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História

Revolta da Vacina: história de mortes e protestos no Brasil

A espera por uma vacina contra a Covid-19 reacendeu uma velha discussão sobre a obrigatoriedade da vacinação.

Até mesmo o presidente Jair Bolsonaro entrou na questão após afirmar que ninguém é obrigado a se imunizar. Isso deixou os ânimos ainda mais exaltados entre apoiadores e críticos de uma vacina que, na prática, ainda nem existe.

Só que essa não é a primeira vez na história do Brasil que a vacinação vira motivo para briga, inclusive no campo político.

Há pouco mais de 100 anos, a chamada Revolta da Vacina mexeu com a recém-proclamada República.

Mas quais as semelhanças e diferenças desse episódio histórico do começo do Século 20 com a pandemia que vivemos hoje? É o que vamos te mostrar no Gazeta Notícias (vídeo).

A história da Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina foi uma onda de protestos no Rio de Janeiro contra a obrigatoriedade da vacina contra a varíola.

O ano era 1904 e, na época, o Rio ainda era a capital da recém-proclamada república brasileira. Na prática, a Revolta da Vacina durou apenas seis dias: foi de 10 a 16 de novembro.

O motivo desse motim foi a questão da vacina: para tentar controlar a epidemia de varíola e febre amarela, o presidente Rodrigues Alves determinou a vacinação obrigatória da população.

Para incentivar a adesão dos brasileiros, o governo queria propor a exigência da vacina para quem fosse começar um novo emprego, na matrícula em escolas e até para quem fosse viajar ou se casar. E quem recusasse a imunização seria multado.

Só que nada disso foi aceito pela população, que começou a protestar. A principal queixa era que a vacina era de pouco confiável e os métodos de aplicação eram truculentos.

Muita gente viu a vacinação como uma violação moral e de privacidade. Tinha até quem alegava atentado contra a honra, já que as casas e os corpos seriam invadidos por desconhecidos.

Outros grupos achavam que a vacina era na verdade uma medida do governo para acabar com a população mais pobre.

O resultado foi um quebra-quebra generalizado no Rio de Janeiro que durou quase uma semana. Manifestantes entraram em conflito com a polícia e até o exército entrou na briga.

Em pouco tempo, a coisa já tinha fugido do controle, com o pessoal levantando barricada na rua e arrancando fio de luz, árvores e até combustor de gás.

Uma das imagens mais clássicas da revolta é justamente de um bonde tombado na Praça da República, no centro do Rio de Janeiro. Ao todo, mais de 20 foram destruídos.

No fim de tudo, mais de 900 pessoas foram presas e outras 30 morreram em meio aos vários confrontos. Além disso, 460 acabaram sendo deportadas para o Acre.

Só que, para entender essa loucura que foi a Revolta da Vacina, é preciso olhar para o que estava acontecendo no país na época.

É claro que o medo e a desconfiança com a vacina pesaram bastante, mas não foram as únicas razões para essa bagunça toda.

Nesse começo de século, o Rio de Janeiro era uma cidade vista como atrasada, especialmente em comparação a outras capitais da América do Sul, como Buenos Aires e Montevidéu.

Papel de Oswaldo Cruz

O fim da escravidão e a chegada de um grande número de imigrantes europeus fez crescer a população da cidade, mas sem ter um avanço na sua infraestrutura.

O resultado foi uma precarização do saneamento em várias regiões. Isso fez proliferar doenças como a varíola, a febre amarela e a peste bubônica, por exemplo.

Além disso, o presidente Rodrigues Alves queria reestruturar a região portuária da cidade para poder modernizá-la.

Para isso, seria preciso derrubar os cortiços da região para fazer a expansão. Muita gente foi despejada de casa e levada para os subúrbios ou mesmo para os morros em volta da cidade.

E uma das justificativas dadas para essa realocação foi justamente a questão sanitária, que foi personificada na figura do médico Oswaldo Cruz.

Ele adotou medidas que ajudaram no combate à varíola, febre amarela e peste bubônica. Isso incluía ações na casa das pessoas e em cortiços, o que só aumentou a insatisfação popular com o governo.

No meio disso tudo, alguns grupos políticos decidiram se aproveitar da confusão generalizada para tentar um golpe.

A república brasileira tinha sido criada há apenas 15 anos e ainda havia uma certa animosidade em alas do exército e da própria sociedade.

Assim, enquanto boa parte da população carioca protestava contra a vacinação obrigatória, alguns militares tentaram derrubar o presidente e assumir o governo.

Exército e rebeldes se enfrentaram, com vários feridos e alguns mortos, e a rebelião acabou sendo contida.

Diante de tanta briga por causa da vacina, o governo brasileiro decidiu voltar atrás e suspender a obrigatoriedade da imunização, o que ajudou a acalmar os ânimos.

Só que isso teve um preço: quatro anos depois, em 1908, o mesmo Rio de Janeiro sofreu com uma epidemia de varíola que matou quase 6400 pessoas.

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