Presidente Lula e ministro da Justiça, Flávio Dino, que negou compartilhamento de imagens da sede de seu ministério no 8 de janeiro| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro retomará as sessões nesta terça-feira (1º) com a audiência de Saulo Moura da Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O pedido foi feito pela oposição, que vai questioná-lo sobre a série de alertas emitidos nas 48 horas anteriores aos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes. Além desses avisos ignorados pelos órgãos federais de segurança, a reunião deverá ser marcada pelo protesto de oposicionistas contra a negativa do ministro da Justiça, Flávio Dino, em fornecer as imagens das câmeras de segurança do Palácio da Justiça, sede de seu ministério, registradas no dia dos ataques.

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Em ofício entregue à CPMI, o ministro alegou que elas seguem sob análise de investigações criminais em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o que, pelo Código de Processo Penal, impediria o compartilhamento. O gesto, contudo, alimenta especulações de tentativa de dificultar a busca por indícios que confirmem omissões do governo Lula nos atos de 8 de janeiro.

Os oposicionistas lembram, contudo, que a CPMI tem poderes para requerer os materiais e que a própria Suprema Corte já havia autorizado a liberação para o colegiado de imagens daquele dia, como as do Palácio do Planalto, inseridas dentro do mesmo contexto.

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“O STF forneceu as imagens gravadas pelas suas próprias câmeras de segurança. O Planalto forneceu as suas gravações até mesmo à imprensa. Já o Ministério da Justiça, esse não pode fornecer?”, questionou o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

O requerimento - considerado fundamental pela oposição e negado por Dino - visa, segundo os parlamentares oposicionistas, tirar uma dúvida essencial sobre o grau de ciência que o ministro tinha em relação aos fatos do 8 de janeiro, assunto sobre o qual o próprio já entrou em contradição. As imagens supostamente comprovariam a presença de Dino no prédio durante os atos, em contato com outras autoridades.

Em relação à primeira testemunha a ser ouvida pela CPMI na volta aos trabalhos, o interesse da oposição em Saulo Cunha está no fato de ele ter comandado a Abin no dia das cenas de depredação na Praça dos Três Poderes. Ele deixou o cargo depois, no início de março. Foram apresentados cinco requerimentos para a convocação de Cunha.

Autor de um deles, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) argumenta que o depoimento do agente é importante porque a agência “produziu diversos alertas sobre riscos de um ataque violento a prédios públicos de Brasília, inclusive na véspera”. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), por sua vez, defende que a presença de Cunha na CPMI ajuda com a “transparência nas apurações”.

Já a defesa do ex-diretor da Abin pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ele seja ouvido uma sessão secreta no Congresso, de acordo com informações da CNN Brasil. Se a medida não for a acatada, o pedido é para que ele fale à CPMI em uma sessão com portas fechadas.

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Inquérito do Exército vê indícios de responsabilidade do Planalto

Reportagem da Folha de S. Paulo revelou, nesta segunda-feira (31), o teor de um inquérito militar que investiga a atuação de oficiais do Exército nos atos de 8 de janeiro, indicando “indícios de responsabilidade” da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, ligada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

O documento sugere que um planejamento adequado do órgão teria evitado ou minimizado os atos de vandalismo no Palácio do Planalto. As investigações conduzidas pelo Comando Militar do Planalto (CMP) destacam o papel da secretaria no “planejamento, acionamento e emprego” de militares na proteção do palácio.

Em nota, o GSI negou ter tido acesso às conclusões do inquérito do CMP.

Na última sessão da colegiado, em 11 de julho, pouco antes do recesso parlamentar, os membros aprovaram - mediante acordo - requerimentos dos oposicionistas considerados por eles essenciais à transparência e à ampla investigação dos fatos. Os pedidos foram aprovados após um "vacilo" dos governistas e possibilitam o acesso aos planos de voo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no fim de semana das invasões às sedes do Legislativo, Executivo e Judiciário.

Relatórios que chegaram à comissão revelam que a viagem de Lula para Araraquara (SP) foi decidida, repentinamente, na tarde do sábado, véspera dos episódios investigados. A oposição entende que a ida do presidente para o interior paulista poderia servir para provocar a sua ausência de Brasília ao longo da manhã e da tarde do fatídico domingo.

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Oficialmente, Lula visitou Araraquara para analisar os danos causados pelas fortes chuvas que atingiram o município entre o fim de dezembro de 2022 e o início de 2023.

Investigações priorizaram alvos do governo nos primeiros meses

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI e aliada política do ministro Flávio Dino, reconheceu na semana passada que a comissão terá “dias absolutamente intensos” a partir de agosto devido justamente ao acesso a documentos que ajudarão nas audiências.

No grupo dos governistas, ela pretende explorar contradições de testemunhas que já falaram ao colegiado e relatórios sobre movimentos de pessoas e dados de supostos financiadores, dentro do roteiro de trabalho voltado a comprovar a tese de golpe de Estado idealizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Neste sentido, a parlamentar prevê até mesmo a reconvocação de ouvidos e acareações.

Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), os primeiros dois meses de trabalho da CPMI foram marcados pela tentativa de aliados do governo de “blindar os poderosos”. Ele defendeu a convocação do general Marco Edson Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em 8 de janeiro, que foi gravado em vídeo interagindo com manifestantes dentro do Palácio do Planalto.

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“Após dois meses de trabalho, infelizmente só foi apurado o que um lado pediu, em favor de uma narrativa e em prejuízo da investigação total, com interesse de blindar os poderosos”, disse Girão.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]