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Jogo do poder

Como Rodrigo Maia construiu o “maiamentarismo”, elogiado da direita à esquerda

Como Rodrigo Maia construiu seu poder na Câmara dos Deputados
Rodrigo Maia (DEM-RJ) comemora, emocionado, sua reeleição para a presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2019: influência crescente. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abriu os trabalhos do ano legislativo de 2020 com um discurso que exalta a atuação dos parlamentares. “O Congresso está passando a ocupar um lugar que é seu por direito, como epicentro do debate e da negociação em torno das questões vitais para o desenvolvimento do nosso Brasil". Maia fala no coletivo, mas o protagonismo do Legislativo é reflexo da atuação individual dele.

O presidente da Câmara tem pautado a agenda nacional, conduzindo discussões no campo econômico e social, e busca influenciar a sucessão presidencial – recentemente, disse esperar que João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Luciano Huck (sem partido) “conversem” sobre uma candidatura do centro democrático. No primeiro ano do governo Bolsonaro, Rodrigo Maia trouxe sensatez ao debate político, abraçando causas cruciais para o Brasil, como a reforma da Previdência.

A influência política de Maia é tão incisiva que motivou a criação, pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, do neologismo “maiamentarismo” para se referir ao papel que o presidente da Câmara desempenha – uma espécie de parlamentarismo com o deputado do DEM como primeiro-ministro.

O que poderia ser visto como concentração excessiva de poder, e que é alvo de críticas nas redes sociais, não é interpretado como um problema entre os deputados. Ao contrário: os elogios a Maia se repetem da direita à esquerda.

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A capacidade de agregar parlamentares das diferentes correntes políticas é o fator mais citado pelos deputados como a explicação dos “superpoderes” que Maia detém atualmente.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) é da opinião que o presidente da Câmara representa um contraponto à gestão de Jair Bolsonaro, que ela chama de "governo de extrema-direita, fascista”. “Evidentemente, temos divergências com Rodrigo Maia, temos divergências com setores do centro. Mas está se buscando essa convergência no aspecto democrático, tanto que a pauta democrática tem sido tratada de maneira conjunta”, diz Alice.

No extremo oposto do campo ideológico, Daniel Silveira (PSL-RJ) expõe opinião semelhante: “Ele [Rodrigo Maia] tem feito bons acordos, evitado a polarização, tentado manter uma equidade nas votações. Ele tenta fazer o melhor nas votações”.

“Não existe radicalismo com ele”, declara Vitor Lippi (PSDB-SP). O parlamentar ressaltou que vê em Maia uma liderança que “consegue conviver bem com o centro, com a esquerda, com o pensamento liberal, com o pensamento social. Ele tem compromisso com a democracia. Isso é o mais importante”.

Deputados apreciam o Parlamento forte

O diálogo com diferentes setores e a defesa da instituição faz com que Rodrigo Maia tenha levado a Câmara a um patamar de fortalecimento visto em poucas ocasiões na história recente do país, segundo os deputados.

“Não existe vácuo em política. O Maia ganhou protagonismo num cenário novo em relação à política nacional brasileira. Qual o cenário novo? A eleição do Bolsonaro sem base parlamentar, sem um partido, tanto que é a primeira vez da história do Brasil que a gente tem um presidente que não tem partido, e que não tinha uma articulação política”, diz Gustavo Fruet (PDT-PR).

O deputado cita a aprovação da reforma da Previdência e a votação de outros projetos de importância para destacar a produtividade da Câmara em 2019 e atribuiu os méritos dos resultados a Maia: “Foi ele quem acabou liderando isso”.

Vitor Lippi acrescenta que a força do Legislativo sob Rodrigo Maia também se explica pela capacidade de a Câmara evitar crises. “O Parlamento tem dado um grande equilíbrio e um compromisso com as principais pautas do país. Diferente do governo, que muitas vezes cria polêmica e fatos que criam grande confusão e até insegurança”, destacou o tucano.

O deputado do PSDB disse concordar com um tipo de crítica comumente feita a Maia: a de que ele não teria uma personalidade marcada pela cordialidade. “Falta às vezes um pouco de simpatia a ele. Mas respeito não falta, porque ele soube conquistar e soube construir pela postura, pelo cumprimento dos compromissos que fez, com firmeza e clareza, e pela coragem de enfrentar temas que nem sempre são compreendidos por todos os brasileiros”, afirma Lippi.

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Mais um mandato para Rodrigo Maia?

Rodrigo Maia chegou à presidência da Câmara em julho de 2016, em uma eleição fora do habitual. A disputa foi realizada para suprir a vaga de Eduardo Cunha (MDB-RJ) – que, acusado de corrupção, tivera seu mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Sob a alegação de que a eleição de 2016 era uma “votação-tampão”, Maia pôde concorrer à reeleição de 2017 – as regras da Câmara determinam que um deputado não pode ser reeleito dentro de uma mesma legislatura, o que impediria nova candidatura de Maia. Mas ele disputou e venceu em 2017 e, em 2019, já na nova legislatura, novamente foi escolhido pelos deputados. Nas duas últimas votações, venceu em primeiro turno.

O desempenho positivo e o clima quase unânime em torno de sua gestão abriram especulações sobre uma possível alteração nas normas para permitir uma nova candidatura de Rodrigo Maia em 2021 – o que hoje é proibido. A movimentação também contemplaria o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), igualmente impedido de disputar o comando da Casa em 2021.

O deputado Gustavo Fruet define os rumores como “balão de ensaio” e critica a possibilidade de haver nova tentativa de reeleição de Maia. “O importante, para o institucional, não é o nome. Eu acho que o legado dele é a capacidade de indicar uma candidatura que possa representar esse novo momento”.

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