Em meio às discussões no Congresso sobre a inclusão ou não de estados e municípios na reforma da Previdência, um levantamento do Tesouro Nacional reforça a necessidade de mudar as regras nos sistemas previdenciários de todos os entes federativos. O rombo nos regimes previdenciários estaduais custou R$ 101,3 bilhões aos cofres públicos em 2018, 8% a mais que no ano anterior. Esse foi o montante que os estados tiveram de injetar para cobrir os déficits de seus respectivos regimes de Previdência.
Desde 2015, ano em que se inicia a série divulgada pelo Tesouro Nacional, o valor vem crescendo. Naquele ano, o custo da Previdência para os estados foi de R$ 74,1 bilhões. Em 2016, o valor cresceu cerca de 11% e chegou a R$ 82,2 bilhões.
INFOGRÁFICO: O custo dos regimes de Previdência para os Tesouros estaduais
Em 2017, o rombo dos regimes previdenciários aumentou 14% e obrigou os estados a injetar R$ 94 bilhões. E no ano passado, pela primeira vez, o custo da Previdência para os contribuintes dos estados ultrapassou a casa dos R$ 100 bilhões.
Segundo o levantamento, 18 estados tiveram de aumentar, de 2017 para 2018, o repasse para cobrir o rombo. Em termos relativos, a maior alta ocorreu no Piauí, onde o poder público local teve que aportar R$ 1,406 bilhão para cobrir o déficit do regime previdenciário, valor 208% superior ao transferido em 2017.
Em seguida, aparece Tocantins, em que o Tesouro Nacional gastou R$ 549 milhões com o rombo da Previdência em 2018, frente os R$ 214 milhões gastos em 2017, uma alta de 156%. Os outros 16 estados tiveram uma alta inferior a 100%.
Em valores nominais, o estado que mais fez repasse de dinheiro foi São Paulo, tendo aportado R$ 24,1 bilhões para cobrir o rombo. Ele é seguido por Minas Gerais (R$ 17,4 bilhões), Rio de Janeiro (R$ 12,3 bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 11,1 bilhões).
Por outro lado, sete estados – Amapá, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Rondônia e Sergipe – e o Distrito Federal reduziram os repasses aos sistemas previdenciários.
Segundo o Tesouro Nacional, essas quedas ocorreram em razão da extinção do plano de Previdência capitalizado e/ou pela utilização, pelos estados, de suas reservas no plano deficitário. Ainda assim, milhões ou bilhões tiveram que ser repassados, mesmo com a queda na comparação anual.
Goiás é o único estado onde praticamente não houve variação no repasse. Foram R$ 2,613 bilhões em 2017 e R$ 2,623 bilhões em 2018.
Sistema é insustentável, diz governo federal
Segundo o Tesouro Nacional, o crescimento de 8% no custo dos regimes previdenciários estaduais para os cofres públicos locais demonstra a insustentabilidade do sistema.
“Tal crescimento é indício do problema da insustentabilidade dos regimes de previdência estaduais, tendo em vista o consumo cada vez maior de recursos financeiros, que poderiam estar sendo direcionados para atender e ampliar os serviços básicos exigidos pela sociedade”, afirma o relatório.
O Tesouro Nacional aproveita o levantamento para sair em defesa da inclusão de estados e municípios na reforma da Previdência. Com ela, diz, os estados poderiam encontrar a "trajetória de equilíbrio fiscal”, ou seja, começar a colocar as contas públicas em ordem.
O órgão vinculado ao ministério da Economia diz ainda que, mesmo que a proposta de reforma ainda esteja em discussão no Congresso, os governos locais já podem ir articulando para implementar medidas que corrijam distorções que agravam o déficit previdenciário, como a aposentadoria com salário integral.
“Mais, os entes subnacionais são grandes prestadores de serviços essenciais à população, como educação fundamental e média, atendimento à saúde e segurança pública. A economia gerada com a reforma pode impulsionar a melhoria e a amplitude da prestação desses serviços, beneficiando toda a sociedade, de forma geral”, conclui o Tesouro Nacional.
PEC Paralela
A inclusão de estados e municípios será discutida na proposta de emenda à Constituição (PEC) paralela da reforma da Previdência. A criação dessa PEC Paralela foi sugerida pelo relator da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE), e acatada pelos seus pares.
O que aconteceu é que a proposta original do governo previa a aplicação automática das regras da reforma da Previdência para estados e municípios, com somente a definição das alíquotas passando pelas assembleias locais. A aplicação automática acabou sendo retirada pelo relator da proposta na comissão especial da Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), devido à falta de acordo com governadores do Nordeste.
Com isso, a solução encontrada pelo Senado foi propor a reinclusão em uma nova PEC, que ficou apelidada de PEC Paralela, já que incluir estados e municípios na proposta original faria todo o texto ter de voltar a Câmara. Essa PEC tem tramitação independente da PEC principal. Enquanto a principal poderá ser promulgada assim que aprovada no Senado, a paralela ainda terá de passar pela Câmara.
A PEC Paralela autoriza a aplicação das novas regras de Previdência para estados e municípios, mediante aprovação de lei ordinária de iniciativa do governador ou prefeito. Caso um estado aprove a aplicação das novas regras, a adoção também terá de ser feita automaticamente pelos municípios daquele estado. O município só poderá reverter caso aprove, em até um ano, lei de iniciativa do prefeito.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF