A agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, sofreu abalos dentro do governo em função da pandemia do coronavírus. E um personagem é fundamental nesse processo de desgaste dessa agenda: o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
Na Esplanada dos Ministérios, Marinho sempre atuou em favor da austeridade fiscal. Tanto que ele possui como legado as articulações políticas em prol da reforma da Previdência e, quando era deputado federal, trabalhou em favor de outras pautas liberais como o teto de gastos, aprovado no governo Michel Temer (MDB). Agora, ao defender a flexibilização de gastos dentro do governo, Marinho mudou essa postura. Por conta disso, o ministro recebeu o apelido de “fura-teto” por colegas e integrantes do governo. Além disso, empresários aliados de Paulo Guedes temem o que eles chamam de “risco Marinho”, que seria a possibilidade de expansão do gasto público por meio de obras de infraestrutura. O receio do mercado é que Marinho lidere um programa de obras semelhante ao financiado pelo PT, que abriu brechas para o maior esquema de corrupção da história, desarticulado pela Lava Jato.
Marinho, por sua vez, defende-se das críticas. “Eu sou a mesma pessoa que votou o teto de gastos. Eu sou aquela pessoa que sempre teve responsabilidade fiscal, mas estamos vivendo em um momento de excepcionalidade. O teto já foi ultrapassado em mais de R$ 600 bilhões em função de uma calamidade que estamos atravessando”, declarou o ministro na sexta-feira passada (14), à Rádio Jovem Pan.
O ministro Rogério Marinho foi deputado federal por três mandatos (2007 a 2019), mas não conseguiu se reeleger nas últimas eleições. Na Câmara, atuou especificamente em matérias de caráter econômico, como reformas no sistema tributário e foi relator da Comissão Especial da Reforma Trabalhista, em 2017. No início de 2019, assumiu a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Brasil, onde foi peça fundamental para a aprovação da reforma previdenciária e agora está à frente do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), pasta com orçamento anual de R$ 12,5 bilhões. Oficialmente, Marinho não fala sobre seu futuro político. Mas ele vem se articulando para se candidatar ao governo do Rio Grande do Norte, em 2022.
Rogério Marinho e Paulo Guedes: antes amigos, hoje, inimigos
Aliados no início do governo, Guedes e Marinho agora são vistos como inimigos segundo fontes do Palácio do Planalto. Por trás do desconforto mútuo, está uma disputa interna entre visões de governo. Guedes defende um estado liberal, mesmo em momentos excepcionais; Marinho, defende que o Estado precisa intervir em situações como essa. O presidente Bolsonaro coaduna com esta segunda visão. A ala militar, idem. Por isso, Guedes vem perdendo espaço dentro do governo.
Além disso, há um outro componente que fortalece o ministro do Desenvolvimento Regional. Ele é aliado dos deputados do centrão e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia sempre teve relações protocolares com Guedes. Hoje, de acordo com líderes da Câmara, o fortalecimento de Marinho dentro do governo é visto como uma vitória para Maia. “Nunca convide para o mesmo ambiente o economista Cláudio Adilson Gonçalez e o Paulo Guedes. Ambos são inimigos mortais. E o professor Cláudio Adilson é aliado de Maia, não de Guedes”, contextualizou um deputado do DEM ligado ao presidente da Câmara em caráter reservado à Gazeta do Povo.
Militares não querem perder Guedes
Apesar do fortalecimento de Marinho dentro do governo, a tensão com Guedes preocupa auxiliares e aliados do presidente da República. Se Marinho é visto como homem que pode ajudar Bolsonaro a se reeleger, Guedes ainda detém a credibilidade necessária para ajudar a impulsionar a economia. E, internamente, é ponto pacífico no Palácio do Planalto que a expansão de obras e de programas sociais somente será sustentável com uma economia saudável. Além disso, depois da saída do ex-ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça, os militares sabem que não podem se dar ao luxo de perder Guedes. Moro e Guedes representavam os pilares do governo. O primeiro, no combate à corrupção. Guedes, na economia. “O ministro Rogério Marinho está dando a sua contribuição ao governo, isso é inegável”, afirmou o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
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