O presidente Jair Bolsonaro deu posse nesta segunda-feira (4) ao novo diretor-geral da Polícia Federal (PF). O nome escolhido foi o do delegado Rolando Alexandre de Souza, secretário de Planejamento e Gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que substitui o já exonerado Maurício Valeixo.
Souza é considerado o braço-direito do diretor da Abin, Alexandre Ramagem, que havia sido inicialmente nomeado para a chefia da PF por Bolsonaro, mas que teve o nome vetado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A nomeação de Souza é vista como uma tentativa do presidente de driblar a decisão do STF. Atendendo a um pedido do PDT, Moraes barrou a nomeação de Ramagem para o comando da PF alegando desvio de finalidade e afronta ao princípio constitucional da impessoalidade no serviço público. Ramagem é amigo da família Bolsonaro, especialmente de Carlos Bolsonaro, filho "02" do presidente da República. A decisão foi criticada por Bolsonaro, que disse não ter engolido a determinação de Moraes.
Neste domingo (3), ao participar de uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto, o presidente voltou a falar sobre o assunto. “Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana porque chegamos no limite, não tem mais conversa. Daqui para a frente não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço”, disse, ao anunciar que nomearia o novo diretor-geral da PF.
Currículo do novo diretor-geral da PF
Rolando Alexandre de Souza é delegado da Polícia Federal e foi superintendente da PF em Alagoas de março de 2018 até setembro do ano passado, quando assumiu a secretaria na Abin a convite de Ramagem.
Começou a carreira em Rondônia, onde atuou no setor de repressão a crimes financeiros, além de ter sido corregedor da corporação no estado. Souza também assumiu cargos na PF em Brasília, onde foi chefe do Serviço de Repressão a Desvios de Recursos Públicos.
Em 2007, chefiou a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) em Rondônia. O novo diretor-geral da PF fez colégio militar e ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), mas não concluiu o curso. Rolando optou pelo concurso da Polícia Federal e entrou na corporação em 2006.
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) divulgou nota sobre a nomeação de Rolando afirmando que ele é “um nome técnico e preparado para assumir a missão em um momento de muitos desafios”.
O comunicado diz ainda que “a Federação não se furtará à defesa intransigente dos trabalhos de investigação da Polícia Federal e de todos os policiais federais, buscando sempre a melhoria e independência das investigações criminais em nosso país”.
Rolando toma posse às pressas
O presidente Jair Bolsonaro deu posse às pressas ao novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, na manhã desta segunda. A posse de Rolando ocorreu às 10 horas, cerca de meia hora depois de a nomeação ter sido publicada em edição extra do Diário Oficial da União. Sem divulgação antecipada nem convidados, a pequena cerimônia durou apenas 20 minutos no gabinete de Bolsonaro no Palácio do Planalto. Estiveram presentes sete ministros, entres os quais André Luiz Mendonça, da Justiça e Segurança Pública, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores.
Alexandre Ramagem não esteve presente. Ao chefe da Abin, é atribuída a indicação de Rolando. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, a nomeação de Rolando é vista como uma alternativa do presidente para manter a influência de Ramagem, que é próximo à família Bolsonaro, na PF.
Rolando deixou o Palácio do Planalto por volta das 11h30 e não quis falar com a imprensa. Afirmou apenas que seguia para a sede da Polícia Federal. “Assinei o termo de posse. Estou indo lá para a PF”, disse ao ser abordado por repórteres.
Nas redes sociais, Rolando cumprimentou Bolsonaro pela escolha: "Agradecemos a confiança a nós depositada, sabemos da importância do cargo e compromisso que assumimos a partir de hoje, mas não mediremos esforços para cumprir nossa missão junto ao Governo e o Brasil!", escreveu.
As preocupações do presidente
A nomeação de Ramagem — e agora de alguém muito próximo a ele — levantou a suspeita de que o presidente da República planeja interferir em ações da Polícia Federal. A acusação foi feito pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que se demitiu da pasta ao desaprovar a escolha de Ramagem à sua revelia para comandar a PF.
O presidente está preocupado com o avanço do inquérito das fake news no STF, que poderia atingir seus filhos e até mesmo servidores que atuam no chamado ‘gabinete do ódio’. A investigação identificou empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros do Supremo nas redes sociais.
Há ainda outro inquérito aberto por determinação do ministro Alexandre de Moraes para apurar a organização de atos antidemocráticos, após Bolsonaro participar de protesto em Brasília convocado nas redes sociais com mensagens contra o STF e o Congresso.
Outra apreensão do presidente é a apuração sobre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) que trata de um esquema de ‘rachadinha’ em seu antigo gabinete, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
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