A revista Science publicou um editorial com críticas ao governo Lula por conta da proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP 30, e da falta de “exemplo” do governo brasileiro em relação às medidas de “combate às mudanças climáticas”. A COP 30 será realizada em novembro de 2025, em Belém, no Pará.
"Como anfitrião da conferência, o Brasil não está liderando pelo exemplo. À medida que os participantes se preparam para a COP 30 nos próximos meses, é importante que a reunião seja usada não apenas para chegar a um acordo sobre novas medidas globais para combater as mudanças climáticas, mas também para incentivar o país anfitrião a mudar as práticas atuais”, diz um trecho do texto.
No editorial, publicado nesta quinta-feira (20), a revista diz que, à exceção do do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, comandado por Marina Silva, todos os órgãos do governo Lula estão “promovendo atividades que aumentam as emissões de gases de efeito estufa”.
A revista citou ações dos ministérios dos Transportes, da Agricultura e de Minas e Energia como exemplos da falta de compromisso do governo Lula com a pauta climática.
“O Ministério dos Transportes pretende abrir grandes áreas de floresta amazônica para a entrada de desmatadores pelo ‘trecho médio’ de 408 km da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) e estradas secundárias associadas. A vasta área florestal aberta por essas estradas contém carbono suficiente para empurrar o aquecimento global além de um ponto de inflexão irreversível”, diz o editorial.
Desmatamento e exploração de petróleo e gás
A revista diz ainda que o Ministério da Agricultura “subsidia a transformação de pastagens em soja, que é um importante impulsionador do desmatamento porque, quando a terra se torna mais valiosa para a soja do que para o gado, os pecuaristas (incluindo aqueles fora da Amazônia) vendem suas terras para plantadores de soja e usam os lucros para comprar áreas muito maiores de floresta amazônica barata para novas fazendas em áreas mais remotas”.
O texto também cita os novos campos de petróleo e gás abertos pelo Ministério de Minas e Energia na floresta amazônica e em áreas offshore, “incluindo o plano de perfuração na foz do rio Amazonas, próximo ao local da próxima COP”.
O que diz o governo
A Gazeta do Povo entrou em contato com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) para comentar sobre o caso. Em resposta, a Secom orientou o jornal a procurar cada um dos ministérios citados pela revista.
A Gazeta questionou os ministérios dos Transportes, da Agricultura e de Minas e Energia sobre as críticas feitas pela revista, mas obteve retorno apenas da pasta de Minas e Energia.
Em nota, o MME disse que os projetos exploratórios na Bacia da Foz do Amazonas "não estão próximos à floresta amazônica", como afirma a revista.
"Os blocos atualmente sob contrato nessa região estão situados em águas ultraprofundas, a cerca de 500 km da foz do Rio Amazonas e a 180 km do litoral do Amapá. A pesquisa dessas áreas segue rigorosos padrões ambientais, com avaliações técnicas detalhadas conduzidas pelos órgãos reguladores competentes. O objetivo é conhecer o potencial geológico da Margem Equatorial, uma nova fronteira exploratória offshore que pode contribuir para a segurança energética do Brasil", diz um trecho da nota.
"A transição para uma economia de baixo carbono é um processo gradual. O petróleo seguirá desempenhando um papel estratégico na matriz energética global até 2050, e reduzir sua exploração de forma abrupta, sem planejamento, pode gerar impactos econômicos e sociais significativos. Além disso, a exploração brasileira tem uma das menores pegadas de carbono do mundo, o que a torna uma alternativa mais sustentável frente à produção global", continua o MME.
De acordo com a pasta, se o Brasil deixar de explorar suas reservas de petróleo, poderá ficar dependente da importação nas próximas décadas, "resultando em perda de arrecadação e vulnerabilidade energética".
O jornal também entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O jornal permanece aberto para quaisquer manifestações do Ministério sobre o assunto.