O impasse entre o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) e o DEM se encerrou nesta semana com a expulsão do parlamentar da legenda democrata. De olho em 2022, o deputado federal deve agora migrar para o PSD, legenda presidida pelo ex-ministro Gilberto Kassab e que recentemente recebeu a filiação do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, um dos principais aliados de Maia.
A derrocada de Maia dentro do DEM teve início no final do ano passado, depois que ele teve seus planos de se manter na presidência da Câmara por mais dois anos impedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na sequência viu seu então candidato Baleia Rossi (MDB-SP) ser derrotado por Arthur Lira (PP-AL), que era apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na véspera da eleição, o presidente do DEM, ACM Neto, retirou a legenda do bloco de Baleia Rossi, o que levou parte da bancada democrata a votar em Lira.
O revés acabou isolando Maia dentro do partido, que desde então passou a adotar um tom crítico em relação a ACM Neto. Ambos trocaram farpas e acusações públicas, e o racha acabou retirando o DEM das principais articulações que vinham sendo traçadas por Maia para a eleição presidencial de 2022.
Na esteira desse imbróglio, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acabou rompendo com ACM Neto e levou o vice-governador paulista, Rodrigo Garcia, do DEM para o PSDB. Aliado de Maia, Doria fez a movimentação numa tentativa de isolar o presidente do democrata da articulação para sua sucessão no governo estadual do ano que vem.
Após a decisão da Executiva do DEM pela sua expulsão, Rodrigo Maia reagiu por meio de suas redes sociais com duros ataques a ACM Neto. Na publicação o deputado comparou o ex-prefeito de Salvador com Tomás de Torquemada, um dos mais conhecidos nomes da inquisição católica na Europa. O inquisidor perseguiu ao longo de sua vida (1420 a 1498) aqueles que aparentavam não seguir os dogmas da igreja.
"Usando seu poder para tentar calar as merecidas críticas à sua gestão, tomou essa decisão. É lamentável o caminho imposto pelo Torquemada para o partido", escreveu Maia. Sem poupar adjetivos, o deputado fluminense se referiu a ACM Neto como uma pessoa desleal e sem caráter. "O partido diminuiu. Virou moeda de troca junto ao governo Bolsonaro", completou.
Aliado de Doria, mas próximo de Lula
Principal antagonista do presidente Jair Bolsonaro enquanto esteve à frente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia vinha desde meados do ano passado trabalhando pela construção de uma candidatura de centro para o Palácio do Planalto em 2022. Nesse campo, manteve articulações com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, até então seu correligionário no DEM, com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com o governador João Doria (PSDB) e até com o apresentador de TV Luciano Huck.
Com o isolamento dentro da sigla democrata, o entorno de Maia admite que ele acabou perdendo protagonismo nessas articulações, que posteriormente passaram a ser direcionadas por Mandetta dentro do partido. Segundo seus aliados, Maia mantém conversas com Doria sobre o projeto do tucano de disputar à Presidência no ano que vem e pode garantir palanque para o tucano no Rio de Janeiro.
A preocupação maior de Maia, porém, é derrotar Bolsonaro em 2022. Nem que para isso tenha que se aliar, mesmo que nos bastidores, a um candidato melhor colocado nas pesquisas de intenção de voto: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Essa aproximação com o PT já vem da disputa pela presidência da Câmara, quando Maia conseguiu convencer a bancada petista a apoiar Baleia Rossi. O partido resistia a um candidato do MDB, legenda do ex-presidente Michel Temer, acusado pelos petistas de "tramar o golpe" que desembocou no impeachment de Dilma Rousseff. Mas o então presidente da Câmara conseguiu contornar esse problema.
Com a volta de Lula ao xadrez político, Maia estreitou ainda mais os laços com petistas e passou a articular com o ex-presidente para 2022. A costura de ambos passa pela candidatura do deputado Marcelo Freixo, que recentemente deixou o Psol e migrou para o PSB, para disputar o governo do Rio de Janeiro.
Além do apoio de Lula e do PT, Freixo entrará na disputa pelo governo estadual em uma aliança que terá o apoio de Maia, do prefeito Eduardo Paes e de outras legendas de centro, como PSD e MDB. O grupo vê nessas costuras uma possibilidade de derrotar o atual governador Claudio Castro (PL), que tentará a reeleição com o apoio do clã Bolsonaro.
Na recente passagem de Lula pelo Rio de Janeiro, Rodrigo Maia se encontrou com Lula em uma reunião a portas fechadas na sede da prefeitura da capital fluminense. Além dos dois, o prefeito Eduardo Paes e a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) estiveram no encontro.
Segundo integrantes do PT, Maia se ofereceu para ajudar Lula na construção do plano de governo e na reaproximação do petista com o mercado financeiro. Petistas admitem que aproximação seria estratégica tendo em vista que a aliança poderia trazer aliados de centro que hoje resistem ao nome do ex-presidente petista.
A movimentação, no entanto, esbarra nas articulações feitas pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, que tem defendido que seu partido terá um nome próprio para o Palácio do Planalto no ano que vem. Apesar disso, integrantes da legenda que deverá abrigar Maia admitem nos bastidores que hoje o único nome com projeção nacional é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, cuja articulação feita até o momento visa uma candidatura ao governo de Minas Gerais e não à presidência.
Futuro político de Rodrigo Maia é incerto
Apesar de contar com o prestígio de diversos setores políticos, Rodrigo Maia admite aos seus interlocutores que não tem projeção para disputar um cargo majoritário em 2022. Neste cenário, o ex-presidente da Câmara tem sinalizado que ainda não definiu se irá tentar renovar seu cargo de deputado federal no ano que vem.
Uma possibilidade ventilada por Maia seria encampar algum ministério em Brasília, caso o presidente Bolsonaro não se reeleja, ou ainda uma secretária na prefeitura ou no governo do Rio de Janeiro a partir do ano que vem. Aliados, no entanto, tem defendido que a manutenção do mandato de deputado seria um melhor caminho para que o ex-presidente da Câmara não caia no desprestígio político.
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