Sobre o jantar de senadores emedebistas com Lula, Michel Temer disse ser normal diferenças de opinião em um partido do tamanho do MDB.| Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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O ex-presidente Michel Temer (MDB) defendeu nesta quinta-feira (14) a reforma trabalhista, considerada um dos legados do seu governo, depois que lideranças do PT indicaram que o partido vai propor a revogação da norma aprovada em 2018, caso volte ao poder em 2023.

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Em um evento com empresários em Curitiba, Temer disse que um retrocesso na legislação seria um “equívoco amazônico” que retiraria direitos adquiridos pelo trabalhador, a exemplo da regulação do trabalho em home office e a livre negociação do contrato de trabalho individual entre empregado e empregador.

Nesta quarta-feira (13), em reunião do PT que aprovou a indicação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lideranças da sigla sugeriram incluir expressamente a revogação da reforma trabalhista no programa da federação partidária que inclui também PV e PCdoB.

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Anteriormente planejava-se uma “revisão” da reforma trabalhista – algo que Lula já vinha falando em seus discursos –, mas houve um apoio total do partido para a troca por um termo mais incisivo. A mudança ainda terá que ser referendada pelos outros dois partidos da federação.

Temer também comentou à Gazeta do Povo sobre o cortejo do PT a lideranças emedebistas para apoiar a candidatura de Lula a presidente. No começo desta semana, o petista se reuniu com 12 senadores do MDB, entre outros políticos, em um jantar na casa do ex-senador e presidente do MDB do Ceará, Eunício Oliveira. O encontro foi visto como um movimento para rifar a candidatura ao Planalto da senadora Simone Tebet (MDB), apoiada por Temer.

“O MDB sempre teve essa divisão”, afirmou. “Muitas vezes as localidades é que determinam o apoio e muitas vezes os candidatos a governador, deputados e senadores percebem que naquele estado prevalece a candidatura de A ou B, então eles vão de acordo com o interesse local. Mas isso não acontece só no MDB, acontece com outros partidos também”.

Temer afirmou que ouviu do presidente nacional da sigla, Baleia Rossi – que o acompanhou no evento em Curitiba, nesta quinta –, que a grande maioria dos diretórios do MDB está apoiando o movimento de candidatura própria do partido. “Acima de 20 [diretórios estaduais] seguem a orientação da presidência do MDB”, afirmou. No jantar desta semana, Lula recebeu a sinalização de que contará com o apoio de 14 diretórios do MDB, nove em estados do Nordeste.

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Segundo o ex-presidente, a pré-campanha de Simone Tebet, que tenta se colocar como a candidata da terceira via do chamado “centro democrático” (MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania), está tentando sensibilizar lideranças emedebistas para que elas embarquem em seu projeto presidencial. “Ela tem feito contatos internos para conquistar o MDB por inteiro, pelo que sei. Naturalmente ampliando depois para fora do partido”, acrescentou Temer.

“Terceira via é homenagem ao eleitorado”, diz Temer

O ex-presidente defendeu a formação da terceira via – uma candidatura alternativa a Lula e ao presidente Jair Bolsonaro (PL) – como uma “homenagem ao eleitorado”, que terá mais uma opção aos “dois polos”. “As pesquisas [eleitorais] podem vir a consolidar-se, mas podem ser completamente diferentes amanhã. Temos que esperar o tempo passar”.

Ele acredita que, com o lançamento de uma única candidatura do grupo de “centro democrático”, haverá três ou quatro candidatos disputando a eleição presidencial em outubro. Caso isso não ocorra, haverá uma “atomização” dos votos das candidaturas de centro, o que seria vantajoso para Lula e Bolsonaro.

Ex-presidente defende pacificação do país

Ao falar com empresários de Curitiba no evento do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), Temer voltou a propor que o presidente eleito faça um “pacto nacional de reconstrução”.

“O candidato eleito deve, no dia da proclamação do resultado, pronunciar-se à Nação dizendo que é preciso pacificá-la. Para tanto, impõe-se pacto nacional reunindo os que o elegeram e a oposição, além de governadores, chefes de Poderes e sociedade civil”, escreveu recentemente em um artigo para o jornal O Estado de S. Paulo. Para ele, ao fazer isso, o novo governo terá mais condições de governabilidade.

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Apesar da preocupação, o ex-presidente não acredita que haja uma ameaça à democracia brasileira, independentemente de quem vencer as eleições de outubro. Para ele, a sociedade brasileira tem consciência democrática e as Forças Armadas não têm “o menor desejo” de repetir o golpe militar de 1964. “Não tem espaço para golpe”, concluiu.