As eleições para a presidência da Câmara e do Senado vão ocorrer apenas em fevereiro de 2021, mas deputados e senadores já trabalham nos bastidores para viabilizar nomes para os cargos. No Senado, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar a reeleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para o cargo embaralhou o cenário, uma vez que o atual presidente da Casa dava como certa a sua reeleição no ano que vem. Desde a decisão do STF, Alcolumbre articula para emplacar um sucessor na presidência do Senado: o líder do DEM na Casa, Rodrigo Pacheco (MG). Mas o nome dele é questionado dentro das maiores bancadas.
Em um movimento para fazer frente ao candidato de Alcolumbre, o MDB, maior bancada do Senado, decidiu lançar um candidato único à sucessão.A legenda tem 13 integrantes e buscará aliança com outros partidos. Um dos focos é o Podemos, que tem 10 senadores e faz oposição interna ao atual ocupante da cadeira.
Para alguns senadores, Alcolumbre praticamente tirou Pacheco do "bolso" após ser impedido de tentar a reeleição. "O Senado não pode ser um apêndice do Executivo. Não ter proporcionalidade significa transformar o Senado em um balcão de negócios", afirmou Simone Tebet (MDB-MS), que disputa a indicação do MDB à sucessão.
Quem é Rodrigo Pacheco
Aos 44 anos, formado em Direito, Rodrigo Pacheco está na primeira legislatura no Senado. Antes, havia sido deputado federal.
Pacheco é o que pode ser dito um fenômeno da política. Em sua primeira eleição, em 2014, foi eleito deputado federal por Minas Gerais. Chegou a coordenar a bancada do MDB, seu partido à época, e presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, considerada a mais importante.
Em sua segunda eleição, em 2016, disputou a prefeitura de Belo Horizonte, tendo ficado em terceiro lugar.
Um ano depois, presidindo a CCJ da Câmara, articulou nos bastidores para atrasar as votações das denúncias contra o ex-presidente Michel Temer, a fim de dar tempo para o emedebista se articular e evitar sua cassação. Um dos argumentos usados por Pacheco para atrasar o processo foi, por exemplo, que enfrentava dificuldades para escolher o relator.
Pacheco deixou o MDB em 2018 para se filiar ao DEM, como pré-candidato ao governo de Minas Gerais. No meio do caminho, a candidatura foi abortada e ele acabou concorrendo ao Senado. Venceu a disputa.
Como os senadores veem Rodrigo Pacheco
Para alguns senadores, Rodrigo Pacheco é considerado imaturo para o cargo e há desconfiança de que ele usaria o posto para se alçar à disputa pelo governo de Minas Gerais em 2022.
Por outro lado, aliados o apontam como alguém que iria conseguir manter a ponte construída por Alcolumbre com o Palácio do Planalto e facilitar a demanda de colegas com o governo.
Segundo reportagem do jornal O Globo, Pacheco se reuniu na véspera de Natal com Bolsonaro e se comprometeu em ajudar o governo em reformas prioritárias do Palácio do Planalto, além de garantir “estabilidade política”.
Ainda segundo o jornal, entre pessoas próximas a Alcolumbre, o cálculo é que Pacheco tem atualmente o apoio de cerca de 25 senadores. Para conseguir se eleger, ele precisará de pelo menos 41 votos.
Vitória em nomeação para ANTT
Herdeiro de empresas de transporte rodoviário, Rodrigo Pacheco emplacou recentemente um assessor de seu gabinete como diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Na prática, ele terá uma pessoa dentro do órgão que tem como atribuição regular empresas como as de sua família.
Indicado para a vaga, o ex-deputado estadual Arnaldo Silva Júnior (DEM-MG) não tem qualquer experiência no setor. Ele é advogado por formação e atualmente é funcionário comissionado do gabinete do seu colega de partido.
Pacheco afirmou que cabe ao Ministério da Infraestrutura "identificar os nomes aptos à função" e negou ter influenciado na escolha. "A indicação de Arnaldo Silva Júnior é uma recomendação do Ministério da Infraestrutura e decorre do seu currículo e da sua qualificação, inclusive no âmbito do direito administrativo", disse, em nota.
Sobre a indicação, o ministério afirmou que "indicações para qualquer cargo seguem a orientação do governo federal de considerar perfis técnicos e de comprovada capacidade de gestão". O próprio ministro, contudo, reconheceu se tratar de indicação política.
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