoral deste ano. Apoiado também por Cristina Kirchner, atual vice-presidente argentina, Massa é a aposta da esquerda para derrotar o libertário Javier Milei.

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Giabati diz que Milei terá uma relação fria com o Brasil e Massa, se for eleito, não deve explorar uma amizade com o mandatário brasileiro. “O Lula tem uma aproximação com o kirchnerismo, mas não com o Massa, necessariamente. Óbvio que há uma proximidade natural, mas o que foi visto com Fernández não deve se repetir” avalia o especialista.

Lula não deve encontrar respaldo em pautas do Foro de São Paulo para se aproximar de Massa 

A convergência de Lula com presidentes argentinos partiu, na maioria das vezes, da pauta ideológica de esquerda. A amizade com Fernández e com o falecido ex-presidente Néstor Kirchner, partiram dessa proximidade que une, por exemplo, o Foro de São Paulo na América do Sul a outras regiões do mundo. A organização reúne partidos de esquerda dos mais variados países para discutir ideias e métodos para angariar apoiadores.

Ainda que seja o nome escolhido para representar a esquerda no pleito presidencial do próximo domingo (22), Sérgio Massa não possui um DNA peronista e já foi um crítico da esquerda, conforme pontua Giabati. “Sérgio Massa não possui uma raiz peronista, mas, neste caso e por situações específicas, foi a figura escolhida para representar a esquerda e o peronismo nas eleições”, relembra o cientista político.

O pragmatismo de Massa o levou à atual posição, segundo Giabati. “Ainda que ele não seja uma figura de esquerda, como o Gabriel Boric no Chile e outros presidentes na América Latina, ele representa a oposição ao candidato mais ideológico da direita na Argentina atualmente, que é o Milei. Aqui vale aquela premissa do ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo’”, avalia.

O candidato começou sua carreira política durante o governo de Cristina Kirchner e em 2009, após dois anos ocupando o cargo de chefe de Gabinete de Ministros, Massa rompeu com o Kirchnerismo e fez diversas críticas a Cristina e seu esposo, o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner. Informações da imprensa à época revelaram um desentendimento entre os dois após Sérgio ter chamado Néstor de “psicopata, monstro e covarde” durante um jantar no Estados Unidos.

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Em 2013, Massa chegou a fundar seu próprio partido e se tornou um “anti-Kirchner”, fazendo diversas críticas à então presidente do país. Dois anos mais tarde, Massa lançou sua candidatura como presidente e fez uma campanha com diversas críticas à Cristina e ao seu partido. Após a derrota, Massa chegou a apoiar, de forma velada, o ex-presidente Mauricio Macri, que foi eleito naquele ano.

A figura de crítico ao Kirchnerismo durou até 2019, quando o atual candidato à presidência argentina anunciou que faria parte da coalizão peronista Frente de Todos, liderada por Alberto Fernández e a própria Cristina Kirchner. À época, Massa disse que era preciso “unir forças” para derrotar a tentativa de Macri para se reeleger — o que funcionou. Fernández foi eleito com Kichner como sua vice-líder em 2019 e, três anos depois, Massa foi indicado ao Ministério da Economia.

Apesar do apoio ao Kirchnerismo, Massa tem tentado afastar sua imagem de Fernández e da própria Cristina, com temor que a presença das duas figuras, que já são amplamente desgastadas para o eleitorado argentino, sabote sua candidatura.

Esse distanciamento entre Lula e o candidato argentino, pode esfriar os planos de do brasileiro para o país vizinho. Caso Massa seja eleito, a relação de amizade que o petista pretende perpetuar com a Argentina pode ser substituída por um relacionamento pragmático e distante.

Apesar de não ser o candidato de esquerda ideal para Lula, Massa ainda é a esperança do Palácio do Planalto para a permanência da esquerda na Casa Rosada. A vitória de Milei, o candidato libertário da Argentina, é sinônimo de uma relação ainda mais estremecida com o Brasil. Recentemente, o libertário chamou Lula de “comunista raivoso” e prometeu que seu governo será marcado pelo esfriamento de relações com governos de esquerda, como o Brasil e o da China. Mas disse que o setor privado terá toda a liberdade para continuar fazendo negócios com os países.

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Milei ainda é visto como uma ameaça para Lula no que diz respeito a política externa do mandatário brasileiro. Desde que assumiu para seu terceiro mandato, Lula tem tentado tirar do papel o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas sem muito sucesso. Dentro do bloco, o petista já tem encontrado resistência por parte do presidente uruguaio de direita, Luis Lacalle Pou. Caso Milei seja eleito, a oposição à Lula dentro da organização ganha ainda mais força.

Lula tem sido cauteloso ao falar sobre as eleições na Argentina

A Gazeta do Povo revelou anteriormente que Lula iria apostar no silêncio para as eleições na Argentina, com o intuito de evitar um ruído na relação diplomática entre os dois países caso o candidato apoiado por ele não seja eleito. Nesta semana, contudo, o petista comentou o pleito eleitoral do país vizinho durante sua live semanal.

“Eu não posso falar de eleição na Argentina, porque é um direito soberano do povo da Argentina. Mas, eu queria lembrar para vocês que o Brasil precisa da Argentina e de que a Argentina precisa do Brasil. É preciso ter um presidente que goste de democracia, que respeite as instituições, que goste do Mercosul, que goste da América do Sul e que pense na criação de um bloco importante”, disse Lula.

Para apoiadores do presidente, a fala foi uma alfinetada à Milei. Giabati pontua, contudo, que o comentário de Lula foi pragmático. “Ele não citou nome de nenhum candidato, apesar de sabermos qual sua preferência. Mas o comentário dele pode servir para os dois. Se você perguntar para o eleitor do Milei quem é o candidato mais democrático ele vai dizer que o Milei, o mesmo serve para quem vai votar no Massa. É uma questão subjetiva”.

Apesar da tentativa de manter o pragmatismo, Lula não deve se esforçar para manter um canal aberto com o candidato da oposição na Argentina, que já afirmou que vai cortar laços com o brasileiro. De acordo com informações reveladas pela CNN Brasil, o petista ainda estuda não ligar para Javier Milei e parabenizá-lo caso ele seja eleito, como de praxe faz o petista. Lula deve se manifestar através das redes sociais e por meio de uma nota divulgada pelo Itamaraty.

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