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O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid-19, enviou uma carta aos jogadores e à comissão técnica da seleção brasileira em que pede a não participação dos atletas na Copa América no Brasil. A competição está marcada para o período entre 13 de junho e 11 de julho.
“A seleção é motivo de orgulho. Disputar a Copa pode até gerar troféu. Não disputar, em nome de vidas, significará sua maior conquista”, escreveu o senador no Twitter. “Impossibilitado de apelar ao bom senso do presidente da República e da CBF, enviei nota aos atletas e à comissão técnica.”
No texto, que Calheiros diz ter sido sugerido pela equipe técnica da CPI, diz não ser contra a Copa América no Brasil “ou em qualquer outro lugar”, mas que a competição “poderia esperar até que o país esteja preparado para recebê-lo”, a exemplo do que ocorreu com os Jogos Olímpicos de Tóquio, marcados originalmente para 2020 e adiados para este ano em razão da pandemia do novo coronavírus.
“Não realizar e não participar da Copa América no Brasil não é um ato político, é um gesto de respeito à vida de milhões de famílias enlutadas pela morte e por cicatrizes incuráveis”, diz trecho.
Na terça-feira (1º), o senador já havia falado, durante sessão da CPI, diretamente aos jogadores e membros da comissão técnica da seleção para pedir que rejeitassem a realização da competição no Brasil. “Neymar, não concorde com a realização da Copa América”, disse.
Confira a carta na íntegra:
Por que a Copa América no Brasil é um mau exemplo
Esta reflexão, sugerida pela equipe técnica da CPI da Covid-19 no Senado Federal é endereçada à Comissão Técnica da Seleção Brasileira e aos nossos craques, ídolos e atletas. Nosso modesto propósito é informar, alicerçados em argumentos estritamente técnicos, sem qualquer viés político. As razões para a realização da Copa América na iminência de uma terceira onda da pandemia no Brasil não corresponde a opção sanitária mais segura para o povo brasileiro.
1) O número de brasileiros vacinados representava, na totalização do dia 04/06/2021, apenas 10,77% do total da população. Isso o coloca o país na posição de número 64 no ranking mundial de vacinação adotando-se o critério percentual da população imunizada/100 mil habitantes. O Brasil não oferece segurança sanitária de acordo com dados objetivos para a realização de um torneio internacional dessa magnitude no país. Além de transmitir a falsa sensação de segurança e normalidade, oposta à realidade que os brasileiros vivem, teria o efeitore provável de estimular aglomerações e transmitir um péssimo exemplo. Pelo atraso da vacinação estamos muito distantes da cobertura vacinal mínima para pensar em retomadas da vida normal;
2) O Brasil, onde pretensamente se realizaria a Copa América, regista hoje a trágica marca de mais de 470 mil mortos pela pandemia. Estamos vivendo um dos momentos mais críticos da doença, sob o risco concreto de uma terceira onda mais severa e, como constatado, com a população ainda não imunizada em percentuais seguros. Morrem em média perto 2 mil brasileiros todos os dias vitimados pela doença e o colapso do atendimento hospitalar se avizinha. Isso significa que a cada partida de futebol da Copa América, de 90 minutos, mais de 120 brasileiros estariam morrendo ao mesmo tempo. Futebol é uma das maiores expressões da alegria. Há alegria em uma situação como essa?
3) Temos ciência da divisão existente no Brasil. Alguns setores tentam forçar a realização da Copa América, ou não, como um ato político. Como se a única neutralidade fosse obedecer sem questionar. Por isso, trazemos a lume esses argumentos nitidamente técnicos. Para muito além da política, há uma discussão entre ciência em oposição ao negacionismo.
4) Pensem na preparação técnica de todos, nos treinamentos, deslocamentos, alojamentos, na meticulosa rotina de exercícios, na equipe de profissionais médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e tantos outros. Pensem nos esquemas táticos, nas técnicas que cada um desenvolve para alcançar o seu auge de desempenho como atleta. Há como negar que todos esses avanços são fundamentais? Essas rotinas e protocolos são “políticos”, as que todos vocês praticam todos os dias para manter a altíssima performance que é exigida de um atleta? Claro que não. Assim como não é político seguir protocolos internacionais num país que enfrenta um grave momento pandemia.
Não somos contra a Copa América no Brasil ou em qualquer outro lugar. Mas acreditamos que o torneio pode esperar até que o país esteja preparado para recebê-lo, assim como já aconteceu pela primeira vez na história com uma competição muito mais importante, as Olimpíadas do Japão. Não realizar e não participar da Copa América no Brasil não é um ato político, é um gesto de respeito à vida de milhões de famílias enlutadas pela morte e por cicatrizes incuráveis. É adotar a mesma disciplina técnica e científica que todos da Comissão Técnica e todos os Jogadores obedecem, desde sempre, todos os dias.